
A história de Marcelo D2, um dos maiores rappers brasileiros

A história de Marcelo D2, um dos maiores rappers brasileiros
Hoje no site da Novabrasil vamos conhecer um pouco mais a fundo a trajetória de vida e a obra do artista


O rapper, cantor e compositor carioca Marcelo D2 é um dos maiores rappers da história do nosso país e hoje nós vamos conhecer um pouco mais a fundo a trajetória de vida e a obra do artista.
Sobre Marcelo D2
Nascido Marcelo Maldonado Gomes Peixoto, no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Marcelo D2 foi morar em Maria da Graça e com nove anos mudou-se para o Andaraí, perto do morro. Flamenguista de coração, o artista conta que desde cedo teve que aprender algumas lições e também a se virar, por conta da violência e falta de acesso dos bairros em que viveu.
Desde sempre um grande militante pela descriminalização da maconha, o rapper ficou conhecido como Marcelo D2 por conta da expressão “dar um 2”, que significa dar dois “pegas” no baseado e passar adiante, sem ser fominha.
Depois de se casar aos 19 anos, ir morar no Paraná e virar pai do seu primeiro filho, Stephan, aos 24, Marcelo D2 voltou ao Rio de Janeiro, trabalhando como vendedor e artesão de camisetas de rock.
Em 1992, ele estava andando pelas ruas do bairro do Catete, usando uma camiseta da banda americana de punk rock Dead Kennedys e encontrou o músico carioca Luís Antônio da Silva Machado, conhecido como Skunk, que falou:
- “Aí… você gosta de Dead Kennedys? Então toma essa fita aqui. Amanhã você me devolve.”
Era uma fita cassete de uma banda chamada Dread Flintstones. Desse diálogo sem pretensão, nasceu uma amizade e uma das principais bandas da história do Brasil.
“O Skunk falava de música o tempo todo. Me levou na Rua 13 de Maio, conheci a galera lá, que me mostrou uns sons, botou pilha. Aí eu resolvi: ‘Ah, vou deixar de ser vagabundo, quero ser músico.'”, conta D2.
Antes de fundar o Planet Hemp junto com D2, Skunk já sabia que estava com AIDS.
Em uma época em que ainda não haviam tratamentos efetivos para a doença, Skunk faleceu em junho de 1994, algo que marcou profundamente a vida e a carreira de Marcelo D2, que criou o “Selo Positivo”, para ajudar no tratamento de crianças portadoras do vírus HIV.
Skunk era o vocalista do grupo no início da década de 1990, mas mesmo com uma verdadeira legião de fãs, a banda circulava apenas no circuito alternativo carioca. Ele infelizmente não presenciou a dimensão que o Planet Hemp iria ganhar.

O Planet Hemp
Nesta época, já estavam na banda – além de D2 nos vocais – o guitarrista Rafael Crespo, o baixista Formigão e o baterista Bacalhau, quando – em 1995 – a entrada de BNegão levou ao lançamento do primeiro álbum do Planet Hemp, “Usuário”, dedicado a Skunk, vendendo 380 mil cópias.
O trabalho apresentou uma das primeiras bandas a trazer o autêntico hip hop feito no Brasil. O som era pesado, cercado de brasilidade, carioquice e com letras que discutiam a discriminação da maconha, a violência policial e a liberdade de expressão.
Esse disco projetou a banda, emplacando alguns sucessos entre o público jovem, como:
- Mantenha o Respeito (D2 e Rafael Crespo)
- Legalize Já (D2 e Rafael Crespo)
- Porcos Fardados (D2 e Rafael Crespo)
- Fazendo a Cabeça (Marcelo D2, Rafael Crespo, Formigão e Bacalhau)
O segundo disco, “Os Cães Ladram mas a Caravana Não Pára”, de 1997, ultrapassou o anterior em 500 mil cópias, e já tinha uma temática mais abrangente, com uma visão social, abordando as chacinas e a violência policial no Rio de Janeiro.
O disco também já sinalizava novos rumos. Na música “Hip Hop Rio” (de D2 e Crespo), por exemplo, Marcelo canta “Sou do samba/ Sou do reggae/ Sou do soul/ Mas também sou do hip hop”.
Outro sucesso do álbum é a canção “Queimando Tudo” (D2, Black Alien e Zé Gonzalez).
No início do Planet Hemp, o parceiro Skunk tinha a ideia de fazer letras em inglês, como era a onda na época, mas Marcelo exigiu o português: “Eu gosto de usar tênis importado e camisa do Mengão, gosto de um pagodinho, de fazer hip hop falando “cumpadi”, tá ligado? Não posso esconder que gosto de Beth Carvalho.”
Célebre por misturar o samba com o rap e a black music, D2 fez várias parcerias com alguns artistas de outros gêneros da música brasileira, como João Donato, Marcos Valle, Zeca Pagodinho e Alcione.

A carreira solo
Em 1998, Marcelo D2 deu um tempo do grupo gravou o seu primeiro álbum solo: “Eu Tiro É Onda”, que mistura samba e hip hop. Essa fusão, porém, só seria reconhecida e consagrada em 2003, com o lançamento do álbum “À Procura da Batida Perfeita”, seu segundo álbum em carreira solo.
Desse disco, vieram então os sucessos:
- A Procura da Batida Perfeita( parceria com David Corcos)
- Qual É (parceria com David Corcos)
- A Maldição do Samba (parceria com Zé Gonzales)
- Loadeando (parceria com Marechal, cantada com o seu filho Stephan)
- Vai Vendo (parceria com Mário Caldato)
- C. B. Sangue Bom (parceria com Will.I.Am e David Corcos, com participação do rapper norte-americano)
O disco também foi lançado na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia; por conta disso, D2 fez cinco turnês na Europa, apresentando-se nos maiores festivais do continente, como “Wonex”, “Montreux”, “Roskilde” e “Reading”, e em casas de show tradicionais, como o “Cité de la Musique”, em Paris. O rapper conquistou todos os prêmios e foi eleito o melhor letrista popular de 2004, pela Academia Brasileira de Letras
Entre os dois discos solo de Marcelo, o Planet Hemp ainda lançou, em 2000, “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça”, queenfrentoualgumas confusões devido ao conteúdo das letras.
Veja também:
Deste álbum, destaca-se a faixa “Contexto” (Marcelo D2, BNegão, Black Alien, Zé Gonzalez e Rafael Crespo), com participação de Marcos Valle e citação da canção “Mentira” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle).
A canção que dá nome ao álbum foi composta por D2 e Crespo em parceria com Seu Jorge e Ganja. “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça” enfrentoualgumas confusões devido ao conteúdo das suas letras.
Nessa época, o cerco em torno da abordagem da temática tratada nas canções do Planet Hemp já vinha se fechando. Em 1997, o grupo chegou a ficar na cadeia por uma semana, em Brasília.
Depois de um “MTV ao Vivo” com a banda, em 2001, Marcelo D2 deixou o Planet Hemp para dedicar-se somente à carreira solo. Em 2004, lançou seu próprio “Acústico MTV”.
Um de seus maiores sucessos da carreira solo, a música 1967, é do primeiro álbum da carreira de D2, mas foi toda remontada com base na mistura de rap com samba para esse álbum ao vivo, e conta a história de sua vida, inspirada na canção “Espelho”, do sambista João Nogueira, um dos maiores ídolos de D2, ao lado de Bezerra da Silva.
Seu terceiro álbum solo de estúdio é “Meu Samba É Assim”, de 2006, cujas canções contêm letras autobiográficas, mostra que – além do samba e do hip hop – D2 tem uma diversidade de influências de diferentes vertentes do rap, além de diversas participações de peso.
Durante muitos meses, Marcelo recebeu uma quantidade enorme de bases de diferentes DJs de todo o país. Segundo as palavras dele mesmo: “O grande diferencial desse disco é porque depois que eu ouvi mais de cem músicas, eu escolho essas quinze e ainda ficou muita coisa boa de fora (…) Esse disco é muito mais autobiográfico (…) Todo clássico do rap vem na primeira pessoa”.

Trabalhos mais recentes e encontros com o Planet Hemp
Em 2008, D2 lançou seu quarto disco, “A Arte do Barulho”, mantendo a mescla de hip hop e samba e trazendo também o rock. Destaque para a faixa “Desabafo” (de Marcelo D2 e Nave), com citação da canção “Deixa eu Dizer” (de Ivan Linse Ronaldo Monteiro De Souza).
Depois, em 2010, foi a vez de “Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva”, um disco de versões do grande sambista.
Em 2013, lançou “Nada Pode Me Parar”, álbum que inclui samples de vários artistas, como Milton Nascimento, Ivan Lins e Raul Seixas, além de uma participação do filho Stephan.
Em 2018, foi a vez de “Amar é Para os Fortes”, álbum que traz a participação de Gilberto Gil, Alice e Danilo Caymmi e Rincon Sapiência.
Em 2020, o álbum “Assim Tocam Meus Tambores”, foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Seu álbum solo mais recente é “Iboru”, de 2023.
Marcelo D2 também fez muitas parcerias com pessoas que fazem batidas de música eletrônica com a boca, popularmente conhecido como beatbox, como principalmente Fernandinho BeatBox, que participou de vários dos seus shows.
Depois de encontros pontuais em shows únicos em 2010, 2012 e 2013, o Planet Hemp voltou a se reunir com mais frequência em 2015.
Em 2018, ano em que a banda completou 25 anos do seu primeiro show, o escritor e jornalista Pedro de Luna lançou o livro “Mantenha o Respeito”, uma biografia do Planet Hemp.
No ano seguinte, chegou ao cinema “Legalize Já – Amizade Nunca Morre”, contando a amizade entre Skunk e Marcelo D2.
Em 2022, depois de 20 anos do último álbum de estúdio, a banda lançou “Jardineiros”, disco com o qual venceu duas categorias do Grammy Latino 2023: Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa, com a faixa “Distopia” (de BNegão, Marcelo D2 e Nave, com participação de Criolo) e Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Com 15 faixas inéditas, o álbum ganhou uma versão extendida, com 20 faixas, em 2023: “Jardineiros, a Colheita”.