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Os cinco maiores poemas de Fernando Pessoa

Carine Roma
18:58 31.01.2025
Arte e cultura

Os cinco maiores poemas de Fernando Pessoa

Claro! Aqui vai uma versão ainda mais curta: Fernando Pessoa, ícone da literatura portuguesa, reinventou a poesia com seus heterônimos e visão única da identidade

Carine Roma - 31.01.2025 - 18:58
Os cinco maiores poemas de Fernando Pessoa
Foto: Reprodução

Fernando Pessoa, um dos maiores nomes da literatura mundial, transformou a poesia em um espelho da alma humana, capaz de refletir as angústias, as dúvidas e as complexidades de sua existência. Nascido em Lisboa, no início do século XX, o poeta foi muito mais do que um simples escritor: ele se tornou um mestre da introspecção e da fragmentação do eu.

Através de seus heterônimos — personagens distintos, com vidas, estilos e filosofias próprias — Pessoa não apenas diversificou sua escrita, mas também criou uma estrutura literária revolucionária que questiona as fronteiras entre identidade e ficção.

Em seus poemas, o leitor é conduzido por um universo multifacetado onde se exploram temas como a busca por sentido na vida, a solidão existencial e a incerteza do futuro. Sua obra transcende as barreiras do tempo e continua a tocar a todos que buscam compreender as profundezas do ser humano.

Além disso, a grande habilidade de Pessoa em captar as contradições e complexidades do pensamento humano permite que suas palavras ecoem de forma intensa e sincera, desafiando-nos a refletir sobre nossa própria existência.

Neste espaço, convidamos você a mergulhar no universo poético de Fernando Pessoa, um autor cujas obras continuam a inspirar e a instigar novos olhares sobre a literatura e sobre a vida. Aprofunde-se em seus versos, entenda suas inquietações e descubra como sua escrita ainda reverbera na sociedade contemporânea.

Trajetória de Fernando Pessoa: legado de um poeta insubstituível

Fernando Pessoa, nascido em Lisboa, Portugal, no ano de 1888, é uma das figuras mais fascinantes da literatura mundial. Sua obra ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço, oferecendo uma rica complexidade de pensamentos e sentimentos que ecoam até os dias atuais. Pessoa é especialmente reconhecido por sua criação dos heterônimos – personagens literários com vidas e estilos distintos, mas que, ao mesmo tempo, são reflexos de sua própria alma fragmentada. Entre os mais notáveis, destacam-se Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, este último responsável por escrever os célebres fragmentos reunidos em O Livro do Desassossego, uma de suas mais importantes obras.

Sua contribuição para o modernismo português, movimento do qual foi precursor, é igualmente significativa. Ao lado de nomes como Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, Pessoa ajudou a fundar a revista Orpheu, que desempenhou um papel essencial na difusão das ideias modernistas, não apenas em Portugal, mas também no Brasil. Sua escrita inovadora desafiou as convenções da época, trazendo uma nova perspectiva para a poesia e para a literatura como um todo.

Apesar de sua imensa produção literária, o único livro de poesia publicado em vida foi Mensagem, em 1934. O fato de grande parte de sua obra ter sido escrita em inglês – idioma no qual foi alfabetizado devido à carreira diplomática de seu padrasto – é um reflexo de sua vivência internacional, que também o levou a atuar como tradutor de grandes nomes da literatura mundial, como Lord Byron, Shakespeare e Edgar Allan Poe, sendo O Corvo uma de suas traduções mais célebres.

Falecido em 1935, em Lisboa, Fernando Pessoa deixou um legado incomparável, que continua a inspirar e a cativar leitores ao redor do mundo. A sua poesia, carregada de introspecção, dúvida e beleza, é um convite constante ao entendimento da condição humana.

Neste espaço, o Brasil Escola selecionou alguns dos melhores poemas de Fernando Pessoa para que você, leitor, possa conhecer e mergulhar um pouco mais nesse universo poético e filosófico. Esperamos que este breve encontro com o autor desperte seu interesse e leve você a explorar mais profundamente a obra de um dos maiores poetas da história da literatura.

Acompanhe os cinco poemas:

1 – Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.”
“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”

2 – Álvaro de Campos

Autopsicografia

O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 

E os que leem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 

E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. “

3 – Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem  alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti. 
Releio e digo:  “Fui  eu ?” 
Deus sabe, porque o escreveu. “

4 – É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma

Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. “

5 – Alberto Caeiro

Colhe o Dia, porque És Ele

Uns, com os olhos postos no passado, 
Veem o que não veem: outros, fitos 
Os mesmos olhos no futuro, veem 
O que não pode ver-se. 

Por que tão longe ir pôr o que está perto — 
A segurança nossa? Este é o dia, 
Esta é a hora, este o momento, isto 
É quem somos, e é tudo. 

Perene flui a interminável hora 
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto 
Em que vivemos, morreremos. Colhe 
O dia, porque és ele. “


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