História das músicas Frisson e Cartas Canções, de Tunai

por Lívia Nolla

Se não tivesse nos deixado em 2020, vítima de uma parada cardíaca, aos 69 anos, o cantor e compositor mineiro Tunai completaria 73 anos no dia de hoje. Tunai é compositor de diversos clássicos da MPB, como Certas Canções e Frisson, sobre as quais vamos saber a história hoje.

E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira, nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Sobre Tunai

Tunai teve uma contribuição imensa para a história da música popular brasileira.

Irmão do também cantor e compositor João Bosco,  o artista mineiro abandonou os estudos em Engenharia Civil para dedicar-se à música, estreando em 1978, quando Fafá de Belém gravou sua canção Se Eu Disser, composta junto com seu grande parceiro Sérgio Natureza.

De lá pra cá, Tunai compôs – em parceria ou sozinho – outros diversos sucessos, que tornaram-se clássicos nas mais importantes vozes da nossa MPB.

Foi Elis Regina quem projetou ainda mais Tunai como compositor, a partir de 1979. As composições dele fizeram imenso sucesso na voz de Elis, a quem o mineiro rasgava elogios: “Elis Regina foi o principal vestibular que passei na minha vida. Ser gravado por ela abriu completamente as portas para mim. Foi uma coisa tão boa que eu nunca deixei de homenagear a Elis, que deixou um legado incrível. Morreu cedo, mas viveu mais de 100 anos”.

Tunai também gravou discos solo como cantor e intérprete, lançando 10 discos ao longo da carreira, sendo o primeiro – Todos os Tons – em 1981.

Alguns dos principais sucessos de Tunai:

• As Aparências Enganam (1979);
• Agora Tá (1980); e
• Frisson (1984), todas parcerias  com Sérgio Natureza;

Além de:

• Certas Canções (parceria com Milton Nascimento, de 1982); e
• Eternamente (parceria com Sérgio Natureza e Liliane, de 1983)

E, para homenagear Tunai nesta data especial, vamos contar a história de dois dos seus maiores clássicos: Certas Coisas e Frisson.

História da música Certas Canções (parceria com Milton Nascimento, 1982)

Certas Canções é uma parceria de Tunai com Milton Nascimento, lançada por Bituca no disco Ânima, de 1982.

Milton contou certa vez em entrevista que fez essa letra inspirado na canção Ebony and Ivory, de Paul McCartney, gravada em 1982, em parceria com Stevie Wonder. Ele diz que se identificou tanto com a letra do ex-Beatle, que – assim que a música acabou de tocar no rádio – resmungou: “Como eu não pensei nisso antes? Era o marfim e o ébano, o branco e o preto convivendo em harmonia no instrumento”.

Ebony and Ivory, quer dizer Ébano e Marfim, em inglês. Na canção, Paul McCartney faz uma ode contra o racismo: é sobre o ébano (preto) e marfim (branco) das teclas de piano, mas também tem a ver com a integração e harmonia racial, de maneira mais profunda.

O título foi inspirado por McCartney ao ouvir o ator britânico-irlandes Spike Milligan dizer “notas pretas, notas brancas, e você precisa tocar as duas pra fazer harmonia, gente!”. Foi então que Paul McCartney compôs a canção que, em tradução literal diz:

O ébano e o marfim
Vivem juntos em perfeita harmonia
Lado a lado no teclado do meu piano

Oh, Senhor, por que nós não?

Todos sabemos
Que as pessoas são as mesmas onde quer que você vá
Há o bem e o mal
Em todo mundo

Milton Nascimento conta que tempos depois de escutar Ebony and Ivory e pensar que a podia ter escrito, Tunai lhe mandou uma música e pediu para que ele escrevesse uma letra. Foi assim que nasceu Certas Canções, completamente inspirada na música de Paul McCartney com Stevie Wonder:

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz

Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor

História da música Frisson ( parceria com Sérgio Natureza, de 1984)

Você caiu do céu
Um anjo lindo que apareceu
Com olhos de cristal
Me enfeitiçou
Eu nunca vi nada igual

Um dos maiores sucessos da carreira de Tunai, parceria com Sérgio Natureza, Frisson foi lançada pelo cantor e compositor mineiro, em seu terceiro álbum: Em Cartaz, de 1984.

A melodia nasceu primeiro e foi composta por Tunai, sensibilizado após assistir uma ópera-rock que estava bombando na época: Tommy, da banda britânica The Who. Ele também compôs o refrão: “Eu tinha essa estrofe na cabeça: Me olha, me toca, me faz sentir/que é hora, agora, da gente ir…” inspirado na história da ópera, que era muito triste: “O pai vai pra guerra e o filho fica lá com a mãe. Aí [o pai] fica todo desfigurado e quando volta para casa para reencontrar com a família, a mãe está casada com outro cara e ela rejeita essa relação. E o filho sente que o pai dele é o outro.”.

E Tunai continua contando, em entrevista para Ruy Godinho, na coleção literária Então, Foi Assim, que uma paixão inspirou Sérgio Natureza a fazer o restante da letra: “Eu morava em Ipanema, o Sérgio também morava. E uma modelo muito bonita, que desfilava com jóias na Europa, morava a umas quatro quadras à frente. Ele a conheceu num bar e a letra veio toda. E antes de eles namorarem de verdade, já rolou. Porque acontece essa coisa. A gente nasceu pra isso. Nós temos esse dom que Deus deu e de repente a música pode surgir na hora. Ele já estava com a minha música e já tinha esse refrão. (…) Eu sei que dois dias depois a letra estava pronta, não sei nesse meio tempo o que aconteceu, mas sei que ele ficou feliz, namoraram bastante tempo.”.

Frisson fez imenso sucesso e foi, depois, regravada por nomes como Roupa Nova, Elba Ramalho e Ivete Sangalo.

​​Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Tunai.