Autopreconceito: velhos contra velhos
Autopreconceito: velhos contra velhos
Quantas pessoas velhas você conhece que dizem: “eu não sou velho, sou maduro”. Ou então: “velho é quem se encosta”
Quem já passou dos 50 anos e começa a perceber os primeiros sinais do envelhecimento sabe o que é ouvir de alguém mais jovem: ‘você não sabe… isso funciona de tal e tal jeito…’, como se estivesse ensinando o be-a-bá a uma criança.
Mesmo que não haja intenção de ofender – quem faz isso quase nunca percebe o preconceito introjetado — esse tipo de fala desqualifica a pessoa mais velha. É como se o fato de ter envelhecido inevitavelmente tivesse emburrecido o idoso, roubado dele sua condição de entender as coisas.
E, honestamente falando (tenho 62 e, portanto, total lugar de fala), às vezes o mais velho pode até ter dificuldade num tema estranho ao seu dia-a-dia ou num assunto com o qual não está familiarizado. Mas a capacidade cognitiva permanece lá; não precisa infantilizar a explicação.
Há pouco mais de uma década, acreditava-se que o cérebro estivesse no auge da agilidade e da saúde entre os 30 e 45 anos, ou seja, esta seria a melhor fase da vida para aprender o que quer que fosse.
A partir daí, entrava-se em declínio gradual. Essa verdade foi desconstruída a partir da publicação de um artigo na Harvard University Health Magazine nos anos 2020, indicando que, com a maturidade, o cérebro fica cada vez melhor na detecção das relações entre várias fontes de informação.
O cérebro da pessoa idosa é capaz de captar o panorama geral e compreender as implicações globais de problemas específicos. E faz isso de forma muito eficiente.
Se a memória de trabalho (essa que nos ajuda nas tarefas do dia) e o processo mental de armazenamento temporário para processar informações pode ficar mais lento com a idade, outras funções cognitivas vão se aprimorando.
A pessoa mais vivida e mais experiente tem mais opções de caminhos para chegar à solução de um problema. Ou, em curtas palavras: a tal sabedoria que vem com a idade agora está muito bem explicada pela ciência.
Gosto muito do exemplo dos motoristas e dos aplicativos de geolocalização. Os mais jovens vão seguindo passo a passo por onde o recurso lhes indica. Já os mais velhos, com suas memórias armazenadas, são capazes de se orientar pelo senso de direção adquirido, como se a bússola interna estivesse mais ajustada.
Aproveitando que entramos no tema do preconceito, importante falar de outro ao qual precisamos ficar atentos: o autopreconceito; do velho com relação a outro velho.
Quantas pessoas velhas você conhece que dizem: “eu não sou velho, sou maduro”.
Ou então: “velho é quem se encosta”.
E, ainda: “eu não me sinto velho”, como se houvesse um indicador de ordem sentimental para sentir a velhice.
Habituada à escuta dos podcasts, eu mesma já ouvi um filósofo, um acadêmico, um escritor e gente bem estudada que relaciona a velhice com decrepitude, com estrago e com deterioração.
Dia desses, um palestrante famoso explicava que velho é quem desistiu de aprender, de estar na vida em busca de coisas novas. Será, mesmo? E a geração que hoje tem 20 e poucos anos e nunca leu um único livro na vida, não tem curiosidade sobre o que acontece em outras rodas que não a sua própria? Seriam eles algum tipo de “velho em antecipação?”
Com bastante simplicidade, eu diria que velho é quem está há mais tempo nessa vida. É uma condição cronológica. É mais velho quem tem mais idade. Matematicamente está explicado. Melhor idade, terceira idade, idade de prata são termos inventados para tentar não nos “ofender”. Da minha parte, agradeço; não precisa