Tentativa de golpe do 8/1 completa dois anos: lições e alertas
Tentativa de golpe do 8/1 completa dois anos: lições e alertas
Dois anos depois da invasão e depredação do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal ainda provocam reflexões: é necessário o uso de armas e tanques nas ruas para caracterizar um golpe de Estado?
Há dois anos, naquele domingo, 8 de janeiro de 2023, cerca de 4 mil manifestantes atacaram os Três Poderes, deixando um rastro de destruição em Brasília. Obras de arte foram vandalizadas, móveis destruídos, e o sentimento de instabilidade se espalhou pelo país. Entre os gritos de guerra, ouviam-se frases como “Supremo é o povo” e “Fora, Xandão”.
Golpe sem armas?
O jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto explica que um golpe de Estado nem sempre precisa de armas e tanques. Segundo ele, “quando o Poder Executivo decide parar de cumprir decisões do Judiciário ou reinterpretar a Constituição de forma paralela, isso também é um golpe”.
Já em seu livro Como as Democracias Morrem, o cientista político Steve Levitsky, da Universidade de Harvard, destaca que “as democracias muitas vezes não acabam com um estrondo, mas com um gemido”.
O autor se refere a um presidente legítimo que muda leis para restringir os outros poderes e se manter no poder por muitos anos.
No entanto, os discursos também desempenham um papel crucial nos golpes modernos. A historiadora Lilia Schwarcz explica que, para um golpe se sustentar, é necessário apoio de setores da sociedade civil, empresários e da imprensa:
“É preciso uma sociedade civil e empresários que banque, empresários, relações internacionais“, acrescentou.
Ela também alerta para os “golpes democráticos”, onde líderes eleitos solapam as instituições aos poucos, como aconteceu na Hungria de Viktor Orbán e na Venezuela de Nicolás Maduro:
“É preciso pensar que o golpe que estamos falando agora, do 8 de janeiro, é um golpe que dialoga com a nova situação Mundial. Eu digo nova desde 2016, onde se deu um crescimento muito grande nos discursos de extrema-direita“.
O Brasil e sua relação com a ditadura
Aqui no Brasil, mesmo 38 anos após o fim da ditadura militar, parte da população ainda nega que aquele período tenha sido um golpe. Lilia Schwarcz destaca que há um esforço para rebatizar o golpe de 1964 como “Revolução” ou “contragolpe”, numa tentativa de legitimar sua narrativa:
“Então, toda essa mística construída pelos militares, ela é necessária para manutenção de um golpe para que a sociedade acredite que o golpe veio porque os problemas eram os governos anteriores e não o golpe em si“, alertou.
A investigação e as ameaças atuais
Após o 8 de janeiro, a Polícia Federal revelou planos de assassinato contra o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado ao lado de outras 36 pessoas, incluindo os generais Braga Netto e Augusto Heleno, por planejamento de um golpe.
Levitsky e seu coautor Daniel Ziblatt alertam que democracias só sobrevivem com inovações e união de setores da sociedade contra ameaças autoritárias. A história recente do Brasil mostra que a vigilância é essencial para impedir novas tentativas de ruptura democrática.
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