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Heitor dos Prazeres: confira a história da música “Pierrô Apaixonado”

Novabrasil
12:00 22.09.2023
Curiosidades

Heitor dos Prazeres: confira a história da música “Pierrô Apaixonado”

Hoje, 23 de setembro, seria aniversário de um dos pioneiros na composição de sambas, que participou da fundação das primeiras escolas de samba do Brasil: o compositor, cantor e pintor carioca Heitor dos Prazeres, compositor de “Pierrô Apaixonado”, um dos maiores sucessos do carnaval brasileiro. E, para homenagear o aniversariante do dia … Continued

Novabrasil - 22.09.2023 - 12:00
Heitor dos Prazeres: confira a história da música “Pierrô Apaixonado”
Foto: Divulgação
por Lívia Nolla

Hoje, 23 de setembro, seria aniversário de um dos pioneiros na composição de sambas, que participou da fundação das primeiras escolas de samba do Brasil: o compositor, cantor e pintor carioca Heitor dos Prazeres, compositor de “Pierrô Apaixonado”, um dos maiores sucessos do carnaval brasileiro.

E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Foto: Divulgação

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres nasceu em 1898, no Rio de Janeiro. Aprendeu com seu pai, que morreu quando ele tinha sete anos, a tocar o clarinete em vários ritmos como polcas, valsas, choros e marchas. 

Heitor só cursou até a quarta série, tendo sido expulso de todos os colégios de padres que frequentou. De seu tio, Hilário Jovino Ferreira, músico conhecido como Lalau de Ouro, ganhou o primeiro cavaquinho. Tomou seu tio como modelo de compositor e aos doze anos, já era conhecido como Mano Heitor do Cavaquinho.

Começou a participar de reuniões religiosas em casas como as de Vovó Celi, Tia Esther, Oswaldo Cruz e Tia Ciata, onde – na companhia de músicos experientes como seu tio, João da Baiana, Donga e Pixinguinha – tocava e improvisava, com instrumentos de percussão ou cavaquinho, ritmos africanos como jongo, lundu, cateretê, até o afrobrasileiro samba.

Enquanto trabalhava como engraxate e vendedor de jornais, frequentava as cervejarias próximas e cinemas mudos próximos à Praça Onze e cafés da Lapa, onde ele podia ouvir os músicos e orquestras típicas da Belle Époque, no Rio de Janeiro. 

As primeiras composições de Heitor dos Prazeres

As primeiras composições de Heitor dos Prazeres  datam de 1912. Já na década de 1920, assistido por outros sambistas e compositores como João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos ( “Bide”) e Marçal, o músico ajudou a organizar vários grupos de samba do Rio Comprido, Estácio e outros locais nas proximidades, por isso ficou conhecido como Mano Heitor do Estácio. 

Heitor participou de reuniões na Mangueira e Oswaldo Cruz com Cartola, Paulo da Portela, João da Gente, Manoel Bambambam e outros, o que levou à criação das primeiras escolas de samba:

  • Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra e Vizinha Faladeira, no Estácio;
  • e Prazer da Moreninha e Vai como Pode, em Madureira.

As duas últimas se uniram e se tornaram a Portela, sua escola de samba favorita, cujas cores azul e branco foram escolhidas por ele. 

A Portela, em 1929, foi a primeira vencedora de uma competição entre escolas, com a sua composição Não Adianta Chorar. Heitor dos Prazeres também participou na formação da Estação Primeira de Mangueira com Cartola. Em 1928, fundou – com Nilton Bastos, “Bide” e Mano Rubem – a União do Estácio

Canções populares

Duas das composições que popularizaram o sambista foram Deixaste Meu Lar e Estás Farto de Minha Vida, ambas de 1925, em parceria e gravadas por Francisco Alves

Em 1933, Heitor compôs a Canção do Jornaleiro, a partir de uma letra autobiográfica que falava da vida de crianças que vendem jornais nas ruas. Com essa canção, se iniciou uma campanha para financiar a construção da Casa do Pequeno Jornaleiro, que abriu em 1940. 

Casou-se em 1931 com Glória, com quem teve três filhas. Após a morte de sua esposa, em 1936, dedicou-se às artes visuais, especialmente à pintura, por incentivo do desenhista, jornalista e crítico de arte Carlos Cavalcante, do pintor Augusto Rodrigues e do escritor Carlos Drummond de Andrade

Heitor dos Prazeres também fez instrumentos de percussão e projetou e fez os figurinos, móveis e tapeçaria de seus grupos musicais e de dança. Sua residência, na Praça Tiradentes, era um ponto de encontro de pessoas interessadas em seu conhecimento da cultura afro-brasileira e de seus mais importantes centros de encontro. 

É neste momento que entra a história da música que iremos contar hoje! 

A história de “Pierrô Apaixonado”, de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa (1936)

Entre os visitantes da casa de Heitor dos Prazeres, estava o estudante de medicina e futuro compositor Noel Rosa que lhe pediu ajuda para enfrentar um marinheiro agressivo que estava assediando sua namorada. Dos Prazeres era conhecido naquele bairro como um especialista em capoeira e um aviso ao marinheiro era o suficiente para afastá-lo. 

Ao retornarem juntos do “aviso” ao marinheiro, enquanto Heitor cantarolava a marcha carnavalesca que estava compondo e para a qual também estava fazendo uma ilustração, Noel Rosa sugeriu algumas mudanças na letra. Assim, ele tornou-se co-autor de Pierrô Apaixonado, um dos maiores sucessos de Heitor dos Prazeres e da história do carnaval brasileiro, lançado em 1936.

Pierrô e Colombina

A letra da canção faz referência ao amor não-correspondido de Pierrô por Colombina, personagens da Commedia Dell’arte.

No século XVI, na Itália, trupes de artistas saiam pelas ruas, entretendo as pessoas, contando suas estórias, fazendo rir, fazendo chorar. A Commedia Dell”Arte italiana era, no início, caracterizada pela sátira social e ironizava a vida e os costumes das classes dominantes de então. As peças apresentadas eram improvisadas na hora, como o são hoje os repentes e o rap. 

Ao chegarem nas cidades, se apresentavam em suas carroças ou em palcos improvisados. Mas tinham personagens mais ou menos fixos, que cumpriam certos papéis – como o Pierrot, o Arlequim e a Colombina – e seguiam mais ou menos o mesmo roteiro, inicialmente chamado de “canovaccio”. Alguns atores viviam o mesmo papel durante toda a vida. 

As representações teatrais das trupes da Commedia dell’Arte ridicularizavam os poderosos, desde reis e rainhas, militares, padres, negociantes e nobres em geral. O esquema de criação era coletivo, havia um roteiro mais ou menos fixo, mas os atores tinham liberdade de improvisação. Muitas dessas trupes carregavam consigo uma pintura bem grande, com uma rua, casa ou palácio, pintados, que servia de cenário. 

Pierrot é o “pai” dos palhaços de circo

O nome italiano do Pierrot era Pedrolino, que virou Pierrot na França do século XIX. Ele vestia roupas brancas feitas de sacos de farinha e tinha o rosto pintado de branco. Hoje ele é conhecido com o rosto todo branco e uma lágrima pendendo de um dos olhos.

Vivia sofrendo de amor pela Colombina, que amava Arlequim e, com isso, era ele a principal vítima das piadas dos atores em cena. Pierrot é o “pai” dos palhaços de circo. 

Arlequim, assim como Pierrot, era servo de Pantaleão, o mercador de Veneza (que virou uma peça de Shakespeare). Mas Arlequim era um malandro esperto, preguiçoso e insolente, que já entrava em cena saltitando e fazendo movimentos acrobáticos. Era também um debochado e adorava criar confusões com os outros personagens. Usava uma roupa feita inicialmente de muitos remendos coloridos, em losango, e tinha o rosto sujo de barro. 

“Pierrô Apaixonado” foi considerada a melhor marcha do carnaval de 36

Já a Colombina, também empregada da Corte de Pantaleão, surgia vestida de branco e era disputada pelo amor do Pierrot e do Arlequim. Mas ela, apaixonada pelo Arlequim, cantava e dançava graciosamente para encantá-lo. O Pierrot, triste e tímido, jazia ao lado, sofrendo o seu amor.

Pierrô Apaixonado foi considerada a melhor marcha do carnaval de 36. Gravada inicialmente por Joel e Gaúcho, com um belo acompanhamento da orquestra Diabos do Céu, em arranjo de Pixinguinha, foi também incluída – no mesmo ano – no filme de comédia musical Alô, alô, Carnaval.

Tempos depois dessa parceria, Noel Rosa veio a se tornar um dos maiores sambistas da nossa história. Pierrô Apaixonado foi regravada por grandes nomes da nossa música como:

Em 1937, Heitor dos Prazeres começou a exibir suas pinturas, nas quais retratou a vida nas favelas: crianças brincando, homens jogando ou bebendo, jovens dançando samba, etc. Representava os rostos das pessoas de perfil, com a cabeça e os olhos voltados para cima. 

Carnaval do Povo

Em 1939 e 1941 participou em São Paulo do evento Carnaval do Povo, com o grupo Embaixada do Samba Carioca, criado para a ocasião. Participaram mais de cem artistas como:

  • Paulo da Portela;
  • Cartola;
  • Carmem Costa;
  • Dalva de Oliveira;
  • Aracy de Almeida;
  • Francisco Alves;
  • e Herivelto Martins

Este evento ao ar livre, organizado pelo radialista e compositor Adoniran Barbosa e transmitido pelas rádios Cruzeiro do Sul e Kosmo, conquistou o samba em terras paulistas e de lá para Buenos Aires e Montevidéu. Graças à repercussão desse tipo evento o samba tornou-se aceito pelos setores mais ricos e passou a ser ouvido maciçamente em cassinos, cinemas e rádios.

No final de 1930, Heitor dos Prazeres atuou como músico, cantor e dançarino no Casino da Urca, com Josephine Baker e Grande Otelo. Foi contratado pelo ator, diretor, escritor e produtor norte-americano Orson Welles, como coreógrafo de um filme sobre cultura afro-brasileira, centrado no samba e no carnaval. 

Também tocou seu cavaquinho em programas de auditório das rádios do Rio de Janeiro acompanhado pelo grupo Heitor dos Prazeres e Sua Gente, composto por vocalistas e outros músicos percussionistas e passistas.

O legado

Em 1943 obteve o primeiro concurso oficial de Música de Carnaval, organizado pela prefeitura do Distrito Federal, pelo samba Mulher de Malandro, na voz de Francisco Alves. 

Também nesse ano apresentou o samba Lá em Mangueira, em parceria com Herivelto Martins e gravado pelo duo Branco e Preto e Dalva de Oliveira, começou a trabalhar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e a expor suas pinturas em exposições locais e no exterior. 

Graças a uma exposição organizada pela RAF em Londres, para arrecadar fundos para as vítimas da Segunda Guerra Mundial, a então princesa Elizabeth adquiriu seu quadro Festa de São João.

A pedido de seu amigo Carlos Cavalcante, em 1951 Heitor dos Prazeres participou da primeira Bienal de Arte Moderna de São Paulo, com a presença de artistas de todo o mundo, e ganhou o terceiro prêmio entre os artistas nacionais, com seu quadro Moenda. Na segunda Bienal de São Paulo, em 1953, foi reservada uma sala para a exposição de sua obra. 

Ele também criou cenários e figurinos para o balé do quarto centenário da cidade de São Paulo. Em 1959, exibiu pela primeira vez individualmente na Galeria Gea Rio de Janeiro. 

O artista morreu em outubro de 1966, aos 68 anos, deixando um legado de cerca de 300 composições. Antonio Carlos da Fontoura dirigiu, em 1965, um documentário sobre sua vida e obra.

​​Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Heitor dos Prazeres.

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