Fiocruz suspende atividades presenciais e adota trabalho remoto nesta quinta-feira após operação no Rio
Fiocruz suspende atividades presenciais e adota trabalho remoto nesta quinta-feira após operação no Rio
A fundação diz que toda a ação da Polícia Civil ocorreu de forma arbitrária, sem autorização ou comunicação com a instituição
Após criminosos invadirem a Fiocruz, no Rio de Janeiro, durante uma operação policial, na manhã desta quarta (8), a Fundação orientou os funcionários do Campus Manguinhos-Maré a trabalharem remotamente, nesta quinta (9), por questão de segurança.
Uma tarde marcada por tensão durante uma operação policial iniciada na região de Manguinhos, com o objetivo de combater o roubo de cargas praticado por criminosos.
Houve confronto armado e, conforme informado pela Polícia Civil, pelo menos quatro suspeitos foram baleados. Dois deles foram socorridos, sendo que um já chegou sem vida ao hospital e o outro segue internado em estado grave.
A polícia também revelou que outros dois traficantes trocaram tiros com os agentes e podem ter sido arrastados para o canal do Cunha, que passa pela região. Além disso, outros criminosos conseguiram fugir e se abrigaram nas dependências da Fiocruz.
Uma funcionária da instituição, que preferiu não se identificar, relatou o clima de pânico vivido naquele momento, em plena luz do dia.
Ela descreveu: “Sou funcionária da Fiocruz e ontem passamos por momentos de grande tensão, devido à incursão policial próxima às instalações da fundação. Isso ocorreu, como já é comum no Rio de Janeiro, em pleno dia, a partir das 10h da manhã, e seguiu até a tarde.”
Durante a operação, um tiro atingiu a janela de uma das fábricas de vacinas da Fiocruz, e uma funcionária ficou ferida por estilhaços.
Dois homens que trabalham em uma empresa de segurança terceirizada da Fiocruz foram levados à delegacia. Imagens obtidas pela polícia e divulgadas pela Novabrasil mostram indivíduos armados entrando em um veículo dentro da Fiocruz.
Os criminosos saem do complexo e são deixados nas proximidades de Manguinhos. A polícia agora investiga a origem do carro e se algum funcionário da instituição colaborou com os traficantes, ou se foi coagido a ajudar na fuga.
A Fiocruz, por sua vez, negou qualquer envolvimento, esclarecendo que o homem em questão estava realizando um trabalho de desocupação e interdição da área, como medida de segurança para os trabalhadores e frequentadores do campus durante a ação policial.
A instituição também afirmou que a operação foi arbitrária, ocorrendo sem autorização ou comunicação prévia com a fundação, colocando em risco a segurança de seus colaboradores e alunos.
Nota enviada pela Fiocruz
“Na manhã desta quarta-feira (8/1), agentes da Polícia Civil entraram sem qualquer comunicação prévia e autorização no campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, para o que seria uma incursão na comunidade de Varginha. Um projétil atingiu o vidro da sala de Automação, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), fábrica de vacinas da Fiocruz, e uma trabalhadora recebeu atendimento médico por conta dos estilhaços. Ela passa bem e não chegou a ser ferida.
Os policiais permaneceram na Fiocruz ao longo da tarde. A operação dentro da Fiocruz ocorreu na rua que beira o rio Faria-Timbó. Na região, além do prédio de produção de vacinas, estão localizados o Centro Hospitalar do Instituto Nacional Evandro Chagas e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, onde circulam professores e alunos do ensino médio.
“O que ocorreu hoje na Fiocruz foi muito grave. A instituição vive recorrentemente situações de risco em virtude dos conflitos armados que ocorrem no seu entorno, mas é a primeira vez que ocorreu o ingresso sem comunicação e sem autorização de agentes da polícia civil no campus Manguinhos. A troca de tiros colocou em risco a vida de trabalhadores, estudantes e usuários dos nossos serviços”, afirmou o diretor-executivo da Fundação, Juliano Lima.
“Lamentamos muito pela trabalhadora de Bio-Manguinhos, atingida pelos estilhaços, e por todos os demais trabalhadores que tiveram que viver essa situação no dia de hoje. Estamos buscando interlocução com as autoridades de segurança do estado do Rio de Janeiro para tratar do assunto com a máxima urgência”, complementou Juliano.
Um supervisor da empresa que presta serviços para a Gestão de Vigilância e Segurança Patrimonial da Fiocruz foi levado pelos policiais de forma arbitrária para a delegacia, algemado. O vigilante fazia o trabalho de desocupação e interdição da área como medida de segurança para os trabalhadores, alunos e demais frequentadores do campus, no momento da incursão policial, e foi acusado de dar cobertura a supostos criminosos que estariam em fuga. A Fiocruz não tem informação sobre as alegações.
O Museu da Vida Fiocruz, que recebe visitantes de várias escolas durante a semana, teve que interromper suas atividades. Os visitantes, entre adultos e crianças, tiveram que se abrigar em locais seguros até que pudessem ser conduzidos para fora da Fiocruz. Também houve impacto nos atendimentos realizados pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (Ensp/Fiocruz), que tiveram que ser suspenso. A Fiocruz ainda avalia se houve impactos na produção de vacinas e insumos. Durante a troca de tiros entre os policiais que estavam na Fiocruz e criminosos do outro lado da margem do rio, trabalhadores tiveram que ficar agachados ou deitados embaixo de suas mesas.
Toda a ação da Polícia Civil ocorreu de forma arbitrária, sem autorização ou comunicação com a instituição, colocando trabalhadores e alunos da Fiocruz em risco. Até o início da tarde, a operação da Polícia Civil continuava dentro da Fiocruz, com a orla do rio Faria-Timbó interditada. No período da tarde, a Avenida Leopoldo Bulhões também foi fechada nos dois sentidos, impossibilitando a saída de trabalhadores por aquela portaria.
O expediente foi encerrado às 13h30, ficando mantidos apenas os serviços essenciais. A saída dos trabalhadores ocorreu pela Portaria da Avenida Brasil. O horário de saída do Transporte Coletivo da Fiocruz foi antecipado para as 15h: foram 51 ônibus e 2.346 passageiros evacuados de forma emergencial. O Sindicato de Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) também publicou nota sobre a a ação desta quarta-feira.”
Nota enviada pela Polícia Civil
Policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), em conjunto com a 21ª DP (Bonsucesso) e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), realizaram uma operação contra criminosos envolvidos em roubos de cargas e para verificar informações estratégicas de inteligência, nesta quarta-feira (08/01). As diligências ocorreram nas comunidades do Complexo de Manguinhos, área explorada pela maior facção criminosa do estado.
Na chegada ao complexo, os agentes foram atacados pelos criminosos e houve confronto. Um dos gerentes do tráfico de drogas no Mandela foi neutralizado e um criminoso foi ferido, sendo socorrido para um hospital da região. Outros dois foram alvejados próximo ao rio que corta a localidade e submergiram. Mergulhadores auxiliam a Polícia Civil no resgate. Além destes, um homem foi capturado, em cumprimento a um mandado de prisão.
Dois funcionários terceirizados que prestam serviço para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão prestando depoimento. Inicialmente, foi constatada uma situação flagrancial que está sendo analisada na delegacia. A investigação que se inicia a partir disso vai apontar se houve colaboração espontânea com o tráfico de drogas, uma vez que imagens mostram um veículo a serviço da instituição auxiliando na fuga de criminosos.
Diante de informações de que bandidos teriam acessado o campus da Fiocruz, as equipes da Polícia Civil se deslocaram à instalação. Os bandidos realizaram disparos de arma de fogo que atingiram ao menos um dos prédios da fundação.
“Causa muita estranheza acusações maldosas contra os policiais, dado o histórico de ocorrências com traficantes que buscam abrigo em prédios públicos, incluindo escolas e unidades de saúde, bem como a própria Fiocruz, onde isso já havia ocorrido em situações anteriores”, afirma o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
Em agosto de 2011, por exemplo, cinco criminosos de alta periculosidade que usavam a Fiocruz como rota de fuga foram capturados nas instalações. Todos eles eram lideranças da facção e estavam foragidos da Justiça.
“Quem coloca em risco a população são os criminosos. Temos imagens de traficantes dentro da Fiocruz, então foi necessário que nossos agentes entrassem na instituição para evitar que houvesse um dano maior lá. São criminosos que roubam, agridem, assolam a população. Essa é mais uma resposta firme da Polícia Civil no combate a essa orgnização”, afirmou o diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, delegado André Neves.
A ação faz parte da segunda fase da “Operação Torniquete”, que tem como objetivo reprimir roubos, furtos e receptação de cargas e de veículos, delitos que financiam as atividades das facções criminosas, suas disputas territoriais e ainda garantem pagamentos a familiares de faccionados, estejam eles detidos ou em liberdade. Desde setembro, já são mais de 290 presos, além de veículos e cargas recuperados.
Investigações recentes da DRFC apontam um aumento significativo nos transbordos de cargas roubadas na região de Manguinhos, especialmente no último quadrimestre de 2024. Esse crescimento foi constatado após diversas operações realizadas no Complexo da Maré, que forçaram os criminosos a migrarem suas atividades para outras áreas. A proximidade com a Avenida Brasil, importante via de escoamento onde ocorre parte dos roubos, facilita a ação dos criminosos.
Conforme apurado pelas equipes da DRFC e da 21ª DP, os criminosos realizam um sofisticado processamento das cargas roubadas dentro do complexo, o que envolve a classificação, separação e redistribuição das mercadorias, que são posteriormente comercializadas tanto nas comunidades quanto em outras regiões da cidade. Há indícios claros de que parte dessas cargas são subtraídas sob encomenda, atendendo a demandas específicas de empresários ligados a diferentes setores do comércio ilícito.
A operação buscou desarticular essa cadeia criminosa organizada e interromper o fluxo de mercadorias roubadas, que gera prejuízos ao setor logístico e fomenta o fortalecimento financeiro do crime organizado na capital fluminense. Entre as apreensões, estão dois fuzis, duas pistolas, 4.730 unidades de lança-perfume, nove galões com lança-perfume, 2.650 pinos de cocaína, 390 pedras de crack, 110 papelotes de maconha, 31 tabletes de maconha e 40 papelotes de skunk.
Durante a operação, criminosos de Manguinhos, buscando escapar para o Jacarezinho, comunidade explorada pela mesma facção, atacaram uma viatura em frente à Cidade da Polícia. Os disparos atingiram uma moradora que passava pelo local. Eles ainda lançaram um artefato explosivo nas proximidades. Imediatamente, o Esquadrão Antibomba da Core foi acionado e realizou a detonação controlada do explosivo. O material arrecadado será analisado.
Ruas fechadas e clima de tensão