No Dia do Marinheiro, a história da canção Marinheiro Só

Novabrasil
14:00 13.12.2022
Jornalismo

No Dia do Marinheiro, a história da canção Marinheiro Só

Dia 13 de dezembro é comemorado o Dia do Marinheiro no Brasil,  em homenagem aquele que é considerado o patrono da Marinha Brasileira, Joaquim Marques Lisboa, conhecido como Almirante Tamandaré, que nasceu neste dia, em 1807. Mas nós, apaixonados por música que somos, trouxemos a história da canção Marinheiro Só, para homenagear outros tantos trabalhadores … Continued

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- 13.12.2022 - 14:00
No Dia do Marinheiro, a história da canção Marinheiro Só
Clementina de Jesus | Foto: Walter Firmo (Acervo IMS)

Dia 13 de dezembro é comemorado o Dia do Marinheiro no Brasil,  em homenagem aquele que é considerado o patrono da Marinha Brasileira, Joaquim Marques Lisboa, conhecido como Almirante Tamandaré, que nasceu neste dia, em 1807.

Mas nós, apaixonados por música que somos, trouxemos a história da canção Marinheiro Só, para homenagear outros tantos trabalhadores dos mares neste Brasilzão. 

Marinheiro Só ficou eternizado na voz de Clementina de Jesus | Foto: Walter Firmo/Acervo IMS

A história da música Marinheiro Só

Marinheiro Só tem sua origem no folclore

Marinheiro Só tem sua origem no folclore: é uma cantiga de roda tradicional brasileira, que era cantada pelos pescadores e marinheiros, antes de deixarem suas casas e famílias para trás para embarcarem em seus ofícios pelos mares.

A canção também era bastante entoada nas Marujadas, festas populares típicas das regiões Nordeste e Norte do Brasil – com muito canto e dança – para receber o povo que volta do mar.

Um ritual de celebração pelo retorno daqueles que enfrentaram tormentas no mar

Trata-se de um ritual de celebração pelo retorno daqueles que enfrentaram tormentas no mar bravio para conquistar o mundo. Metáfora que nos serve para a luta da vida cotidiana, a travessia das dificuldades, as tempestades que nos atormentam.

Cantar e dançar nessa roda, junto com os nossos, nos faz lembrar que precisamos uns dos outros, necessitamos de união e força para atravessar as ondas. 

A irmandade do samba de roda e também da capoeira personificam esse espírito. Aí entra também toda a nossa ancestralidade africana, que regem a musicalidade brasileira, assim como os cultos aos orixás que teve de ser resignado ao sincretismo religioso pelos escravizados desde a época do Brasil Colônia.

Eu não sou daqui

Marinheiro só

Eu não tenho amor

Marinheiro só

 

Eu sou da Bahia

Marinheiro só

De São Salvador

Marinheiro só

 

Ô, marinheiro, marinheiro

Marinheiro só

Ô, quem te ensinou a nadar

Marinheiro só

 

Ou foi o tombo do navio

Marinheiro só

Ou foi o balanço do mar

Marinheiro só

 

Lá vem, lá vem

Marinheiro só

Como ele vem faceiro

Marinheiro só

 

Todo de branco

Marinheiro só

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Com seu bonezinho

Marinheiro só

A canção ganhou uma adaptação de Caetano Veloso em 1969

De domínio público, a canção Marinheiro Só ganhou uma adaptação de Caetano Veloso em 1969, para o disco que levou o seu nome, lançado pouco antes do baiano partir para o exílio por conta da perseguição e forte repressão sofrida pela ditadura militar e logo depois de ter sido preso pelo regime, junto com Gilberto Gil, ambos líderes do Movimento Tropicalista

O álbum é o único de toda a discografia do artista até então que não traz uma foto de Caetano na capa. Em seu site ele explica que tinha sido obrigado a raspar seus famosos caracóis na prisão.

Depois – em 1971, já no exílio – Caetano é tomado por uma profunda tristeza e mergulha numa forte depressão.

If I Hold A Stone

Marinheiro Só serve de base para a faixa If I Hold A Stone, canção que entra para o seu primeiro disco gravado em Londres, em que Caetano Veloso fala da saudade que sentia do Brasil, reforçada ainda mais pela inserção do trecho de Quero Voltar Pra Bahia, canção-hino que os amigos Paulo Diniz e Odibar fizeram especialmente para o exílio de Caetano:

If you hold a stone 

Hold it in your hand 

If you feel the weight 

You’ll never be late to understand

 

Eu não sou daqui 

Eu não tenho amor 

Eu sou da Bahia 

De São Salvador

 

Eu não vim aqui 

Para ser feliz

Cadê meu sol dourado

E cadê as coisas do meu país?


As sete faixas do disco, quase todas em inglês, traduzem – em suas letras, arranjos e melodias – a dor de Caetano por ter sido arrancado à força de seu país.

Até a capa do disco reflete o momento que o artista vivia. Na foto, vestido com um casaco de peles que parece o proteger do frio e da frieza dos tempos de exilado e de uma Londres cinzenta e chuvosa, ele nos olha fixamente, com um olhar extremamente sério, triste e penetrante, como se estivesse nos pedindo socorro.

Foto: Johnny Clamp

Em 1973, Clementina de Jesus lançou o antológico disco Marinheiro Só

Em 1973, com Caetano já de volta ao Brasil, a cantora e compositora Clementina de Jesus lançou o antológico disco Marinheiro Só, que dedicou ao baiano. Sua regravação da canção-título ficou eternizada e guiou todo o resto do disco. 

Clementina, que tinha 72 anos durante a gravação desse álbum e tem sua vida confundida com a história do samba, traz a essência do afro-brasileiro e sua obra, representando um elo ancestral entre o Brasil e a África.

Caetano havia homenageado Clementina no encarte do seu disco anterior, o experimental Araçá Azul, de 1972.

Clementina de Jesus tornou-se um símbolo de várias gerações de compositores e cantores brasileiros

Empregada doméstica por quase toda a sua vida, negra e analfabeta, Clementina de Jesus tornou-se um símbolo de várias gerações de compositores e cantores brasileiros que, a despeito de sua origem humilde, escreveram a história da música brasileira, mais particularmente a história do samba. 

Dotada de uma voz estridente e de uma interpretação que beirava o rústico, a simples citação de seu nome no encarte do disco de Caetano invoca não só uma importante parcela da música brasileira, mas também toda a história social de seus compositores e cantores.

Clementina de Jesus desfilando pela Mangueira, escola que adotou após seu casamento com Albino Pé Grande (17/02/1969) | Foto: Agência O Globo

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