Mandioca, Aipim ou Macaxeira, a rainha do Brasil que ganhou título do século
Crônicas de uma Cozinheira, com Larissa Abbud
Chef especializada em comida brasileira
Mandioca, Aipim ou Macaxeira, a rainha do Brasil que ganhou título do século
A verdadeira “rainha do Brasil
Como definir ingredientes típicos da culinária brasileira em se tratando de um país tão vasto e diverso como o Brasil? Quando recebi o convite para escrever essa coluna comecei a pensar sobre quais ingredientes seriam esses.
Primeiro pensei em escrever sobre o café, afinal, sou de Barra do Piraí, uma pequena cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro, localizada no Vale do Paraíba Fluminense, também conhecida como Vale do Café, por ter sido uma das maiores regiões produtoras do grão no século XIX.
Acontece, que quando penso na minha infância no interior os alimentos que me vem amente são o milho, o feijão e a mandioca. Sim, a mandioca, que muitas vezes é dita como oriunda do Norte e Nordeste brasileiro era e é consumida, plantada e vendida em vasta quantidade nesta região do país que ali atende pelo nome de Aipim.
Eu era bastante criança quando aprendi que mandioca boa é aquele que não tem fiapo, por isso é importante ficar de olho na raiz, que precisa ser branca ou amarela. Cinza jamais, dizia minha sábia avó.
Um conhecimento precioso, que levo comigo até os dias de hoje. Foi na minha adolescência, quando já morava na cidade do Rio de Janeiro que fui entender que aquele alimento banal, que estava constantemente na mesa de casa, ora frito, ora cozido, era conhecido por muitos nomes em diferentes regiões do Brasil: macaxeira, castelinha, uaipi, maniva, maniveira, pão-de-pobre e certamente outrostantos… Mas além do nome a Mandioca também provê uma série de derivados comofarinha, sagu, polvilho, tucupí, que são consumidos de diferentes formas de norte a Suldo Brasil.
Não é a toa que ganhou o título de Rainha do Brasil no livro “História da Alimentação Brasileira”, de Luís Câmara Cascudo, lançado em 1967 e até hoje, um dos maiores clássicos sobre a história da culinária brasileira.
Consumida e cultivada em diferentes regiões do país, a mandioca pode, e deve, ser considerado um produto nacional pois já era consumida no território – que hoje em dia é chamado de Brasil – muito antes da chegada dos colonizadores. E por falar em colonização, acho importante dizer que atualmente vivo em Lisboa, Portugal, onde tenho uma empresa de catering e atuo como chef de cozinha.
Por aqui é raro encontrar mandioca fresca e quando a encontro ela está com a casca coberta de cera e raiz acinzentada, daquelas que muito cedo aprendi que é melhor evitar. É claro que sendo eu uma brasileira banqueteira, são muitos os pedidos por Bobó de Camarão, pão de queijo ou dadinho de tapioca.
Mas maior do que a quantidade de pedidos que me chegam é a quantidade de cafés, bares e restaurantes que encontramos por toda a Europa, onde a grande estrela do cardápio é também um prato de grande consumo nacional: a tapioca. Essa goma branca que sobra no fundo do tacho durante o processo de fabricação da farinha ganhou o mundo em suas versões doce e salgada.
Para muitos brasileiros imigrantes é sinônimo de memória afetiva, afinal, tô pra conhecer uma cidade no Brasil que não tenha a famosa tapioca de feira. Para outros, mais preocupados com a saúde, é uma opção de alimento sem glúten e com pouca gordura. Longe de mim dar conselhos nutricionais, mas em uma breve pesquisa na internet é possível encontrar alguns benefícios da mandioca: rico em fibras, fonte de vitamina C e minerais como o potássio, o magnésio e o cálcio. Mas outro segredo muito bem guardado da mandioca é o fato de ser rica em dois tipos de carboidrato: amilopectina e amilose.
É justamente essa dupla que faz a glicose ser liberada de forma mais lenta para o corpo. Por isso a fama de ser um alimento que dá energia. Além de “rainha do Brasil”, a mandioca também foi eleita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o alimento do século 21.
Não é para menos, um alimento com tantos nomes e derivados merece mesmo reconhecimento mundial. Falei tanto de mandioca que deu até fome.
Daria tudo por uma boa mandioca na manteiga, mas sou a favor do consumo local e sendo assim, me contento com uma boa farofa. Viu como ela está por todo lado?
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Crônicas de uma Cozinheira, com Larissa Abbud
Chef de cozinha e empreendedora vivendo há 8 anos em Portugal.