
Especial: 20 anos sem Bezerra da Silva

Especial: 20 anos sem Bezerra da Silva
Entenda a importância do cantor, compositor e instrumentista para a música popular brasileira


Há exatamente 20 anos, em 23 de fevereiro de 2005 o Brasil perdia um dos seus principais expoentes do samba: o cantor, compositor e instrumentista pernambucano Bezerra da Silva.
Bezerra nos deixou órfãos de seu talento,por conta de problemas pulmonares, aos 77 anos de idade.
A importância de Bezerra da Silva para a MPB
Nascido no Recife (PE), em uma família muito pobre, Bezerra da Silva viveu muitos anos à margem da sociedade, passando por diversas dificuldades, até lançar o seu primeiro disco, aos 48 anos. O pai abandonou a mãe ainda grávida e – aos 15 anos, depois de ser expulso da Marinha Mercante – o menino viajou de Recife para o Rio de Janeiro em um navio que carregava açúcar, apenas com a roupa do corpo, para procurar o pai e fugir da pobreza.
Passou a trabalhar na construção civil e como pintor de paredes e morava na obra em que trabalhava, até mudar-se para um barraco no Morro do Cantagalo. Boêmio, Bezerra da Silva foi detido pela polícia mais de 20 vezes, ficou desempregado e chegou a morar por anos nas ruas do Rio de Janeiro e até tentar o suicídio, até ser acolhido por um terreiro de umbanda, onde descobriu sua mediunidade e soube que o seu destino era a música.
Começou a se desenvolver como músico, a partir do coco de Jackson do Pandeiro, e logo ingressou na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo, tocando tamborim. Em 1950, conheceu Doca, também morador do Morro do Cantagalo, que o convidou para participar do Programa da Rádio Clube do Brasil, como ritmista: além do tamborim, Bezerra da Silva tocava surdo e instrumentos de percussão em geral.

Com o nome artístico José Bezerra, teve suas primeiras composições – “Acorrentado” e “Leva Teu Gereré”, em parceria com Jackson do Pandeiro – lançadas no primeiro álbum da carreira do paraibano, em 1959.
Na primeira metade da década de 1960, ingressou na orquestra da gravadora Copacabana Discos, que acompanhava vários artistas de renome, e também teve novas composições, assinadas com outros músicos, gravadas por Jackson do Pandeiro, como:
- Meu Veneno (parceria com Jackson do Pandeiro e Mergulhão)
- Urubu Molhado (com Rosil Cavalcanti)
- B-a-bá (com Mamão e Ricardo Valente)
- Criando Cobra (com Big Ben e Odelandes Rodrigues)
- Preguiçoso (com Jackson do Pandeiro).
Em 1965, a cantora Marlene gravou “Nunca Mais”, uma parceria de Bezerra com Norival Reis. Em 1967, Bezerra compôs seu primeiro samba, chamado “Verdadeiro Amor”, que foi gravado por Jackson do Pandeiro naquele ano.
Bezerra da Silva estudou violão clássico por oito anos e passou outros oito anos tocando na orquestra da Rede Globo, sendo um dos poucos partideiros que lia partituras.
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No final daquela década, mudou o nome artístico para Bezerra da Silva e, em 1969, gravou o seu primeiro compacto simples, com as músicas “Mana, Cadê Meu Boi” (parceria dele com Jorginho) e “Viola Testemunha” (parceria com Almir Delfino e Jorge Garcia).
Mas Bezerra só viria a gravar um disco próprio muitos anos depois, em 1975, que levou o nome de “O Rei do Coco” e ganhou um Volume 2, em 1976, com destaque para a faixa “Cara de Boi” (parceria com Dicró).
Em seus quase 50 anos de carreira, o cantor, compositor, violonista e percussionista pernambucano, dos gêneros musicais coco e samba – em especial de partido-alto – cantou de forma magistral sobre o abismo social das favelas, dos morros e da população marginalizada e vendeu mais de três milhões de discos.
Mesmo ganhando 11 discos de ouro, três de platina e um de platina duplo – dentro dos seus 28 álbuns lançados – Bezerra da Silva nunca foi reconhecido o bastante pelo mainstream.
No fim de sua vida, lá pelos anos 2000, Bezerra da Silva participou de canções com Planet Hemp, Rappin’ Hood, O Rappa e outros nomes da música brasileira da atualidade na época. Marcelo D2 gravou um disco inteiro em homenagem ao sambista, em 2010, resgatando sua obra e importância.