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79 anos de Gonzaguinha: vida, obra e maiores sucessos de um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos

Novabrasil
08:00 22.09.2024
Música

79 anos de Gonzaguinha: vida, obra e maiores sucessos de um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos

Hoje, dia em que o cantor e compositor carioca completaria mais um ano de vida, site da Novabrasil preparou uma matéria especial sobre sua vida e obra; confira

Novabrasil - 22.09.2024 - 08:00
79 anos de Gonzaguinha: vida, obra e maiores sucessos de um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos
Capa do álbum 'Caminhos do coração' (1982), de Gonzaguinha (1945 – 1991) — Foto: Divulgação

A música de Gonzaguinha marcou uma geração. Ele foi (e ainda é!) um dos maiores cantores e compositores de todos os tempos da música popular brasileira. Hoje, dia em que o cantor e compositor carioca completaria 79 anos, preparamos uma matéria especial sobre sua vida e obra.

Capa do álbum “Caminhos do coração” (1982), de Gonzaguinha | Foto: Reprodução/Divulgação

Gonzaguinha

Talento de berço e relação com o pai Luiz Gonzaga

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, Luiz Gonzaga Jr. compunha como ninguém sobre as mazelas e também as belezas da nossa sociedade.

Mesclava em sua obra canções de protesto e de amor, com letras críticas e engajadas, de cunho político e social e também outras em que falava com paixão, otimismo e esperança sobre um povo, um amor ou um lugar.

Dono de uma bela e inconfundível voz, suas canções de letras importantes e geniais foram também eternizadas por outros grandes nomes da música brasileira como:

  • Gal Costa;
  • Maria Bethânia;
  • Zizi Possi;
  • Luiz Gonzaga;
  • MPB-4;
  • Emílio Santiago;
  • Simone;
  • Tim Maia;
  • Alcione;
  • Nana Caymmi;
  • e Elis Regina.

Seu talento vem de berço: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior é filho do grande Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, responsável por criar e introduzir o baião na nossa música popular brasileira, sintetizando como ninguém os ritmos nordestinos, por meio de uma releitura da cultura popular.

A relação de Gonzaguinha e Gonzagão

Em 1945, quando já morava no Rio de Janeiro e era conhecido nacionalmente, Gonzagão (como o pernambucano passou a ser chamado quando seu filho despontou na música, no início dos anos 70), conheceu a mãe de Gonzaguinha, Odaleia, cantora do Dancing Brasil.

A moça estava grávida e Luiz resolveu assumir a criança quando nascesse. Acontece que o relacionamento não deu certo, os dois se separaram um tempo depois e Gonzaguinha ficou com a mãe, recebendo visitas e ajuda financeira de Gonzagão. 

Quando Odaleia morreu de tuberculose, Gonzaguinha tinha apenas dois anos de idade e Luiz Gonzaga já estava em outro relacionamento e – por conta de conflitos com a atual esposa e da agenda lotada de shows – pediu que um casal de amigos, Xavier e Dina, criasse o menino, fazendo visitas periódicas e enviando ajuda financeira.

A relação de Gonzaguinha e Gonzagão foi bem difícil, pois o menino não aceitava que o pai não o tivesse criado e, quando soube que Gonzagão não era o seu pai de sangue, se revoltou e cortou relações de vez com ele. Os anos foram se passando e Gonzaguinha viveu uma infância pobre e feliz ao lado da família de criação.

A primeira música de Gonzaguinha

Aos 14 anos, Gonzaguinha compôs sua primeira música, Lembranças da Primavera, e quando fez 16 anos, Gonzagão o levou para morar com ele e a esposa, para estudar.  Mas as brigas entre eles só aumentavam e o pai colocou o menino num internato, onde ele viveu – entre idas e vindas – até os 18 anos.

Pai e filho só se reaproximaram muitos anos depois, quando Gonzaguinha formou-se na universidade de Economia e tornou-se músico como o pai. Depois disso, os dois ficaram bem unidos, passaram a compor em parceria, gravaram um disco e fizeram até uma turnê juntos, em 1979.

Início da carreira

Gonzaguinha iniciou sua carreira em 1968, participando do I Festival Universitário de Música Popular do Rio de Janeiro, no qual classificou entre as finalistas sua música Pobreza por Pobreza. No ano seguinte, venceu o mesmo festival, com a canção O Trem.

Antes disso, em 1965, Luiz Gonzaga já havia gravado duas composições – dos dois em parceria – em seu disco Quadrilhas e Marchinhas Juninas: Matuto de Opinião e Boi Bumbá. Também no disco A Triste Partida, do mesmo ano, o pai gravou a composição de Gonzaguinha: Lembrança de Primavera.

Em 1968, Gonzagão também gravou várias composições do filho em seu disco Canaã:

  • Pobreza por Pobreza;
  • Festa;
  • Erva Rasteira;
  • e Diz Que Vai Virar.

Em 1970, Gonzaguinha participou do V Festival Internacional da Canção, da TV Globo, com as músicas Um Abraço Terno Em Você, Viu Mãe, lançada em compacto simples pela Odeon, e Mundo Novo, Vida Nova.

MAU (Movimento Artístico Universitário) e a perseguição da censura

Durante seu período universitário, Gonzaguinha entrou em contato com outros jovens músicos como ele e fundou o grupo MAU (Movimento Artístico Universitário), junto com nomes como:

  • Ivan Lins;
  • Aldir Blanc;
  • e César Costa Filho.

O movimento teve importante papel na música popular do Brasil nos anos 70 e, em 1971, resultou no programa na TV Globo Som Livre Exportação, apresentado por Ivan Lins e Elis Regina, que durou aproximadamente um ano.

Em 1971, Gonzagão gravou a música Morena – de Gonzaguinha – em seu álbum O Canto Jovem de Luiz Gonzaga. E, em 1972, a composição do filho, From United States Of Piauí, em seu disco Aquilo Bom.

Por conta de suas letras sempre com forte teor social, provocativas e caracterizadas por uma postura de crítica à ditadura militar, Gonzaguinha era bastante perseguido pela censura e visado pelo DOPS, tendo muitas canções censuradas.

Nesta época, das 72 canções mostradas ao órgão, 54 foram censuradas, entre as quais, o seu primeiro sucesso, Comportamento Geral, uma crítica feroz sobre a submissão do povo brasileiro ao regime militar, que entrou para o seu primeiro disco, Luiz Gonzaga Jr., lançado em 1973.

No início de 1973, a música foi apresentada no programa de Flávio Cavalcanti e causou um rebuliço nos jurados. Um deles chamou Gonzaguinha de terrorista e outro quis que ele fosse deportado do País. Assim, o compacto que estava encalhado nas lojas vendeu cerca de 20 mil exemplares em uma semana e em seguida o DOPS vetou a exibição da música, mas não a sua venda. 

Os primeiros álbuns

Isso foi a porta de entrada para o “cantor rancor” – apelido que Gonzaguinha ganhou por conta da apresentação agressiva e pouco agradável aos olhos dos meios de comunicação – gravar o seu primeiro álbum.

Com 10 faixas solos autorais, também fazem parte do disco os sucessos:

  • A Felicidade Bate À Sua Porta;
  • Moleque;
  • e Insônia.

Em 1974, o artista gravou o seu segundo LP, que também conta com 10 faixas: nove solos autorais – como os sucessos:

  • Galope;
  • Piada Infeliz;
  • Amanhã ou Depois;
  • e Meu Coração É Um Pandeiro;
  • e a regravação de Assum Preto, composição clássica de seu pai e Humberto Teixeira.

No ano seguinte, Gonzaguinha apresentou-se por todo o Nordeste do país, ao lado de Paulinho da Viola, Fagner e Amelinha.

Ainda em 1975, lançou o álbum Plano de Voo, que traz canções como Mundo Novo, Vida Nova e Geraldinos e Arquibaldos e o sucesso da faixa-título. Das 12 canções do disco, 11 são composições somente suas e uma é uma parceria com Miltinho, do MPB4: Assim Seja Amém.

Artista independente e leve mudança no discurso

Ainda em 1975, Gonzaguinha dispensou seus empresários e tornou-se um artista independente.

Com o passar do tempo e com o começo da abertura política, na segunda metade da década de 70, percebeu que suas letras não alcançavam o público que ele queria tocar. Assim, começou a compor canções mais leves, mais ainda com mensagens importantes, conscientes e politizadas.

No ano de 1976, lançou o clássico disco Começaria Tudo Outra Vez e alcançou imenso sucesso e projeção nacional, com canções como:

  • a faixa-título;
  • Chão, Pó, Poeira;
  • e Espere Por Mim, Morena;
  •  além da regravação da clássica Asa Branca, de Luiz Gonzaga.

Com esse disco, sua carreira de compositor também ganhou impulso.

Em 1977, o artista lançou o LP Moleque Gonzaguinha, com nove composições suas, entre elas os sucessos:

  • Dias de Santos e Silvas;
  •  Caminho da Roça;
  • e O Que Importa?.

Ainda nesse ano, suas canções A Felicidade Bate À Sua Porta e Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração), foram gravadas respectivamente pelo grupo As Frenéticas e por Maria Bethânia, fazendo imenso sucesso. Gonzaguinha gravou Explode Coração dois anos depois.

Em 1978, lançou o disco Recado, com muito destaque para o sucesso da faixa-título e para a canção Petúnia Resedá – que ganhou uma interpretação clássica pela cantora Simone no mesmo ano – além da regravação de O Que Foi Feito Devera, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Ivan Lins participa da faixa Vai Meu Povo.

Em 1979, Gonzaguinha fez uma participação especial no álbum Eu e Meu Pai, de Luiz Gonzaga, em homenagem ao pai do Rei do Baião, Seu Januário, falecido no ano anterior. Luiz Gonzaga Jr. interpretou, com o pai, a faixa A Vida do Viajante, de Gonzagão e Hervé Cordovil.

No ano seguinte, o artista iniciou, ao lado do pai, a turnê do espetáculo A Vida do Viajante, que percorreu várias cidades brasileiras, estendendo-se até 1981, quando foi lançado o álbum duplo da gravação do show, ao vivo, com várias canções emblemáticas da carreira dos dois artistas. Entre as principais composições de Gonzaguinha estão:

  • Começaria Tudo Outra Vez;
  •  Sangrando;
  • Amanhã ou Depois;
  • Achados e Perdidos;
  • e Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração). 

Mais e mais sucessos, a música de Gonzaguinha reverbera

Em 1979, encabeçando a lista dos maiores arrecadadores de direitos autorais, lançou o álbum Gonzaguinha da Vida, com vários sucessos já consagrados de sua carreira e  com a participação de Nana Caymmi, na faixa Por um Segundo, e de Luiz Gonzaga, em A Vida do Viajante.

No ano seguinte, lançou o LP De Volta ao Começo, com os grandes sucessos: E Vamos À Luta, Ponto de Interrogação, Grito de Alerta, e Bié, Bié, Brasil (Bye, Bye, Brasil), e com a participação de Milton Nascimento, MPB4, As Frenéticas, Marília Medalha e Luiz Gonzaga.

Ainda em 1980, Simone gravou suas composições, Sangrando, Da Maior Liberdade (Do Meu Jeito) e Mulher E Daí (Apenas Mulher), com enorme sucesso. No mesmo ano, Elis Regina gravou seu sucesso Mundo Novo, Vida Nova.

Neste período, Gonzaguinha mudou-se para Belo Horizonte, onde colaborou na programação de MPB da Rádio Inconfidência.

Em 1981, lançou o disco Coisa Mais Maior de Grande, que conta com os sucessos: Mergulho, O Saco Cheio de Noel e Santa Maravilha. Além de um pout-pourri que traz sua composição clássica Redescobrir, que explodiu na voz de Elis Regina, um ano antes.

No mesmo ano, participou do disco A Festa, de Gonzagão, cantando com ele sua composição em parceria: Não Vendo, Tem Troco.

Em 1982, lançou o disco Caminhos do Coração, que traz sucessos como a faixa-título e o clássico samba O que é, O que é?, uma das mais importantes músicas da nossa MPB.

No mesmo ano, Gonzagão gravou a composição do filho, Prece Por Novo Exu, em seu disco Eterno Cantador.

No ano seguinte, foi a vez de Alô, Alô, Brasil, disco que conta com a música Guerreiro Menino (Um Homem Também Chora) – sucesso na voz de Fagner no mesmo ano – e também com a clássica e bela canção Feliz.

Em 1984, Gonzaguinha lançou o álbum Grávido, que conta com os clássicos sucesso Lindo Lago do Amor, Nem o Pobre Nem o Rei e a faixa-título. Mais um disco que, como a maioria dos lançados ao longo de sua carreira, conta somente com composições solo e autorais.

No mesmo ano, participou do disco Danado de Bom, de Gonzagão, cantando com ele sua composição Pense N’eu e a canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, Adeus Iracema.

No ano seguinte, lançou o LP Olho de Lince: Trabalho de Parto, com destaque a clássica O Homem Falou – sucesso na voz de Maria Rita anos depois, em seu disco Samba Meu, de 2007 – além das faixas Maravilhas Banais e Belo Balão.

Ainda em 1985, participou do disco Sanfoneiro Macho, de Luiz Gonzaga, na faixa Eu e Minha Branca, composta em parceria com o pai.

Selo próprio e despedida de Gonzagão

Em 1986, Gonzaguinha fundou o seu próprio selo na música: Moleque, e, em 1988, participou do álbum ABC do Sertão: Gonzagão e Fagner 2, interpretando a canção Noites Brasileiras, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

Em 1987, foi a vez do disco Geral, gravado em estúdio, mas como se fosse ao vivo, como vários sucessos consagrados de sua carreira, além de uma composição em homenagem a seu pai: Forró do Gonzagão.

No mesmo ano, o artista participou do disco De Fiá Pavi, de Gonzagão, cantando com ele sua composição em parceria: Mariana.

Em 1988, Gonzaguinha lançou o disco Corações Marginais traz outro grande clássico da música popular brasileira: a emocionante canção É.

Em 1989, aos 76 anos de idade, o Brasil perdeu Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa de Recife e sepultado em sua cidade natal, Exu. 

Em 1990, Gonzaguinha também lançou o seu último disco em vida: Luizinho de Gonzagão Gonzaga Gonzaguinha, uma bela homenagem a seu pai. São 11 faixas que mesclam composições suas e de Gonzagão com parceiros. 

Os filhos de Gonzaguinha – ainda crianças – cantam com ele a faixa Olha Pro Céu, uma espécie de pout pourri temático das festas de São João, com músicas de Luiz Gonzaga. Entre as composições de Gonzaguinha, as faixas: Avassaladora, Gonzaga e Guarda.

Partida precoce e homenagens

Gonzaguinha partiu cedo e inesperadamente, aos 45 anos, vítima de um acidente de carro, em 1991: colidiu com uma caminhonete quando dirigia o seu Monza, em uma rodovia, ao regressar de uma apresentação em Pato Branco, no Paraná, e partindo para Foz do Iguaçu, de onde seguiria de avião para Florianópolis, onde tinha um show agendado.

Após sua morte – em 1993 – ainda foi lançado um disco póstumo, inédito e ao vivo: Cavaleiro Solitário, gravado em um show realizado em 1991, em Belo Horizonte. 

Em 2001, dez anos após seu falecimento, a BMG lançou o CD Simples Saudade, uma coletânea de sucessos do compositor interpretados por vários artistas. Nesse mesmo ano, Emílio Santiago grava o CD Um Sorriso Nos Lábios, contendo exclusivamente canções de autoria de Gonzaguinha

Em 2007, foi publicado o livro Gonzaguinha e Gonzagão – Uma História Brasileira (Ediouro), escrito por Regina Echeverria. No mesmo ano, foi lançado o primeiro DVD do artista, uma parceria entre a TV Cultura e a gravadora Performance Music, com o registro do programa Ensaio, em que Gonzaguinha participou em 1990. 

Também em 2007, sua canção E Vamos à Luta foi tema de abertura da novela Duas Caras, da Rede Globo.

Em 2008, Ivan Lins gravou, no CD e DVD Saudades de Casa, a canção Debruçado, parceria com Gonzaguinha, composta em 1969 e inédita até então. A faixa conta com a participação do filho do artista, o cantor e compositor Daniel Gonzaga.

Em 2012, foi lançado o filme Gonzaga – De Pai Para Filho, de Breno Silveira, que conta a história da relação entre os dois artistas.

Em 2015, foi realizada uma série de três shows chamada Moleque – Gonzaguinha 70 anos, com participação da sua filha, a cantora Fernanda Gonzaga, e do seu filho, Daniel Gonzaga, além de Zizi Possi, Elza Soares, e Elba Ramalho.  

Em 2016, Gonzaguinha foi o grande homenageado no 27º Prêmio da Música Brasileira, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O ator Júlio Andrade, que o interpretou no filme Gonzaga – De Pai Para Filho, voltou a encarnar o personagem durante toda a cerimônia, que apresentou ao lado da atriz Dira Paes.  

Em 2017, Gonzaguinha foi tema do carnaval da Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, com o enredo: É! O Moleque desceu o São Carlos, pegou um sonho e partiu com a Estácio!. A Estácio era a escola de coração do artista, nascido no Morro de São Carlos, bairro Estácio, no Rio de Janeiro.

Em 2019, a escola de samba Império Serrano escolheu como enredo para seu desfile no Grupo Especial, o sucesso de Gonzaguinha, O Que é, o Que é?, usando a canção também como o samba-enredo, um recurso inédito no carnaval carioca.

Em 2019, estreou o musical Cartas para Gonzaguinha, e em 2020, o musical Gonzaguinha – O Eterno Aprendiz.

Para sempre, Gonzaguinha!

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