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Conheça Paulo César Pinheiro, compositor de “Canto das Três Raças”

Novabrasil
09:30 28.04.2023
Brasilidade

Conheça Paulo César Pinheiro, compositor de “Canto das Três Raças”

Hoje é aniversário do compositor e poeta carioca Paulo César Pinheiro! Para homenagear o aniversariante do dia, conheça a história das canções Canto das Três Raças e As Forças da Natureza. Com o objetivo de seguir homenageando grandes compositores da MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e … Continued

Novabrasil - 28.04.2023 - 09:30
Conheça Paulo César Pinheiro, compositor de “Canto das Três Raças”
Paulo Cesar Pinheiro | Foto: Reprodução

Hoje é aniversário do compositor e poeta carioca Paulo César PinheiroPara homenagear o aniversariante do dia, conheça a história das canções Canto das Três Raças e As Forças da Natureza.

Com o objetivo de seguir homenageando grandes compositores da MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Paulo Cesar Pinheiro é um dos mais produtivos compositores da MPB | Foto: Reprodução

Sobre Paulo César Pinheiro

Nascido no Rio de Janeiro, em 28 de abril de 1949, Paulo César Pinheiro é um dos mais produtivos compositores da música popular brasileira.

Tem mais de mil composições gravadas (mas já compôs mais de duas mil!), feitas em parceria com diversos grandes nomes da MPB, como:

  • João Nogueira;
  • Francis Hime;
  • Tom Jobim;
  • Ivan Lins;
  • Edu Lobo;
  • Toquinho;
  • e Baden Powell.

Paulo César Pinheiro tinha 14 anos quando fez a sua primeira composição: a canção Viagem, em parceria com João de Aquino. Quatro anos depois, começou a destacar-se como letrista, estabelecendo parcerias com Baden Powell, principalmente na voz de Elis Regina – como sua primeira canção registrada: Lapinha.

Depois disso, suas canções passaram a ser gravadas por vários outros grandes nomes da nossa música, como Simone, Elizeth Cardoso, MPB-4 e Clara Nunes, com quem foi casado de 1975 até o falecimento da cantora, em 1983. 

Casamento de Clara Nunes e Paulo Cesar Pinheiro| Foto: Reprodução.

Os sucessos

Outros dos seus principais sucessos são os clássicos:

  • Canto das Três Raças (parceria com Mauro Duarte);
  • Espelho;
  • Além do Espelho;
  • As Forças da Natureza (essa e as duas anteriores são parcerias com João Nogueira);
  • Leão do Norte (com Lenine);
  • Tô Voltando (com Maurício Tapajós);
  • e Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaquá), parceria com Baden Powell.

Além disso, Paulo César Pinheiro também possui discos lançados como cantor e intérprete e uma dezena de livros publicados, entre eles, um em que conta histórias de 65 de suas canções: Histórias das Minhas Canções, de 2010.

Em certo trecho do livro, Paulo diz:

“Acontecem coisas estranhas comigo desde quando comecei a compor, ainda menino. Vejo pessoas, vultos, sombras. Escuto passos, palavras, cantos. (…) Minha poesia é cantada e citada como reza, filosofia, provérbio, em inúmeras religiões, seitas e rituais Brasil afora. E eu vou seguindo, hoje, mentalmente, mais serenizado.”

Saudando Grandes Compositores da MPB

Hoje, entre os vários sucessos do compositor, escolhemos contar as histórias de dois de  seus clássicos: Canto das Três Raças e As Forças da Natureza. Ambas as histórias foram contadas por Paulo César Pinheiro em seu livro.

A história da música ‘Canto das Três Raças’, de Paulo César Pinheiro com Mauro Duarte

Parceria de Paulo César Pinheiro com o sambista Mauro Duarte, Canto das Três Raças é uma das mais belas canções da história da MPB. Foi eternizada na voz de Clara Nunes, em 1976, no disco que levou o nome da canção.

Em seu livro, Paulo conta:

“Conversávamos, certa vez, eu e Mauro, sobre samba-enredo. Sua estrutura melódica, sua cadência, seu desenvolvimento de acordo com o tema proposto, seu tamanho, seus cantos de refrão. Ele era, particularmente, fã de Silas de Oliveira, a quem considerava o maior compositor desse gênero, de todos os tempos. Foi seu amigo. Acompanhava sua trajetória. 

Papo vai, papo vem, resolvemos compor algum que guardasse essas características tradicionais. Ali mesmo iniciamos nosso esboço musical. Com o rascunho sonoro adiantado fui para casa devanear, buscar o motivo, procurar uma história conveniente ao que se tinha imaginado. Lembrei da formação racial do Brasil, especialmente da minha genética índia e europeia por parte de mãe, e negra do meu lado paterno. 

As três raças fundamentais desse país mestiço. Veio-me à mente o soneto ‘Canto Brasileiro’, que deu nome ao meu primeiro livro publicado (de 1973). Era isso. O canto triste nascido dessa miscigenação. O aperto de saudade do branco colonizador, o banzo africano e a dolência nativa, ‘Um soluçar de dor’ foi a expressão que me brotou imediatamente, e dessa frase parti pro poema. Fui ajeitando a melodia aqui e ali em função da letra.

Depois de terminado, dei por falta do que julgava ser o principal, o miolo, a célula: o canto de lamento. Na verdade, era o mais difícil, era a marca, o carimbo, a identificação do samba. Fiz vários antes do definitivo. Cada vez que ia cantar, saía de um jeito.

Quando Clara entrou em estúdio pra gravar, sentei com o Maestro Gaya, que faria o arranjo, pra passar a melodia corretamente. Belíssima a harmonização criada por ele, mas na hora do estribilho surgia a dúvida. Era sempre um lamento diferente o que eu entoava. ‘ – Define o canto, Paulinho – dizia Gaya‘. De repente, influenciado por acordes que ele sequenciava ao piano, a melodia veio por inteiro. O Gaya gostou, fixou na minha cabeça com um solo e fechou a tampa.”.

Na contracapa do disco de Clara Nunes, sua esposa na época, Paulo César Pinheiro escreveu:

“Quando o Brasil ainda era um país desconhecido do resto do mundo, a nossa música era apenas sons dispersos na boca do índio habitante. Porque fazer som e ritmo é próprio do instinto humano. Mas nada havia de definido em termos musicais. Até que aqui chegou o português colonizador e a história da MPB começa. A Terra foi tomada em nome do rei. E o índio guerreiro foi vencido e escravizado ao trabalho da lavoura, em favor da civilização. E, do cativeiro, ecoaram os primeiros cantos tristes que começaram a definir o nosso canto brasileiro. 

Dado ao gigantismo da nova nação descoberta, precisavam os conquistadores de muitos e muitos braços para o trabalho, que se prenunciava tão grande quanto o próprio território. E importaram de suas colônias africanas a raça nascida escrava: a raça negra. E o canto do índio cativo juntou-se ao lamento do preto sofrido das senzalas e dos quilombos. E a música passou a tomar novas formas, proporções e grandeza às quais o mundo inteiro ainda viria se curvar. 

Para a nova Terra partia toda espécie de gente: desde os homens de confiança da coroa portuguesa até aventureiros buscando riquezas. E aqui, saudosos de seus lugares de origem passaram também a criar seus cantos. A colônia crescia e os próprios brancos já sentiam a necessidade da quebra das correntes que uniam Brasil e Portugal.

Até que se deu a Independência. E a expressão “música popular brasileira”, desde aí, passou a ter a sua definitiva validade. Esta é a sua história. A história da música de um país feita pela união das três raças que o construíram. E, tendo sido feita pelo povo, só o próprio povo tem o direito de julgar e consagrar a música popular, porque somente ele sabe os que melhor interpretam seus sentimentos. 

Os grandes mestres saíram sempre do povo. O bom intérprete sente um e um estranho afeto pela composição que interpreta. E, nesse instante, letra e melodia são suas. O autor é ele. Por isso Clara Nunes tem o quilate de uma grande intérprete. Porque, quando canta, se une ao povo num sentimento comum. E o povo sente e gosta e canta com ela, Porque também do povo é o compositor que ainda está por surgir, o mestre que ainda não apareceu.”.

A história da música ‘As Forças da Natureza’, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira

As Forças da Natureza – parceria de Paulo César Pinheiro com João Nogueira –  foi a canção que deu título a outro álbum de Clara Nunes, no ano seguinte: 1977.

Sobre ela, o aniversariante de hoje conta em seu livro:

“Dos meus poemas premonitórios o que mais me emociona e arrepia sempre é As Forças da Natureza. (…) Naquela época não se falava de meio ambiente como hoje. Sentia-se, todavia, os efeitos da mão do homem no planeta.

Eu, neto de índia guarani, crescido entre o mar e as montanhas de Angra dos Reis, na tapera de minha avó, à luz de lampião de querosene e à brasa de fogão de lenha, sem banheiro ou bicas, bebendo água curvada no riacho e tomando banho de cachoeira, percebia claramente mudanças, com meu instinto ainda primitivo. 

Era perceptível, pra mim, o aquecimento global paulatino, a poluição do ar pelos gases das indústria pesadas, o mar imundo de esgotos e vazamentos químicos, os alimentos empesteados por inseticidas agrícolas carregados de veneno, geleiras derretendo em blocos do tamanho de cidades, os peixes com metal nas entranhas, terremotos maiores, furacões e tsunamis. Tudo isso me assustava. 

O homem urbano ligava pouco pra situação, mas eu já vislumbrava, contudo, a superpopulação mundial e a escassez de sustento. A Terra maltratada por décadas, devagar, reagia, só alertava, só avisava.  João me procurou com um pedaço de melodia e palavras:

‘Quando o Sol / Se derramar em toda a sua essência / Desafiando o poder da ciência / Pra combater o mal…’

– Bonito! Em que você pensou? Qual é o tema?

– Não tenho a menor ideia, poeta. Isso veio desse jeito e eu não sei do que se trata.

– Parece meio apocalíptico.

– Parece o quê?

– Deixa pra lá, compadre. Prossegue o samba e deixa a letra comigo. 

Ele fez a música inteira. Primorosa. Belíssima. Tive uma visão. Nitidamente enxerguei uma Terceira Guerra Mundial com catástrofes inimagináveis. Destruição e ruínas. Dois terços da humanidade desaparecendo. Fiquei aterrorizado com as imagens que, como slides, passavam por minha cabeça. 

Descortinava-se, porém, no fim, um renascimento esplendoroso. Uma reconstrução mágica e poderosa de matérias e espíritos. Um povo novo ressurgindo das cinzas, com a mente voltada pra arte e a cultura da ciência dos milagres. Uma nova era se abria como um roseiral virgem. Um milênio de paz reinava adiante. 

Quedei-me atônito tomado de assombro e susto. E a letra saiu, como que guiada por uma mão que não era a minha. Toda. De uma vez só. Em minutos. Até hoje me espanto de pensar no fato e me comovo. O pior é que de lá pra cá, grande parte da poesia já se concretizou.”.

E isso foi escrito por Pinheiro em 2010… 

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Paulo César Pinheiro.

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