
No Dia do Marinheiro, a história da canção Marinheiro Só
No Dia do Marinheiro, a história da canção Marinheiro Só
Dia 13 de dezembro é comemorado o Dia do Marinheiro no Brasil, em homenagem aquele que é considerado o patrono da Marinha Brasileira, Joaquim Marques Lisboa, conhecido como Almirante Tamandaré, que nasceu neste dia, em 1807. Mas nós, apaixonados por música que somos, trouxemos a história da canção Marinheiro Só, para homenagear outros tantos trabalhadores … Continued


Dia 13 de dezembro é comemorado o Dia do Marinheiro no Brasil, em homenagem aquele que é considerado o patrono da Marinha Brasileira, Joaquim Marques Lisboa, conhecido como Almirante Tamandaré, que nasceu neste dia, em 1807.
Mas nós, apaixonados por música que somos, trouxemos a história da canção Marinheiro Só, para homenagear outros tantos trabalhadores dos mares neste Brasilzão.

A história da música Marinheiro Só
Marinheiro Só tem sua origem no folclore
Marinheiro Só tem sua origem no folclore: é uma cantiga de roda tradicional brasileira, que era cantada pelos pescadores e marinheiros, antes de deixarem suas casas e famílias para trás para embarcarem em seus ofícios pelos mares.
A canção também era bastante entoada nas Marujadas, festas populares típicas das regiões Nordeste e Norte do Brasil – com muito canto e dança – para receber o povo que volta do mar.
Um ritual de celebração pelo retorno daqueles que enfrentaram tormentas no mar
Trata-se de um ritual de celebração pelo retorno daqueles que enfrentaram tormentas no mar bravio para conquistar o mundo. Metáfora que nos serve para a luta da vida cotidiana, a travessia das dificuldades, as tempestades que nos atormentam.
Cantar e dançar nessa roda, junto com os nossos, nos faz lembrar que precisamos uns dos outros, necessitamos de união e força para atravessar as ondas.
A irmandade do samba de roda e também da capoeira personificam esse espírito. Aí entra também toda a nossa ancestralidade africana, que regem a musicalidade brasileira, assim como os cultos aos orixás que teve de ser resignado ao sincretismo religioso pelos escravizados desde a época do Brasil Colônia.
Eu não sou daqui
Marinheiro só
Eu não tenho amor
Marinheiro só
Eu sou da Bahia
Marinheiro só
De São Salvador
Marinheiro só
Ô, marinheiro, marinheiro
Marinheiro só
Ô, quem te ensinou a nadar
Marinheiro só
Ou foi o tombo do navio
Marinheiro só
Ou foi o balanço do mar
Marinheiro só
Lá vem, lá vem
Marinheiro só
Como ele vem faceiro
Marinheiro só
Todo de branco
Marinheiro só
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Com seu bonezinho
Marinheiro só
A canção ganhou uma adaptação de Caetano Veloso em 1969
De domínio público, a canção Marinheiro Só ganhou uma adaptação de Caetano Veloso em 1969, para o disco que levou o seu nome, lançado pouco antes do baiano partir para o exílio por conta da perseguição e forte repressão sofrida pela ditadura militar e logo depois de ter sido preso pelo regime, junto com Gilberto Gil, ambos líderes do Movimento Tropicalista.
O álbum é o único de toda a discografia do artista até então que não traz uma foto de Caetano na capa. Em seu site ele explica que tinha sido obrigado a raspar seus famosos caracóis na prisão.
Depois – em 1971, já no exílio – Caetano é tomado por uma profunda tristeza e mergulha numa forte depressão.
If I Hold A Stone
Marinheiro Só serve de base para a faixa If I Hold A Stone, canção que entra para o seu primeiro disco gravado em Londres, em que Caetano Veloso fala da saudade que sentia do Brasil, reforçada ainda mais pela inserção do trecho de Quero Voltar Pra Bahia, canção-hino que os amigos Paulo Diniz e Odibar fizeram especialmente para o exílio de Caetano:
If you hold a stone
Hold it in your hand
If you feel the weight
You’ll never be late to understand
Eu não sou daqui
Eu não tenho amor
Eu sou da Bahia
De São Salvador
Eu não vim aqui
Para ser feliz
Cadê meu sol dourado
E cadê as coisas do meu país?
As sete faixas do disco, quase todas em inglês, traduzem – em suas letras, arranjos e melodias – a dor de Caetano por ter sido arrancado à força de seu país.
Até a capa do disco reflete o momento que o artista vivia. Na foto, vestido com um casaco de peles que parece o proteger do frio e da frieza dos tempos de exilado e de uma Londres cinzenta e chuvosa, ele nos olha fixamente, com um olhar extremamente sério, triste e penetrante, como se estivesse nos pedindo socorro.

Em 1973, Clementina de Jesus lançou o antológico disco Marinheiro Só
Em 1973, com Caetano já de volta ao Brasil, a cantora e compositora Clementina de Jesus lançou o antológico disco Marinheiro Só, que dedicou ao baiano. Sua regravação da canção-título ficou eternizada e guiou todo o resto do disco.
Clementina, que tinha 72 anos durante a gravação desse álbum e tem sua vida confundida com a história do samba, traz a essência do afro-brasileiro e sua obra, representando um elo ancestral entre o Brasil e a África.
Caetano havia homenageado Clementina no encarte do seu disco anterior, o experimental Araçá Azul, de 1972.
Clementina de Jesus tornou-se um símbolo de várias gerações de compositores e cantores brasileiros
Empregada doméstica por quase toda a sua vida, negra e analfabeta, Clementina de Jesus tornou-se um símbolo de várias gerações de compositores e cantores brasileiros que, a despeito de sua origem humilde, escreveram a história da música brasileira, mais particularmente a história do samba.
Dotada de uma voz estridente e de uma interpretação que beirava o rústico, a simples citação de seu nome no encarte do disco de Caetano invoca não só uma importante parcela da música brasileira, mas também toda a história social de seus compositores e cantores.