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Roberto Carlos: a trajetória do Rei no dia de seu aniversário

Lívia Nolla
00:00 19.04.2023
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Roberto Carlos: a trajetória do Rei no dia de seu aniversário

Para homenagear o cantor e compositor que completa 82 anos neste 19 de abril, nós preparamos uma matéria especialíssima sobre o Rei; confira

Novabrasil - 19.04.2023 - 00:00
Roberto Carlos: a trajetória do Rei no dia de seu aniversário
Roberto Carlos nos anos 60 | Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação Site Oficial

Hoje é aniversário de um dos maiores e mais consagrados nomes da música popular brasileira de todos os tempos, ídolo de toda uma geração, aquele que chamamos de Rei: Roberto Carlos!

E, para homenagear o cantor e compositor que completa 82 anos neste 19 de abril, nós preparamos uma matéria especialíssima sobre o Rei para vocês, que conta toda a sua trajetória, desde os primórdios até os dias atuais.

Roberto Carlos: vida e carreira

Nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, em 1941, Roberto Carlos aprendeu a tocar piano e violão ainda criança, primeiro com sua mãe e depois no Conservatório Musical de sua cidade natal. 

Foi incentivado pela mãe que Roberto cantou pela primeira vez em um programa infantil na Rádio Cachoeiro, ficando em primeiro lugar no concurso e, depois, tornando-se atração assídua da rádio. Ele cantava boleros e também Bob Nelson, ídolo da época, brasileiro que cantava música country em português.  

Roberto Carlos teve sua perna amputada aos seis anos de idade, quando sofreu um acidente enquanto brincava na linha férrea de Cachoeiro do Itapemirim, e usa uma prótese até hoje.

O primeiro conjunto musical e o encontro com o Tremendão

Em meados dos anos 50, Roberto Carlos mudou-se para o Rio de Janeiro e entrou em contato com o rock’n roll e o rockabilly, passando a ouvir artistas como:

  • Elvis Presley;
  • Bill Haley;
  • Little Richard;
  • Gene Vincent;
  • e Chuck Berry. 

Seu primeiro conjunto musical chamava-se The Sputniks e tinha Tim Maia em sua formação. O grupo passou a se apresentar no programa Clube do Rock, de Carlos Imperial. Foi nessa época que Roberto conheceu Erasmo Carlos, seu maior parceiro musical de toda a vida. 

O Tremendão – como foi apelidado depois do sucesso – nasceu Erasmo Esteves, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, também em 1941. Ele só passou a utilizar o sobrenome “Carlos” depois da parceria com o amigo Roberto, e também para homenagear Carlos Imperial

Erasmo era amigo de infância de Tim Maia, lá do bairro da Tijuca, mas os dois se aproximaram mesmo na adolescência, por conta da paixão pelo rock’n roll.

Como Roberto e Erasmo se conheceram?

Quando os Sputniks se separaram por conta de um desentendimento entre Roberto Carlos e Tim Maia, um dos integrantes – Arlênio Lívio – juntou-se a Erasmo e outros amigos da Tijuca, para formar o conjunto The Snakes, que também se apresentou no programa de Imperial

Em 1958, Roberto Carlos precisava da letra de uma canção interpretada por Elvis Presley e Arlênio Lívio disse que Erasmo Carlos seria a pessoa perfeita para ajudá-lo, pois era um grande fã de Elvis. Foi assim que eles se conheceram. Além de Elvis, ambos gostavam de Bob Nelson, James Dean, Marlon Brando, Marilyn Monroe, e torciam para o Vasco da Gama.

Depois de apresentados, Roberto e Erasmo criaram uma relação de amizade e parceria e resolveram investir na música jovem da época, passando a compor muito juntos e mudando para sempre a história da música pop brasileira: mesclando elementos da MPB, do rock’n roll, da soul music e das grandes baladas. 

Amigos de longa data, Erasmo e Roberto Carlos dividiram o palco durante anos | Foto: Arquivo Nacional/Reprodução

Carreira solo, primeiro álbum e o início da parceria com Erasmo Carlos

No início da década de 60, Roberto Carlos começou a sua carreira solo, apresentando-se como crooner na boate do Hotel Plaza, em Copacabana, sob influência do samba-canção e da bossa nova. Sua excelente qualidade vocal tinha muita influência de um outro grande ídolo de Roberto: João Gilberto

Logo, lançou seu primeiro álbum, Louco Por Você, em 1961, interpretando canções de outros compositores, principalmente de Carlos Imperial, e algumas versões (sem nome nem foto do artista na capa, este disco é uma raridade hoje em dia).

A primeira parceria da dupla Roberto e Erasmo foi logo em seguida: a canção Splish Splash, em 1963, lançada no segundo álbum de Roberto Carlos, que levou o nome da canção. Trata-se de uma versão de Erasmo Carlos para a composição dos norte-americanos Bobby Darin e Jean Murray.

Splish Splash, que conta com a participação de Renato e Seus Blue Caps, virou um grande hit na época, junto com Parei Na Contramão, outra composição de Erasmo em parceria com Roberto desse mesmo disco, que já mostra uma sensível diferença no repertório de Roberto Carlos, da bossa nova e da música romântica para o rock and roll, o que impulsionou a carreira do cantor, fazendo-o atingir o topo das paradas brasileiras. 

Hits no topo das paradas e a Ternurinha Wanderléa

Em 1964, Roberto Carlos entrou novamente para as paradas de sucesso, com o álbum É Proibido Fumar, que – além da faixa-título (parceria de Roberto e Erasmo) traz outro grande hit O Calhambeque (versão de Erasmo Carlos para a canção Road Hog, de John e Gwen Loudermilk).

Nesta época, Roberto Carlos conheceu uma parceira de gravadora na CBS, que havia lançando o seu primeiro álbum em 1963: a cantora e compositora  Wanderléa.

Em 1965, o Tremendão lançou o seu primeiro álbum – A Pescaria com Erasmo Carlos – que contou com diversas parcerias de sucesso com Roberto, como Festa de Arromba e Minha Fama de Mau.

Wanderléa lançou o LP É Tempo do Amor, que conta com um dos maiores sucessos de sua carreira: a canção Ternura (versão de Rossini Pinto para a música Somehow It Got To Be Tomorrow (Today), de Estelle Levitt e Kenny Karen), hit que rendeu à cantora o apelido de Ternurinha.

Neste mesmo ano, Roberto lançou o disco Roberto Carlos canta para a Juventude, que conta com o sucesso Não Quero Ver Você Triste, dele e de Erasmo.

Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa: época da Jovem Guarda | Foto: Abraham Lincoln/Veja SP

A Jovem Guarda

Ainda em 1965 – por conta do estrondoso sucesso dos três – Roberto, Erasmo e Wanderléa foram convidados para apresentar o programa de televisão Jovem Guarda, na TV Record, aos domingos à tarde (daí vem a canção Jovens Tardes de Domingo, de Erasmo e Roberto, lançada em 1977!). 

A partir daí, os três artistas e amigos tornam-se os grandes responsáveis pelo primeiro movimento musical do rock brasileiro – um dos maiores movimentos musicais e culturais de massa do país, que revolucionou o comportamento jovem brasileiro: a Jovem Guarda.

O movimento foi chamado primeiramente de Iê-iê-iê (em alusão à expressão “yeah-yeah-yeah” presente no sucesso dos Beatles, She Loves You) e depois de Jovem Guarda, inspirado em uma frase do revolucionário russo Vladimir Lênin, que dizia “O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada”.

As gravações do programa aconteciam no Teatro Record, em São Paulo – com plateia – e ele era transmitido ao vivo. Ao longo de uma hora, o trio cantava seus sucessos e recebia convidados. O alcance era impressionante para a época: conseguia ter uma audiência de três milhões de telespectadores em São Paulo, e era transmitido em videotape para cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.

Wanderléa, Erasmo Carlos e Roberto Carlos no filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa (1970)
Wanderléa, Erasmo Carlos e Roberto Carlos no filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa (1970). | Foto: Divulgação/TV Brasil.

A influência da Jovem Guarda

O programa tornou-se um fenômeno de audiência e mídia, assim como o movimento – que unia música, moda e comportamento, dando origem a uma nova linguagem musical e comportamental no país e arrastando multidões. A principal influência da Jovem Guarda era o rock’n roll do final da década de 50, principalmente Elvis Presley e The Beatles, e o soul da Motown, famosa gravadora norte-americana. 

As músicas – em um primeiro momento – eram as versões em português de hits do rock estrangeiro e – mais tarde – os astros da Jovem Guarda passaram a lançar suas próprias canções, encabeçados pelos principais compositores do movimento: Roberto e Erasmo. As letras tinham temática amorosa e do universo jovem.

Todo o comportamento da juventude daquele período tinha referência na Jovem Guarda e seus astros: além da música, o modo de se vestir (calças colantes de duas cores em formato boca-de-sino, cintos e botas coloridas, mini saia com botas de cano alto), as gírias e as expressões como:

  • “broto”;
  • “carango”;
  • “legal”;
  • “coroa”;
  • “barra limpa”;
  • “lelé da cuca”;
  • “mancada”;
  • “pão”;
  • “papo firme”;
  • “maninha”;
  • “pinta”;
  • “pra frente”;
  • e “é uma brasa, mora?”.  

O Fim da Jovem Guarda 

Depois de estrondoso sucesso durante três anos, o programa dominical chegou ao fim em 1968, pouco depois de Roberto Carlos deixar a atração.

Os integrantes da Jovem Guarda tomaram rumos distintos no início da década de 70: alguns mantiveram-se identificados com o rock, outros se mudaram para a música sertaneja e a grande maioria enveredou-se para a música romântica.

O movimento da Jovem Guarda – que foi perdendo a força aos poucos com o fim do programa – mudou para sempre o rumo da história da música popular brasileira. Alguns de seus integrantes, como Roberto e Erasmo, nunca deixaram de produzir coisas juntos.

A estética da Jovem Guarda teve grande influência em uma nova geração de artistas da música popular brasileira que veio depois. Se você quiser saber mais sobre o movimento e os outros artistas que fizeram parte da Jovem Guarda, acesse o episódio especial do Acervo MPB Novabrasil, uma verdadeira enciclopédia da música popular brasileira.

Muitos dos grandes artistas da nossa música foram influenciados pela Jovem Guarda, principalmente as bandas de rock e pop rock que surgiram com força a partir dos anos 80 e 90, como:

  • Titãs;
  • Legião Urbana;
  • Barão Vermelho;
  • Kid Abelha;
  • Os Paralamas do Sucesso;
  • Skank;
  • e Pato Fu.

Os sucessos de Roberto Carlos na Jovem Guarda

Roberto Carlos lançou muitas outras canções de sucesso estrondoso, ainda dentro da Jovem Guarda, como:

  • Que Tudo Vá Pro Inferno;
  • Eu Te Darei o Céu;
  • Eu Sou Terrível (essa e as duas músicas acima são parcerias com Erasmo Carlos);
  • Namoradinha de Um Amigo Meu;
  • Como É Grande O Meu Amor Por Você;
  • Por Isso Corro Demais;
  • Você Não Serve Pra Mim;
  • Quando (essa e as quatro acima são composições apenas de Roberto);
  • Nossa Canção (de Luiz Ayrão);
  • Esqueça (versão de Roberto Corte Real para a canção Forget Him, de Mark Anthony);
  • e Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim (de Rossini Pinto).

Roberto Carlos: um Rei Consolidado pós Jovem Guarda

Depois da Jovem Guarda, Roberto Carlos continuou lançando um sucesso atrás do outro: conquistou o público adulto e o mundo com sua onda romântica, não sem antes ter uma importante passagem pela black music, com o soul e o funk, no disco O Inimitável, de 1968.

O nome do disco se deu porque o sucesso de Roberto era tanto, que muitos artistas começaram a tentar copiar o seu jeito de cantar, de falar e de comportar. 

Este álbum trouxe grandes sucessos como:

  • Se Você Pensa;
  • As Canções Que Você Fez Pra Mim;
  • Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo (essa e as duas canções acima são parcerias com Erasmo);
  • E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só (de Antônio Marcos);
  • e Ciúme de Você (de Luiz Ayrão). 

Roberto também fez sucesso no cinema. No fim da década de 60 e início da década de 70, o Rei foi estrela de três filmes:

  • Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968);
  • Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa (1970);
  • e Roberto Carlos a 300 Quilômetros Por Hora (1971).

Todos os filmes foram dirigidos por Roberto Farias

Os sucessos de Roberto Carlos na fase mais romântica

Depois, a partir de 1969, já enveredando para o romântico, mas sem nunca deixar as raízes do rock e também o soul, Roberto Carlos lançou diversos outros grandes sucessos compostos em parceria com Erasmo, como:

  • Sua Estupidez;
  • As Curvas da Estrada de Santos;
  • Jesus Cristo;
  • Detalhes;
  • Todos Estão Surdos;
  • De Tanto Amor;
  • O Portão;
  • É Preciso Saber Viver;
  • Você;
  • Emoções;
  • Não Se Esqueça de Mim;
  • Café da Manhã;
  • Fé;
  • Lady Laura;
  • Costumes;
  • Cama e Mesa;
  • Fera Ferida;
  • Além do Horizonte;
  • Olha;
  • Ilegal, Imoral ou Engorda;
  • além de Debaixo do Caracóis dos seus Cabelos, escrita em homenagem a Caetano Veloso, quando o baiano estava no exílio em Londres.

Lançou também outros sucessos como:

  • Não Vou Ficar (música de Tim Maia que revelou o cantor ao grande público, depois dele voltar de uma temporada nos Estados Unidos e que selou a paz entre ele e Roberto);
  • Como Vai Você (de Antônio Marcos e Mário Marcos);
  • Falando Sério (de Maurício Duboc e Carlos Colla);
  • Outra Vez (de Isolda).

Conquistas e premiações

Das quase 700 canções de Roberto cadastradas no ECAD, a imensa maioria são em parceria com Erasmo Carlos.

Muitas dessas canções também foram gravadas por Erasmo em seus discos ao longo da carreira de sucesso que o Tremendão também seguiu após a Jovem Guarda. O Rei escreveu a letra da canção Amigo, em homenagem ao Tremendão, em cima de uma música composta por Erasmo.

Entre 1961 e 1998, o Rei Roberto Carlos lançou um disco inédito por ano. É o artista solo com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira, tendo vendido mais de 140 milhões de cópias no Brasil e no mundo, incluindo gravações em espanhol, italiano, inglês e francês.  

Muitos dos grandes artistas da nossa música fizeram regravações das canções de Roberto, como:

  • Caetano Veloso;
  • Gal Costa;
  • Maria Bethânia;
  • Elis Regina;
  • Nando Reis;
  • Vanessa da Mata;
  • Lulu Santos;
  • Marisa Monte;
  • Adriana Calcanhoto

E bandas como:

  • Skank;
  • Kid Abelha;
  • Barão Vermelho;
  • e Titãs.

Nomes internacionais também gravaram o Rei, como Julio Iglesias e Jennifer Lopez.

Durante sua carreira, Roberto Carlos ganhou seis Grammy Latinos e um Grammy Awards, em 1988, de Melhor Cantor Latino-americano.

Também atingiu o topo da parada latina da Billboard neste mesmo ano e foi considerado pela revista Rolling Stone Brasil como o 6º maior artista da história da música brasileira, em lista elaborada em 2008.

Viva Roberto, você é o cara! Ou melhor: Esse cara é você! E como é grande o nosso amor por você, que faz parte de cada Detalhe das nossas vidas e que nos deu tantas Emoções, com cada uma das canções que você fez pra nós! Obrigada!

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Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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