
Oscar para ‘Ainda Estou Aqui’ impulsiona cinema nacional
Oscar para ‘Ainda Estou Aqui’ impulsiona cinema nacional
Especialista avalia que o reconhecimento internacional pode fortalecer a indústria e atrair mais público para filmes brasileiros


O Brasil celebrou uma conquista histórica no Oscar com a vitória do longa Ainda Estou Aqui na categoria de Melhor Filme Internacional. O impacto desse prêmio vai além do reconhecimento artístico e pode ajudar a transformar a relação do público com o cinema nacional.
Para entender essa repercussão, o Jornal Novabrasil entrevistou Elsemann Neves, roteirista, dramaturgo e coordenador da Academia Internacional de Cinema. O especialista destacou a importância desse marco e os desafios que o setor enfrenta para conquistar mais espaço no país.
Vitória reforça visibilidade do cinema nacional
O reconhecimento no Oscar coloca o Brasil no radar da indústria cinematográfica global. Segundo Neves, essa visibilidade pode fortalecer a produção nacional e ampliar o interesse do público.
“Temos uma indústria crescente, diversa e cheia de talentos. Um prêmio como esse reforça que o cinema brasileiro tem qualidade e pode alcançar públicos maiores”, explicou.
O especialista também destacou que o Brasil já vinha chamando atenção no cenário internacional. “Só no Festival de Berlim, tivemos 13 filmes brasileiros. Mas muitas vezes, essas informações não chegam ao grande público”, acrescentou.
Desafio na distribuição e acesso às salas
Apesar do prestígio internacional, o cinema brasileiro ainda enfrenta barreiras dentro do próprio país. Um dos principais desafios é a distribuição dos filmes nacionais nas salas de cinema.
Elsemann Neves lembrou que, no passado, havia uma regra que obrigava os cinemas a exibir uma quantidade mínima de filmes brasileiros. Porém, essa política sofreu alterações ao longo dos anos.
“Já tivemos essa lei, depois caiu, voltou e agora está em discussão novamente. Hoje, a cota de produção nacional se aplica ao streaming, mas não da mesma forma para os cinemas”, afirmou.
A concorrência com produções estrangeiras também dificulta o espaço do cinema nacional. “Muitas vezes, um blockbuster de Hollywood ocupa 80% das salas de exibição. Isso reduz as chances do público conhecer os filmes brasileiros”, alertou.
Políticas públicas
Além da questão da distribuição, o apoio governamental é essencial para manter a indústria cinematográfica forte. Elsemann destacou que, no mundo inteiro, os governos investem na cultura como parte da diplomacia nacional.
“O Brasil no Oscar é uma forma de levar nossa cultura para o mundo. Isso faz parte da imagem do país lá fora e precisa ser valorizado”, afirmou.
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Ele também elogiou o papel de Fernanda Torres na cerimônia, representando o Brasil com carisma e talento. “Ela conquistou o público internacional. Foi um momento lindo para a cultura brasileira”, comentou.
Streaming x cinema: como equilibrar os dois formatos?
Outro ponto abordado foi o impacto do streaming no hábito de consumo de filmes. Com o acesso facilitado às produções em casa, muitas pessoas deixam de frequentar as salas de cinema.
“Sim, o streaming esvazia o cinema, porque ir ao cinema envolve custo. Mas a experiência coletiva que ele proporciona é insubstituível”, analisou Neves.
A busca por um equilíbrio entre os dois formatos já acontece em outros países. O Oscar, por exemplo, passou a exigir que os filmes indicados fiquem em cartaz por pelo menos 14 dias nos cinemas antes de irem para o streaming.
“Hollywood percebeu que precisa fortalecer as salas de cinema. Essas políticas são necessárias para manter a experiência cinematográfica viva”, explicou.
Prêmio incentiva
O reconhecimento do Brasil no Oscar pode servir como um incentivo para que o público valorize mais as produções nacionais.
“Queremos que essa conquista ajude a formar um público mais próximo do cinema brasileiro. Assistir a um filme em português, com a nossa cultura, gera identificação e fortalece a indústria”, afirmou Elsemann Neves.
A comemoração pelo prêmio reflete esse orgulho, com blocos de Carnaval homenageando Fernanda Torres e a estatueta dourada. “Esse é o Brasil! A cultura precisa ser celebrada. Esperamos que esse Oscar seja um divisor de águas para o nosso cinema”, concluiu.