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Especial: 2 anos sem Gal Costa e Rolando Boldrin

Lívia Nolla
10:10 09.11.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Especial: 2 anos sem Gal Costa e Rolando Boldrin

No dia 09 de novembro, de 2022, o Brasil perdia dois ícones da nossa música: Gal Costa e Rolando Boldrin

Lívia Nolla - 09.11.2024 - 10:10
Especial: 2 anos sem Gal Costa e Rolando Boldrin
Especial: 2 anos sem Gal Costa e Rolando Boldrin

O dia 09 de novembro de 2022 ficou marcado para sempre na história da música popular brasileira como um dia de perdas irreparáveis: Gal Costa e Rolando Boldrin saíram de cena há exatos dois anos, deixando o país devastado.

Gal Costa – uma das maiores, mais importantes e mais talentosas artistas do nosso país – nos deixou no dia 09 de novembro de 2022, aos 77 anos, por conta de um infarto agudo do miocárdio, além de uma neoplasia maligna de cabeça e pescoço. 

Uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira, com um timbre inconfundível – que tinha a capacidade de ir do doce e suave ao agressivo e rasgado em uma mesma canção – com sua musicalidade precisa e versatilidade impressionante, Gal era praticamente uma camaleoa, transitando por vários gêneros e estilos com maestria. 

Baiana de Salvador, Gal Costa aprendeu a tocar violão ainda criança e, em 1959, quando ouviu pela primeira vez o cantor João Gilberto cantando Chega de Saudade no rádio, teve ainda mais certeza do que queria fazer da vida: cantar. João foi uma das maiores influências de Gal, que depois conheceu e se aproximou do ídolo, que a chamou de “a maior cantora do Brasil” na primeira vez que a ouvir cantar.   

Maria da Graça Costa Penna Burgos começou a carreira em 1964, ainda usando o nome artístico Gracinha, ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Tom Zé, no show Nós, Por exemplo, que inaugurou o Teatro Vila Velha, de Salvador.

No mesmo ano, fizeram juntos mais um espetáculo: Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova, que tinha a intenção de inserir o grupo baiano em um plano histórico que passava pelo passado musical da MPB, depois por alguma renovação da bossa nova, chegando em algo que seria a sua continuação, representada por eles mesmos.

Em 1967, Gal lançou o seu primeiro LP: Domingo, ao lado de seu amigo e parceiro de toda uma vida – Caetano Veloso – que também estreava em seu primeiro disco. Deste álbum, destaca-se a canção Coração Vagabundo, de Caetano. Gal Costa foi uma das maiores intérpretes de Caetano Veloso da história.

Nesta mesma época, Gal iniciou – junto com outros grandes nomes da música popular brasileira como Caetano, Gil, Torquato Neto, Rogério Duprat, Capinan, Tom Zé, e Os Mutantes – o Movimento Tropicalista: movimento de contracultura, que transcende tudo o que já havia em termos de produção artística no Brasil. 

Em 1968 o grupo lançou o disco Tropicália ou Panis et Circencis e, entre as canções mais marcantes está Baby, de Caetano Veloso, interpretada por Gal, que tornou-se um hino Tropicalista.

A partir desse momento, Gal passa a sentir a necessidade de desbravar novos territórios que não somente o canto suave da bossa nova. Queria expressar a sua arte e o que sentia de uma forma mais agressiva, mais experimental, mais revolucionária, com influências do que vinha escutando de fora do país, como a voz rasgada de Janis Joplin, que foi uma grande inspiração para Gal Costa

Ainda em 1968, ela participa do IV Festival de MPB da Record, defendendo – em tempos de repressão sofrida pela ditadura militar no Brasil – a canção  grito de liberdade Divino Maravilhoso, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Esta apresentação representou um marco na transição de postura e na estética artística de Gal.

Gal Costa na época da Tropicália | Foto: Reprodução

A Musa da Tropicália

Falando em ditadura militar, quando o movimento Tropicalista sofreu forte censura e perseguição e seus líderes Caetano e Gil foram presos e, depois, obrigados a se exilar em Londres, de 1969 a 1972,  Gal tornou-se, – quase que forçadamente – um símbolo de resistência artística no Brasil, sendo responsável por manter acesa a chama do Tropicalismo no país e tornando-se a sua maior representante, passando a ser conhecida como Musa da Tropicália e da “geração do Desbunde”

Em 1969, a cantora lançou seu primeiro álbum solo, e – a partir daí – passou a lançar – um em seguida do outro – álbuns inesquecíveis, transgressores e revolucionários, como o antológico LP duplo Fa-tal: Gal a todo o Vapor; o disco Índia; o encontro inesquecível com os Doces Bárbaros (em parceria com os amigos Gil, Caetano e Bethânia, em 76); Gal Tropical; Estratosférica, e tantos outros…

Gal Costa gravou a maioria dos grandes compositores da nossa música como Caetano, Gil, Jorge Ben Jor, Erasmo e Roberto, Jards Macalé, Waly Salomão, Luiz Melodia (que era um de seus compositores favoritos e a quem Gal ajudou a lançar), Chico Buarque, Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Moraes Moreira e Djavan.

Muito atenta às novidades e inovações, Gal gravou também diversos compositores da nova geração da nossa música, como Mallu Magalhães, Céu, Marcelo Camelo, Silva e Tim Bernardes…. sempre se reinventando e conversando diretamente com seu público, com seus quase 60 anos de uma brilhante carreira.

Outros grandes clássicos na sua voz são: 

  • Vapor Barato
  • Balancê
  • Chuva de Prata
  • Aquarela do Brasil
  • Vaca Profana
  • Festa do Interior
  • Barato Total
  • Sua Estupidez
  • Folhetim
  • Palavras no Corpo
  • Quando Você Olha Pra Ela e tantos, tantos outros.

Gal Costa é eterna e seu legado para a música e para a cultura brasileira é imensurável. Ela estará para sempre entre nós. Nos inspirando e emocionando com sua voz e a potência de sua história.

O nome dela é Gal. E ele está escrito pra sempre na nossa história.

Para homenagear esta, que foi uma das mulheres mais importantes da história da cultura brasileira, nós separamos um conteúdo especial para vocês, com diversas matérias já produzidas pela Novabrasil sobre a musa Gal Costa.

1 – Podcast Acervo MPB

Gal foi uma das artistas homenageadas pela série de áudio-biografias exclusiva produzida pela Novabrasil. No Acervo MPB, nós contamos a história da vida e da obra de grandes nomes da música popular brasileira, como uma verdadeira enciclopédia da nossa MPB. O episódio sobre Gal Costa está especial e nós nos orgulhamos muito de ter homenageado esta gigante da nossa música ainda em vida.

 2 – Especial de Aniversário de Gal

No último dia 26 de setembro de 2023, quando Gal Costa teria completado 78 anos, publicamos uma matéria especialíssima, que conta toda a trajetória de Gal desde o início até os últimos anos e nós preparamos uma playlist com os 50 maiores sucessos na voz da cantora.

3 – Playlist com os 50 maiores sucessos na voz de Gal Costa

4 – Foras de Série com Gal Costa

Gal também foi uma das artistas celebradas pelo nosso especial Foras de Série, que traz grandes nomes brasileiros que fizeram história com suas trajetórias inigualáveis. Em oito capítulos, o especial passou por diversos momentos da trajetória de Gal Costa.

02 anos sem Rolando Boldrin

Rolando Boldrin | Foto: Reprodução

Além de Gal Costa, o cantor, compositor, ator e apresentador Rolando Boldrin também nos deixou em 09 de novembro de 2022, há exatos dois anos.

Aos 86 anos, Rolando estava internado no Hospital Albert Einstein havia dois meses e teve uma insuficiência respiratória e renal, segundo informações da TV Cultura, onde o artista trabalhava há 17 anos, apresentando o programa Sr. Brasil, desde 2005.

Segundo nota da própria emissora, com o programa, Rolando Boldrin tirou o Brasil da gaveta e fez coro com os artistas mais representativos de todas as regiões do país. O cenário privilegiava os artesãos brasileiros e era circundado por imagens dos artistas que fizeram a nossa história, escrita, falada e cantada”.

Além disso, Boldrin criou o Som Brasil, um dos programas musicais mais importantes do país, que começou no rádio e, em 1981, passou a ser apresentado na TV Globo. No programa, o apresentador recebia atrações musicais com forte apelo à cultura popular brasileira, contava “causos”, dançava e exibia peças teatrais e pequenos documentários. Boldrin deixou o programa em 1984, mas levou a ideia a outros programas apresentados por ele, sendo um dos maiores divulgadores da música regional brasileira.

Na televisão, ainda apresentou os programas Empório Brasileiro, na TV Bandeirantes, e Empório Brasil, no SBT. Fez também carreira na teledramaturgia e dizia que era fundamentalmente um ator: “Esse tem sido meu trabalho a vida inteira; radioator, ator de novela, de teatro, de cinema, um ator que canta, declama poesias e conta histórias”.

Rolando Boldrin | Foto: Reprodução

Rolando ator

Como ator, Rolando Boldrin atuou em mais de 30 novelas, das TVs Record, Tupi e Bandeirantes, como: 

  • A Muralha (1954); 
  • O Direito de Nascer (1964); 
  • As Pupilas do Senhor Reitor (1970);
  • Os Deuses Estão Mortos (1971); 
  • Mulheres de Areia (1973);
  • Os Inocentes (1974)
  • A Viagem (1975);
  • O Profeta (1977);
  • Roda de Fogo (1978); 
  • Cara a Cara (1979);
  • Os Imigrantes (1981).

Fez também cinema, atuando nos filmes: Os Miseráveis (1958); Doramundo (1978); Ele, o Boto (1987); O Tronco (1999); e O Filme da Minha Vida (2017).

Nascido na cidade interiorana de São Joaquim da Barra, no estado de São Paulo, desde pequeno Rolando Boldrin já tocava viola. Aos 12 anos, com sua voz inconfundível, formou – com o seu irmão –  a dupla musical Boy e Formiga, que chegou a fazer sucesso na rádio do município.

Aos 16 anos, com o incentivo do pai, foi para a capital de carona em um caminhão. Em São Paulo, antes de emplacar na carreira de cantor, foi sapateiro, frentista, carregador, garçom e ajudante de farmacêutico.

Aos 18, serviu o exército e – nos anos que se seguiram – dedicou-se à atividade musical, tendo participado pela primeira vez de um disco em 1960, no álbum de sua futura esposa, que se tornou sua produtora na época, Lurdinha Pereira.

Em 1974, lançou seu primeiro disco solo: O Cantadô. Desde então, foram quase 20 discos de carreira – o último lançado em 2016 – e diversas participações, além de ter suas composições gravadas por nomes como Maria Bethânia (Eu, a Viola e Deus); Renato Teixeira (Vide Vida Marvada); Pena Branca e Xavantinho (Amor de Violeiro); e outros nomes da música caipira.

Já deixou saudade, Rolando Boldrin!

por Lívia Nolla

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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