
Especial: 50 anos sem Lupicínio Rodrigues

Especial: 50 anos sem Lupicínio Rodrigues
No dia 27 de agosto de 1974, o Brasil se despedia de um dos maiores representantes da MPB. Site da Novabrasil preparou especial sobre Rei da “dor de cotovelo”; confira

Há exatos 50 anos, no dia 27 de agosto de 1974, o Brasil se despedia de um dos maiores representantes da nossa música popular de todos os tempos: Lupicínio Rodrigues nos deixava, aos 59 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca.
Mas o legado que o cantor e compositor gaúcho deixou para a nossa cultura é imensurável: uma obra atemporal, eternizada nas vozes de grandes nomes da MPB e regravada por diversos artistas até os dias atuais.
Quem foi Lupicínio Rodrigues

Lupicínio Rodrigues foi um dos maiores representantes do gênero samba-canção e da música que traz temas sobre a dor de amor, a decepção amorosa e o abandono: a famosa dor de cotovelo (inclusive, muitos dizem que o termo foi inventado por ele, pois deu nome ao seu segundo disco, lançado em 1973).
O termo faz alusão à figura de uma pessoa sentada no bar, apoiando os cotovelos em cima do balcão, enquanto toma uma bebida e lamenta a má sorte no amor. Assim, de tanto ficar com os cotovelos nessa posição, eles começam a doer, segundo o imaginário popular.
Apaixonado por música desde criança, Lupi – como era chamado na infância – ainda com 12 anos, chegou a ser aprendiz nas oficinas da Companhia Carres Porto-Alegrense, empresa de bondes, e na oficina Micheletto, onde carregou peso e fez parafusos e porcas, para ajudar nas despesas da casa.
Mas o que Lupicínio gostava mesmo de fazer era compor samba. Com essa idade já fazia músicas para os blocos carnavalescos de seu bairro. Conforme crescia, mostrava interesse nos encontros no bar de Seu Belarmino, na Praça Garibaldi, onde ficava bebendo e cantando até de madrugada.
Para afastá-lo da boemia, em 1931, seu pai levou o filho, como voluntário, ao Exército. A rígida disciplina entrou em choque com o espírito boêmio do jovem Lupicínio. Mesmo servindo ao Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre, ele não desistiu da música, pois assumiu o posto de cantor do conjunto musical formado pelos soldados e continuava compondo para os blocos carnavalescos e vencendo concursos.
Com 14 anos, chegou a vencer um concurso com uma marchinha chamada Carnaval, feita para o Cordão Carnavalesco Prediletos. Dois anos depois, foi promovido a cabo e transferido para a cidade de Santa Maria. Quando deu baixa no exército, em 1935, seu pai conseguiu-lhe um emprego de bedel na Faculdade de Direito da UFRGS, onde Lupicínio trabalhou por mais de 10 anos.
Mas sua carreira musical já começava a acontecer paralelamente. Em 1935, entrou no concurso de música popular instituído pela Prefeitura para animar as comemorações do centenário da Revolução Farroupilha. A música que Lupicínio escreveu, feita em parceria com o cantor Alcides Gonçalves, e intitulada Triste História, foi a vencedora de um bom prêmio em dinheiro.
O rei da “dor de cotovelo” chegou longe
Em 1936, Lupi teve suas primeiras músicas gravadas por Alcides Gerardi: além do samba-canção Triste História, o samba Pergunte a Meus Tamancos, também parceria com Alcides Gonçalves.
Dois anos depois, em 1938, Lupicínio Rodrigues obteve seu primeiro grande sucesso nacional, com o samba Se Acaso você Chegasse, parceria com Felisberto Martins, gravado por Cyro Monteiro.
Apesar da qualidade de suas músicas e composições, sempre muito premiadas, não era fácil conseguir gravá-las, pois Lupicínio Rodrigues nunca deixou de viver em Porto Alegre, e, portanto, estava longe das gravadoras e dos grandes cantores.
Um fato que fez seus sambas serem divulgados nos grandes polos culturais como São Paulo e Rio de Janeiro, mesmo nunca tendo deixado de viver em Porto Alegre, foi o de sua cidade receber muitos navios.
Desta forma, os marinheiros que frequentavam a boemia do centro da capital gaúcha – onde os bares tocavam muitas das músicas de Lupicínio – quando embarcavam, divulgavam aqueles sucessos ouvidos em Porto Alegre para outros centros.
Foi assim que Se Acaso Você Chegasse chegou até a gravadora RCA Victor e foi gravada por Cyro Monteiro. O imenso sucesso da canção fez Lupicínio ganhar projeção nacional e viajar para o Rio de Janeiro, em 1939, onde frequentou os bares da Lapa e o Café Nice, em companhia de Ataulfo Alves, Wilson Batista e outros grandes nomes do samba.
Se Acaso Você Chegasse foi gravada – mais tarde – por muitos grandes nomes da nossa música como Elza Soares e Jair Rodrigues.
Em 1947, o Quarteto Quitandinha gravou outro que seria um dos maiores sucessos da carreira de Lupicínio Rodrigues e um dos clássicos mais importantes da nossa história: Felicidade: “Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora…”.
No mesmo ano, Lupicínio escreveu Nervos de Aço, que fez imenso sucesso quando lançada na voz de Francisco Alves. Anos depois, a música foi gravada também por nomes como Elza Soares, Jamelão (o maior intérprete de Lupicínio de todos os tempos) e por Paulinho da Viola, tendo feito muito sucesso em sua voz.
Em 1948, o artista escreveu o samba-canção Esses Moços (Pobres Moços), onde alerta os jovens sobre as inconveniências do amor. Gravada por Francisco Alves, foi depois – em 1970 – gravada pelo próprio Lupicínio, além de ter versões nas vozes de nomes como Gilberto Gil, Nelson Gonçalves, Emílio Santiago e Jamelão.
Em 1950, Francisco Alves gravou outro sucesso de Lupicínio em parceria com Alcides Gonçalves: Cadeira Vazia, que depois foi gravada com êxito por Elza Soares, Elis Regina, Jair Rodrigues, entre outros.
Em 1951, foi a vez de outro grande sucesso de Lupicínio Rodrigues conquistar o Brasil: o samba-canção Vingança, gravado pelo Trio de Ouro e por Linda Batista, no auge de sua carreira, bateu todos os recordes de venda. Vingança depois ganhou versões nas vozes do próprio Lupicínio, de Ângela Maria, Elza Soares, Noite Ilustrada, Nora Ney, Jamelão, Cauby Peixoto, entre outros.
Um legado eterno e inesquecível

Mas somente em 1952, Lupicínio Rodrigues gravou seu primeiro disco solo: Roteiro de um Boêmio. Ao todo, o artista gravou dois álbuns (o segundo em 1973, chamado Dor de Cotovelo, que trouxe outros sucessos como Loucura e Castigo, esta última em parceria com Alcides Gonçalves) e seis compactos de 78 rotações por minuto com suas composições.
Torcedor do Grêmio, o artista compôs o hino do time do coração em 1953. Seu retrato está na Galeria dos Gremistas Imortais, no salão nobre do clube.
Na década de 1960, Lupicínio foi quase ao ostracismo com a chegada da Jovem Guarda, do rock, da Tropicália e da Bossa Nova. O gênero em que ele compunha ficou em segundo plano, principalmente em Porto Alegre. Ele só voltou a fazer bastante sucesso nos anos 1970, quando Caetano Veloso gravou Felicidade e Gal Costa gravou outra composição importantíssima de Lupi: Volta, de 1957.
Foi um grande marco, porque – depois disso – Lupicínio Rodrigues começou a ser regravado por todos esses grandes nomes que nós já citamos acima e nunca deixou de ser referência para os artistas de geração em geração.
Volta – por exemplo – também foi gravada por Simone, Fafá de Belém e Jamelão; e Felicidade, por Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto e muitos outros. Em 1985, Afonso Maia gravou outro grande sucesso de Lupicínio: Nunca, também regravado por nomes como Jamelão, Zizi Possi, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Beth Carvalho.
Preparamos uma lista especial, com os 10 principais sucessos do artista em sua voz ou na voz de outros grandes nomes da nossa música! Viva, Lupicínio Rodrigues!
Os 10 maiores sucessos de Lupicínio Rodrigues
- Nunca – Jamelão
- Se Acaso você Chegasse(parceria com Felisberto Martins) – Elza Soares
- Felicidade – Caetano Veloso
- Nervos de Aço
- Esses Moços (Pobres Moços) – Gilberto Gil
- Cadeira Vazia (parceria com Alcides Gonçalves) – Elis Regina
- Vingança – Maria Bethânia
- Loucura – Lupicínio Rodrigues
- Castigo (parceria com Alcides Gonçalves) – Lupicínio Rodrigues
- Meu Barraco – Lupicínio Rodrigues
por Lívia Nolla