Composições inesquecíveis de João do Vale: 28 anos sem o Poeta do Povo
Composições inesquecíveis de João do Vale: 28 anos sem o Poeta do Povo
Site da Novabrasil celebra a vida e a obra do artista que usou sua música para expressar as lutas e esperanças do povo nordestino; confira
A música de João do Vale nos lembra da importância da arte como ferramenta de resistência e expressão de lutas coletivas. Nascido em 11 de outubro de 1934, em Pedreiras, Maranhão, sua música traz a essência do povo nordestino e as injustiças sociais do Brasil impressas em sua poesia.
Hoje, faz 28 anos que perdemos o Poeta do Povo de alma sertaneja. Mas, antes de falar de sua morte, vamos falar de sua vida.
5 canções símbolos da cultura popular compostas por João do Vale:
1. Carcará
“Carcará”, uma parceria com José Cândido, é talvez a canção mais emblemática de João do Vale. Lançada no histórico show “Opinião”, em 1964, a música ganhou notoriedade na interpretação de Maria Bethânia, que a transformou em um símbolo de força e luta.
2. Estrela Miúda
“Estrela Miúda”, uma das primeiras composições de João, foi gravada por Marlene, em 1953, e, recentemente, regravada por Elba Ramalho. Essa canção traz à tona a simplicidade e a beleza da vida cotidiana, refletindo as raízes culturais do Maranhão.
3. Asa do Vento
Outra obra-prima é “Asa do Vento”, que conquistou o público na voz de Caetano Veloso. A canção aborda temas como liberdade e esperança, características marcantes na obra de João do Vale.
4. Pisa na Fulô
“Pisa na Fulô”, composta em parceria com Ernesto Pires e Silveira Júnior, é um xote que captura o espírito festivo e alegre das festas populares nordestinas. Essa canção se tornou um marco nas festas de São João para celebrar as tradições e a identidade nordestina.
5. Peba na Pimenta
Com Adelino Rivera, “Peba na Pimenta” é outra composição que destaca o talento de João do Vale para criar músicas que falam diretamente ao povo. Essa canção mistura ritmos e influências que caracterizam a música nordestina.
João do Vale: a história das músicas “Carcará” e “Coroné Antônio Bento”
O Poeta do Povo
A história de João do Vale conta a vida de tantos outros brasileiros que tiveram que colocar seus sonhos de lado para sobreviver. Aos 13 anos, mudou-se para São Luís e começou a vender laranjas nas ruas, enquanto participava de um grupo de bumba-meu-boi, o Linda Noite.
Sua jornada o levou ao Rio de Janeiro, em 1950, onde trabalhou como ajudante de pedreiro e começou a apresentar suas composições em programas de rádio. Foi nesse cenário que seu talento foi reconhecido e passou a ser conhecido como o “Poeta do Povo”.
Show Opinião
Dirigido por Augusto Boal, o Show Opinião estreou em 1964, poucos meses após o golpe militar. João do Vale estava em cena junto à Nara Leão (substituída por Maria Bethânia) e Zé Kéti, e intercalava canções com narrativas sobre as injustiças sociais da época. O espetáculo de protesto ficou em cartaz até 1966, no teatro Arena, em São Paulo.
Em 1975, João participou de nova montagem do show Opinião, ao lado de Zé Kéti e Marilia Medalha, com direção de Bibi Ferreira.
Uma homenagem a João do Vale
Em 1987, o maranhense sofreu um derrame cerebral e teve sua capacidade de comunicação reduzida, além de precisar de cadeira de rodas. Alguns anos depois, Chico Buarque organizou uma coletânea com 16 regravações das músicas de João do Vale, com renda revertida para o compositor. Participaram dessa homenagem artistas como Edu Lobo, Maria Bethânia e Alceu Valença.
O poeta também foi homenageado com peças teatrais sobre sua vida e obra e suas músicas “Carcará” e “Estrela Miúda” integraram a trilha sonora da novela “Cordel Encantado”, da TV Globo. Em 1995, um teatro no centro de São Luís recebeu seu nome como forma de reconhecimento à sua contribuição cultural.
João do Vale mostra o mais bonito do povo brasileiro, que é artista construído na sabedoria popular, na vida que acontece todo dia, no sofrimento de sua gente e nos sonhos que, por mais oprimidos, às vezes conseguem transpor os muros.