
História da música Sonho Meu, de Dona Ivone Lara

História da música Sonho Meu, de Dona Ivone Lara
Você conhece a história da música Sonho Meu, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho? 13 de abril é dia de celebrar a existência de Dona Ivone Lara, uma das mais importantes artistas da música popular brasileira de todos os tempos, que nasceu há exatos 102 anos, em 1922. E, para homenagear a aniversariante do … Continued

Você conhece a história da música Sonho Meu, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho?
13 de abril é dia de celebrar a existência de Dona Ivone Lara, uma das mais importantes artistas da música popular brasileira de todos os tempos, que nasceu há exatos 102 anos, em 1922.
E, para homenagear a aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira, nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Sobre Dona Ivone Lara
Pioneira, a cantora, compositora e instrumentista fez história como a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba e a assinar um samba-enredo, abrindo caminho para muitas artistas mulheres que vieram depois. Por isso, Dona Ivone Lara ficou conhecida como Rainha do Samba ou a Grande Dama do Samba.
Nascida no Rio de Janeiro, em 1921, em uma família muito musical, Yvonne Lara da Costa conviveu desde cedo com nomes como Pixinguinha e Donga. Aprendeu cavaquinho com seu tio e começou sua trajetória na música ainda bem jovem, no coro Orfeão dos Apinacás, regido por Heitor Villa-Lobos.
Ivone Lara também foi enfermeira por mais de 30 anos, antes de se dedicar inteiramente à música. Foi uma das primeiras mulheres formadas em assistência social no Brasil e uma das primeiras mulheres negras com curso superior no país.
Durante anos, se dedicou a trabalhos em hospitais psiquiátricos, chegando a trabalhar junto com a doutora Nise da Silveira.
Com 24 anos, Ivone Lara passou a frequentar a Escola de Samba Prazer da Serrinha, onde conheceu seus grandes parceiros musicais e logo começou a compor sambas para a escola.
Acontece que suas composições eram mostradas para os outros sambistas pelo primo Mestre Fuleiro, como se fossem dele, porque o preconceito vigente na época não aceitava que uma mulher fosse sambista.
Ela só foi reconhecida como compositora de seus sambas e passou a integrar, oficialmente, a Ala de Compositores da uma escola de samba muitos anos depois, aos 44 anos, já na Império Serrano, quebrando todas as barreiras impostas pelo machismo, o preconceito e a discriminação.
Depois disso, a artista se tornou madrinha da Ala dos Compositores de sua escola e a passou a desfilar também na Ala das Baianas.
Em 1970, ela participou pela primeira vez da gravação de um disco como cantora. E em 1978, lançou seu primeiro álbum. Depois disso, não parou mais, lançando um sucesso atrás do outro e se tornando uma das artistas mais produtivas e importantes do Brasil, reconhecida no mundo inteiro.
Com composições e melodias refinadas, Dona Ivone Lara cantava e compunha como ninguém sobre as alegrias e as mazelas do povo negro. Muitos outros grandes artistas também gravaram as suas canções.
Entre as suas centenas de sucessos, podemos destacar clássicos como: Sonho Meu, Sorriso Negro, Alguém me Avisou, Acreditar, Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço, Tiê e Nasci Pra Sonhar e Cantar.
Dona Ivone Lara partiu em 2018, aos 97 anos, mas o legado que ela deixa para a música brasileira é incomparável. Um verdadeiro patrimônio da nossa cultura!
Quer saber mais sobre a vida e obra da Grande Dama do Samba? Acesse o Acervo Novabrasil Especial Dona Ivone Lara, nossa série de áudio-biografias exclusiva: uma verdadeira enciclopédia na MPB.
Ou confira esta matéria completa que preparamos no último aniversário da artista.
Hoje, para prestar uma homenagem a esta artista tão importante da nossa MPB, vamos contar a história de um de seus maiores sucessos: a canção Sonho Meu, composta por Dona Ivone Lara em parceria com Délcio Carvalho, em 1978.

História da canção Sonho Meu, de Dona Ivone Lara
Segundo Maria Bethânia, a primeira a gravar Sonho Meu, essa canção tem algo de sonho, mas aconteceu de verdade!
Em 1978, quando tava buscando canções para seu novo disco, Álibi, a baiana se encontrou com Dona Ivone Lara pra conhecer algumas das composições da grande dama do samba. Elas passaram a tarde juntas, Dona Ivone Lara mostrando seus sambas inéditos, e Bethânia gostou muito de vários deles, mas ficou de decidir mais tarde o que caberia melhor no repertório daquele disco.
Na hora de ir embora, já se encaminhando para a porta e se despedindo, Dona Ivone Lara cantarolou uma pequena melodia que atraiu a atenção da baiana: “Sonho Meu, Sonho Meu, vai buscar quem mora longe, Sonho Meu.”
Maria Bethânia se apaixonou na hora e falou: “Que música é essa? Eu amei! Me mostra ela inteira.”. Dona Ivone Lara falou que era um samba que tinha composto há pouco, com um de seus grandes parceiros, Délcio Carvalho. Ela contou que ficou com aquela melodia e aquele refrão na cabeça por dias, que chegou até a sonhar com eles, e que mandou pro Délcio terminar a canção.
Bethânia não teve dúvida! Era aquele samba que gravaria em seu disco Álibi, e que ainda contaria com a participação de Gal Costa na gravação, trazendo um lindíssimo contraste entre as vozes das duas baianas e sendo um dos maiores sucessos daquele ano.
O sucesso de Sonho Meu também abriu as portas para Dona Ivone Lara se aposentar de vez da carreira de enfermeira e assistente social – carreira que, como já contamos, levava junto com o samba – e também a assinar um contrato para gravar seu primeiro disco solo, também em 78, Samba, Minha Verdade, Minha Raiz, se dedicando de corpo e alma à carreira de compositora. Outro sonho que virou realidade!
Dona Ivone Lara gravou Sonho Meu no ano seguinte, em 1979, no seu segundo disco, Sorriso de Criança.
Além de ser um samba romântico e apaixonado, Sonho Meu também tem na letra um viés político muito forte, uma referência cifrada aos muitos presos políticos exilados por conta do cerceamento das liberdades durante a ditadura militar. Entre esses exilados, vários artistas da nossa música, que só puderam voltar ao Brasil após a Lei da Anistia, promulgada em agosto de 1979.
O Sonho que estava se tornando realidade era o de buscar quem morava longe com a lei da Anistia ampla, geral e irrestrita: ““Sonho Meu, Sonho Meu, vai buscar quem mora longe, Sonho Meu. Vai mostrar essa saudade, Sonho Meu, com a sua liberdade, Sonho Meu.”. A canção acabou tornando-se um dos grandes hinos deste momento da história do Brasil.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos a aniversariante Dona Ivone Lara.
por Lívia Nolla