Principais patrimônios culturais do Brasil; confira matéria especial
Principais patrimônios culturais do Brasil; confira matéria especial
Parques nacionais, cidades históricas, ritmos musicais, lutas e festas fazem parte da memória coletiva do país
Patrimônio cultural é o conjunto de bens, práticas e expressões com valor histórico, artístico e cultural para uma comunidade. Mas, mais que isso, o patrimônio cultural nos conecta com o passado, nos permite entender quem somos e de onde viemos.
Pense que objetos, construções e tradições carregam consigo uma história, uma memória que precisa ser preservada e compartilhada.
É como se cada pedaço de patrimônio cultural fosse uma janela para o passado, uma oportunidade de mergulhar em um mundo diferente e descobrir as raízes de uma sociedade.
Duas categorias principais dividem esse conceito: patrimônio material – inclui objetos e construções tangíveis – e patrimônio imaterial – abrange tradições, saberes e expressões artísticas que não têm forma física. Imagine, por exemplo, uma antiga igreja, com suas paredes de pedra e vitrais coloridos como parte de uma história que precisa ser contada. Ou então, uma dança tradicional, passada de geração em geração.
O Brasil é um país rico em diversidade cultural, resultado da convivência de diferentes etnias, tradições e influências ao longo de sua história. Essa pluralidade se reflete em suas festas, danças, culinária, música, arquitetura e modos de vida, formando um mosaico vibrante que é a essência da identidade brasileira. Os patrimônios culturais brasileiros são testemunhos dessa diversidade e desempenham um papel crucial na construção da memória coletiva do país.
Assim, é possível entender o patrimônio cultural como a própria alma de um povo, sua identidade e sua memória coletiva, além de ser um recurso importante para o turismo e a educação que contribui para o desenvolvimento econômico e social das comunidades.
Patrimônios materiais brasileiros
Centro Histórico de Ouro Preto
Para que um local seja considerado Patrimônio Cultural da Humanidade é preciso atender a critérios rigorosos estabelecidos pela UNESCO, que incluem a representação de uma obra-prima do gênio criativo humano e a ilustração de estágios significativos da história.
Ouro Preto cumpriu esses requisitos, tornando-se um símbolo da cultura brasileira quando, em 1980, foi a primeira cidade do país a ser reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade.
As mais de vinte igrejas históricas de Ouro Preto, construídas no século XVIII, compõem a arquitetura barroca brasileira, fruto do trabalho de artistas como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que adaptou os estilos europeus a uma estética verdadeiramente do Brasil.
A Igreja de São Francisco de Assis, por exemplo, é considerada uma das maiores realizações do barroco no país, com a participação de Aleijadinho em seu altar, teto e fachada.
Foi também em Ouro Preto que aconteceu a Inconfidência Mineira, uma revolta contra a Coroa Portuguesa que ficou marcada pela figura de Tiradentes. Hoje, o Museu da Inconfidência, instalado na antiga prisão da cidade, preserva essa memória.
Pelourinho, Salvador (BA)
Hoje, o Pelourinho é um dos bairros mais antigos da cidade, símbolo da riqueza cultural da Bahia, mas nem sempre foi assim. O termo “pelourinho” se refere a uma coluna de pedra utilizada em praças públicas para punir escravizados fugitivos ou infratores no Brasil colonial. Era nessa área da cidade, localizada no coração do Centro Histórico de Salvador, que ficava o pelourinho da região, durante os séculos 16 ao 19. Durante esse período, o bairro também abrigava os edifícios mais importantes de Salvador, que foi a capital do Brasil, de 1549 a 1763.
Com toda a história que carrega, em 1985, o bairro foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, em reconhecimento ao seu conjunto arquitetônico barroco e sua importância histórica.
Entre suas igrejas, estão a Catedral Basílica e a Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Seus casarios do século 18 foram restaurados e, hoje, abrigam bares, restaurantes, centros culturais e pousadas que atraem turistas do mundo todo.
Algumas das principais atrações do Pelourinho são:
- Praça da Sé e Catedral Basílica
- Igreja e Convento de São Francisco
- Fundação Casa de Jorge Amado
- Museu da Misericórdia
- Mercado Modelo
O bairro também é palco de eventos culturais e festividades, como o Carnaval de Salvador, quando os blocos afro desfilam pelas ruas.
O Pelourinho, que um dia simbolizou a opressão, agora é um espaço de celebração da cultura, da arte e da identidade baiana que reflete a história do Brasil.
Centro Histórico de Olinda (PE)
A preservação do patrimônio histórico de Olinda começou na década de 1930, com o tombamento de seus principais monumentos. Em 1968, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tombou o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade.
Mas o reconhecimento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO veio em 1982, após um processo que destacou a autenticidade e a integridade do local, que abriga cerca de 1.500 imóveis com diferentes estilos arquitetônicos.
Olinda foi fundada pelos portugueses e rapidamente se tornou um importante centro de produção de açúcar. Sua arquitetura reflete essa história, com edifícios coloniais do século 16, fachadas de azulejos dos séculos 18 e 19, além de obras neoclássicas e ecléticas do início do século 20. O equilíbrio entre construções e a vegetação exuberante das ruas, com árvores frutíferas e jardins, confere ao centro histórico um charme único.
As igrejas barrocas, como a Igreja de São Francisco e a Basílica de São Bento, são exemplos notáveis da riqueza arquitetônica da cidade. O Convento de São Francisco, com sua sacristia decorada em azulejos, é uma das principais atrações, assim como a Igreja do Carmo e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda, que refletem a diversidade cultural e religiosa da região.
Além das igrejas, o Centro Histórico de Olinda oferece diversas atrações, como:
- Praça do Carmo: um espaço com feiras de artesanato e eventos culturais.
- Museu de Arte Contemporânea: instalado em um antigo convento, apresenta exposições de artistas brasileiros e internacionais.
- Carnaval de Olinda: uma das festas mais tradicionais do Brasil, famosa por seus bonecos gigantes e o ritmo contagiante do frevo.
Parque Nacional de Iguaçu (PR)
A criação do Parque Nacional de Iguaçu envolve grandes nomes da história do Brasil. Foi formalizada em 10 de janeiro de 1939, durante o governo do presidente Getúlio Vargas.
No entanto, a ideia de proteger essa área natural começou a ganhar força em 1876, quando o engenheiro André Rebouças propôs a criação de um parque ao imperador Dom Pedro II. Mas, a visita de Alberto Santos Dumont em 1916, que ficou encantado com a beleza das quedas, deu força para a desapropriação da área e a criação do parque.
O reconhecimento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO foi um passo importante para a conservação da biodiversidade e a proteção do ecossistema local, que abriga uma vasta gama de flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas de extinção.
Além de suas belezas naturais, a infraestrutura que as acompanha, como trilhas, mirantes e centros de visitantes, proporciona uma experiência imersiva na natureza, com respeito ao meio ambiente.
O parque é uma das últimas reservas florestais da Mata Atlântica, cobrindo uma área de aproximadamente 185 mil hectares. É compartilhado com o Parque Nacional Iguazú, na Argentina, e juntos formam um dos maiores conjuntos de quedas d’água do mundo, com cerca de 2.700 metros de extensão.
As principais atrações do Parque Nacional de Iguaçu incluem:
- Cataratas do Iguaçu com mais de 275 quedas d’água, sendo a Garganta do Diabo a mais famosa e impressionante.
- Trilhas e Mirantes para apreciar vistas espetaculares das quedas.
- Passeios de barco que passa bem perto das quedas.
- Centro de Visitantes com informações da fauna e flora locais, além de exposições sobre a história do parque e sua importância ecológica.
- Flora e Fauna: o parque abriga mais de duas mil espécies de plantas, 400 espécies de aves e diversas espécies de mamíferos, como a ariranha e o tamanduá-bandeira.
Patrimônios Imateriais
Candomblé
O Candomblé é uma religião de matriz africana, adaptada à cultura brasileira. Em 2005, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por sua importância cultural e social.
A religião é praticada nos terreiros e algumas vertentes fazem oferendas aos orixás, que podem incluir alimentos típicos, flores e objetos simbólicos. Batuques e danças embalam o ritual, e a música, que inclui cantos em línguas africanas, é essencial para criar a atmosfera espiritual e conectar os participantes com o sagrado.
As músicas do Candomblé são ricas em simbolismo e os ritmos variam conforme a nação praticada, cada uma com suas particularidades. Muitas vezes, os devotos entram em transe e permitem que os orixás se manifestem através deles.
O Candomblé não é apenas uma religião, é uma forma de resistência cultural e identidade para muitos brasileiros. Durante a escravidão, os praticantes eram frequentemente perseguidos e forçados a ocultar suas crenças, o que levou ao sincretismo religioso, quando os orixás eram associados a santos católicos. Essa prática permitiu que a religião se mantivesse viva, mesmo sob repressão.
Samba
Vinicius de Moraes cantava que o samba nasceu lá na Bahia, verdade, no fim do século 19, mas foi no Rio de Janeiro, na virada do século, que o ritmo se desenvolveu a partir de influências da cultura africana e de tradições folclóricas brasileiras.
Ao longo do tempo, o samba virou sinônimo de Brasil, e foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A partir dessa raiz, outras vertentes surgiram, como samba enredo, pagode, bossa nova, samba de roda. O samba se reinventa e se adapta a novos contextos, mantendo sempre sua essência e conexão com a cultura afro-brasileira.
No início, atabaques e tambores marcavam presença na melodia, mas hoje os astros são o pandeiro, o surdo, o tamborim, a cuíca, o ganzá, o cavaquinho, o violão, o agogô e o reco-reco. Um bom samba também não se faz sem dança, gingado e requebrado.
Com tantos elementos, esse patrimônio cultural ultrapassa a definição de ritmo e passa a fazer parte da identidade do brasileiro, como um estilo de vida que representa alegria, criatividade e a resistência do povo.
Frevo
Mais para cima da região Nordeste do Brasil, também tem alegria e carnaval, em Pernambuco. Só que lá, Olinda e Recife são tomados pelo som do frevo. É durante o Carnaval, que o ritmo ganha as ruas em grandes desfiles e blocos, como o Galo da Madrugada, um dos mais famosos que atrai milhares de foliões todos os anos. Nas ruas, mini guarda-chuvas coloridos se espalham junto às danças típicas que desafiam passistas a acompanhar o agito.
O frevo tem suas raízes na fusão da marcha, do maxixe e da polca no início do século 20. É uma expressão cultural que simboliza a resistência e a identidade do povo pernambucano. Em 2012, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, destacando sua relevância e importância na formação da identidade brasileira.
Capoeira
A capoeira é uma combinação de luta, música e cultura popular que foi criada no século 17 pelos escravizados africanos da etnia banto no Brasil. Capoeira significa “o que foi mata”, remetendo às matas rasas onde teriam acontecido as primeiras rodas.
Como arte marcial, podia ser mortal, mas aos olhos vigilantes dos senhores de engenho parecia uma dança disfarçada pela ginga. Esse movimento foi crucial para a sobrevivência dessa tradição dos escravizados, o que consolidou a capoeira como uma luta de resistência.
Resistência essa que enfrentou repressão por ser considerada uma prática marginal, até o século 20, com a atuação de mestres como Bimba e Pastinha, que colocavam a capoeira em um lugar de cultura do povo. Assim, em 2014, a Roda de Capoeira foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
O uso de instrumentos como o berimbau, o pandeiro e o atabaque vão além de ditar o ritmo. Antes da prática, os capoeiristas reverenciam o berimbau, que, para alguns, é sagrado. O som comanda a roda de capoeira com três berimbaus: o gunga, que toca a linha grave; o médio, que completa o gunga; e o viola, que toca a maioria das improvisações.
Os capoeiristas formam uma roda, se revezam em duplas e contam com movimentos fluidos e acrobáticos, com chutes, rasteiras e esquivas. É praticada em diversas vertentes: Capoeira Angola, Capoeira Regional e Capoeira Contemporânea.
Acima de tudo, a capoeira é uma prática inclusiva, com interação social e o respeito mútuo entre seus praticantes, independentemente de idade, gênero ou origem.
Carnaval
Carnaval é coisa nossa e mais um Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O reconhecimento recente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) veio em 2019 para comprovar que, mais que uma festa, é um elemento fundamental da identidade cultural brasileira.
Desde suas origens, o Carnaval tem sido reflexo das lutas sociais, políticas e culturais, especialmente das comunidades afro-brasileiras. A celebração permite que vozes historicamente silenciadas sejam ouvidas nas marchas, enredos e desfiles que abordam questões sociais e promovem uma reflexão crítica sobre a realidade do país. É o lugar para expressar cultura, tradições e luta por liberdade. Um espaço de alegria em meio à opressão.
O Carnaval brasileiro é feito de blocos de rua e desfiles de escolas de samba. Os blocos são manifestações mais populares, acessíveis e democráticas. Já as escolas de samba são uma marca registrada do Rio de Janeiro e São Paulo. No Sambódromo, cada escola apresenta um enredo e compete com as outras com alegorias, fantasias e performances coreografadas. Essa preparação envolve meses de trabalho nas comunidades envolvidas.
O turismo gerado durante o período carnavalesco traz benefícios econômicos diretos para as cidades e impulsiona o comércio, a hotelaria e a indústria criativa. A festa promove a visibilidade de artistas e músicos, como uma plataforma para novos talentos.
Além disso, o Carnaval é uma oportunidade para a promoção de outros bens culturais imateriais, como o frevo e o maracatu, expressões que enriquecem a festividade e mostra a diversidade das tradições brasileiras.
Cada um desses bens, que vão desde os centros históricos de cidades como Ouro Preto e Olinda até manifestações vivas como o frevo e o samba, desempenha um papel crucial na formação da cultura brasileira. Ao reconhecer e valorizar esses patrimônios, as futuras gerações podem continuar a celebrar e aprender com a história que moldou o país, além de promover um senso de pertencimento e orgulho, essencial para a construção de uma sociedade mais coesa e respeitosa com suas raízes.
Por Clarissa Sayumi