Conheça as 10 maiores obras de Jorge Amado
Conheça as 10 maiores obras de Jorge Amado
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Há quase 87 anos, em novembro de 1937, mais de 1,8 mil obras de literatura consideradas simpatizantes do comunismo serviram como combustível para uma grande fogueira que ardia na Cidade Baixa de Salvador a mando do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Mais de 90% dos livros queimados foram escritos por um jovem baiano chamado Jorge Amado.
Apesar de ter se formado em direito, em 1935, nunca exerceu a profissão, e resolveu se dedicar à escrita e à militância política. Sua posição como comunista o levou ao exílio, entre 1941 e 1942, período em que viveu na Argentina e no Uruguai.
Ao retornar ao Brasil, em 1945, foi o deputado federal mais votado de São Paulo pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Contudo, com a ilegalização do PCB em 1947, Amado novamente se viu forçado ao exílio, desta vez na França e na então chamada Tchecoslováquia.
A partir daí, é possível entender por que suas obras, que abordavam temas como a vida dos trabalhadores da Bahia, as injustiças sociais e as tradições culturais locais, alimentaram o fogo do fatídico novembro de 37.
Conheça suas principais obras
1- Capitães da Areia (1937)
Este romance narra a comovente história de meninos pobres que moram num trapiche abandonado em Salvador. Uma das obras mais emblemáticas do escritor, vendeu mais de cinco milhões de cópias desde o seu lançamento.
Capitães da Areia, trata sobre a infância abandonada e permanece atual até hoje. Vivendo à margem das convenções sociais, esses meninos de rua foram transformados em heróis por Jorge Amado.
2- Gabriela, Cravo e Canela (1958)
Ambientada na Ilhéus da década de 1920, Gabriela, Cravo e Canela fala sobre os costumes provincianos da sociedade cacaueira. Como personagens, coronéis e jagunços, prostitutas e malandros, imigrantes e sinhazinhas envolvidos em manobras políticas e tramas de amor e crime.
O romance entre o sírio Nacib e Gabriela, um dos mais sedutores personagens femininos criados por Jorge Amado, tem como pano de fundo a luta pela modernização de Ilhéus.
O romance esgotou as seis primeiras edições no primeiro ano de publicação, ganhou versões em 33 idiomas (é a obra do autor com maior número de traduções) e virou novela e filme.
3- Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966)
Dona Flor e seus dois maridos conta a história de Florípedes Paiva, que foi casada com o boêmio Vadinho, com quem viveu uma paixão avassaladora. Com a morte do marido, Flor se casa com o farmacêutico Teodoro e encontra a paz, a segurança e o amor metódico. Um dia, Vadinho volta como um fantasma capaz de proporcionar todo o erotismo de novo à protagonista.
Esta também foi uma obra que ganhou vida na televisão, no teatro e no cinema.
4- A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água (1961)
Jorge Amado narra a história das várias mortes de Joaquim Soares da Cunha, vulgo Quincas Berro Dágua, cidadão exemplar que à certa altura da vida decide abandonar a família e a reputação para juntar-se à malandragem da cidade.
Algum tempo depois, Quincas é encontrado morto. Sua família faz de tudo para enterrá-lo com decência, mas, no velório, os amigos de farra aparecem e a partir daí o protagonista vai ao encontro de sua segunda morte.
5- Mar Morto (1936)
Jorge Amado tinha apenas 24 anos quando escreveu Mar morto, obra que retrata histórias da beira do cais da Bahia. Os pescadores vivem o destino traçado de sair para o mar e serem levados por Iemanjá. Até que um dia o médico Rodrigo e a professora Dulce, dois forasteiros, procuram despertar a consciência da população do cais contra o marasmo e a opressão.
6- Tieta do Agreste (1977)
O romance conta a história de Tieta, uma mulher que retorna à sua cidade natal após anos em São Paulo. Quando adolescente, é surrada pelo pai e expulsa de Santana do Agreste depois que sua irmã mais velha, Perpétua, delata suas aventuras eróticas. Mas, depois de mais de 20 anos, Tieta está de volta ao vilarejo, no interior da Bahia, rica e poderosa.
7- Teresa Batista Cansada de Guerra (1972)
Essa é a história da luta de uma mulher num mundo de sofrimento, miséria e violência. Primeiro quando fica órfã e é vendida pelo tio a um capitão. Um dia, mata o seu algoz, vai presa, passa por um convento, cai num bordel.
Em Aracaju, apaixona-se por Gereba, marítimo baiano que é casado. A partir daí, sua história de sofrimento é contada e entrelaçada com os encontros e desencontros com seu amado.
8- Os Subterrâneos da Liberdade (1954)
O romance Os Subterrâneos da Liberdade é uma trilogia composta por três livros: Os Ásperos Tempos, Agonia da Noite e A Luz no Túnel. A narrativa se inicia nas vésperas do golpe que instaurou a ditadura de Getúlio Vargas em 1937, explorando a dinâmica entre a elite e o proletariado brasileiro. Amado traça um painel da sociedade da época, repleto de histórias de amor, traição, corrupção e valentia.
O autor mistura figuras históricas com personagens fictícios, descrevendo com maestria tanto as greves operárias quanto os banquetes da alta sociedade. A obra revela as negociatas escusas e os comícios populistas, além do trabalho clandestino dos militantes comunistas e a desinformação promovida pela censura na imprensa.
9- Seara Vermelha (1946)
Seara Vermelha narra a história de uma família de lavradores pobres que, expulsos de suas terras por um novo latifundiário, partem em direção ao sul. Durante a jornada pela caatinga, liderados pelo patriarca Jerônimo, muitos membros da família ficam pelo caminho. A segunda parte do livro foca nos três filhos de Jerônimo que deixaram casa antes do êxodo: Jão se torna soldado de polícia, José se transforma no temido cangaceiro Zé Trevoada e Juvêncio se engaja na luta revolucionária.
A obra retrata eventos cruciais da história brasileira, como a Revolução Constitucionalista de 1932 e o Levante Comunista de 1935, além do cangaço e das revoltas místicas. Jorge Amado entrelaça figuras históricas com personagens fictícios, apresentando um painel da sociedade da época, repleto de histórias de amor, traição, corrupção e coragem.
10- Tenda dos Milagres (1969)
Tenda dos Milagres narra a história de Pedro Arcanjo, um estudioso que publica obras sobre o sincretismo cultural e genético da Bahia. Sua trajetória se complica quando ele se torna alvo da elite baiana, sendo perseguido e perdendo seu emprego, o que resulta em um silêncio forçado em torno de sua obra.
Jorge Amado utiliza a figura de Pedro para traçar um painel da cultura negra baiana e sua resistência à repressão violenta enfrentada nas primeiras décadas do século XX. A obra resgata e exalta manifestações culturais como o candomblé, a capoeira, os afoxés e o samba de roda, destacando a luta e a resiliência do povo baiano diante das adversidades.
Além dessas obras principais, Jorge Amado escreveu muitos outros romances e livros infantis que também merecem destaque, como “O País do Carnaval” (1930) e “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” (1976). Sua literatura continua a influenciar gerações de leitores e artistas no Brasil e no mundo todo.
Mais sobre Jorge Amado
Jorge Amado de Faria, nasceu em 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Itabuna, Bahia. Sua infância foi marcada por tragédias familiares, incluindo o ferimento de seu pai em uma tocaia e a mudança da família para Ilhéus devido a uma epidemia de varíola. Alfabetizado por sua mãe, desde jovem, Amado demonstrou talento para a escrita, tornando-se repórter policial aos 14 anos.
Em 1931, publicou seu primeiro romance, O País do Carnaval, enquanto estudava Direito na Universidade do Rio de Janeiro. Influenciado por Rachel de Queiroz, aproximou-se do Partido Comunista e foi preso em 1942 por sua oposição ao governo de Getúlio Vargas.
Amado foi o quinto ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras e recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o título de obá orolu no candomblé, que ele considerava um dos mais significativos. Faleceu em 6 de agosto de 2001, apenas quatro dias antes de completar 89 anos, deixando um legado literário que retrata as problemáticas da sociedade brasileira da época que continua atual como nunca.