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Saudando Grandes Compositores da MPB – Fausto Nilo

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12:00 05.04.2023
Brasilidade

Saudando Grandes Compositores da MPB – Fausto Nilo

Hoje é aniversário do compositor e poeta Fausto Nilo. Então, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quando cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que … Continued

F.Content - 05.04.2023 - 12:00
Saudando Grandes Compositores da MPB – Fausto Nilo
Fausto Nilo e Caetano Veloso. | Foto: Reprodução.

Hoje é aniversário do compositor e poeta Fausto Nilo.

Então, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quando cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Fausto Nilo e Caetano Veloso
Fausto Nilo e Caetano Veloso. | Foto: Reprodução.

Trajetória de Fausto Nilo

Nascido em Quixeramobim, no Ceará, em 5 de abril de 1944, Fausto Nilo completa 79 anos em 2023 e é um dos compositores mais produtivos da música popular brasileira de todos os tempos, com mais de 400 composições registradas em seu nome.

O artista fez parte – junto com nomes como Fagner e Belchior – do chamado Pessoal do Ceará”, uma turma de jovens artistas e intelectuais cearenses que despontaram no cenário cultural brasileiro no início dos anos 70, dando origem a um dos mais importantes movimentos da música contemporânea do país.

Fausto deixou a cidade natal aos 11 anos de idade e foi para a capital, Fortaleza, onde se formou na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará. Como arquiteto, concebeu o Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, junto com o também arquiteto cearense Delberg Ponce de Leon.

Em 1971, mudou-se para Brasília e, depois, para São Paulo e Rio de Janeiro, como a grande maioria dos artistas que formavam o Pessoal do Ceará.

Fausto Nilo teve sua primeira composição gravada em disco pelo conterrâneo Fagner: a canção Fim do Mundo, parceria dos dois, que entrou para o compacto Cavalo Ferro, de 1972.

Entre os maiores sucessos compostos por Fausto Nilo – que também tem três álbuns gravados como cantor – estão as canções clássicas: Bloco do Prazer (parceria com Moraes Moreira); Pedras Que Cantam (com Dominguinhos); Dezembros (com Fagner e Zeca Baleiro); Dona da Minha Cabeça (com Geraldo Azevedo); Eu Também Quero Beijar (com Pepeu Gomes); Zanzibar (As Cores) (com Armandinho) e Palavras e Silêncios (com Zeca Baleiro).

Entre seus vários sucessos de Fausto Nilo, escolhemos hoje contar as histórias dos clássicos: Pedras que Cantam e Zanzibar (As Cores).

Pedras que Cantam (1991) – parceria de Fausto Nilo com Dominguinhos

Pedras que Cantam é uma música de Fausto Nilo em parceria com Dominguinhos, lançada por Raimundo Fagner em 1991, no seu disco que levou o nome da canção. No ano seguinte, a música entrou para a abertura da novela de enorme sucesso Pedra Sobre Pedra.

Fausto Nilo conta que recebeu a melodia de Dominguinhos para colocar a letra e – assim que escutou pela primeira vez – já encaixou a frase “Quem é rico mora na praia” pra abrir a canção. Mas ele ainda não sabia se isso ia fazer sentido ao longo do resto da música.

Para isso, ele notou que tinha que – no seu conteúdo – criar uma maneira nova e surpreendente de produzir o contraste que chamasse a atenção para aspectos que ele realmente queria: falar sobre a desigualdade social no Brasil, mas conduzindo isso de uma forma leve, como uma brincadeira.

E foi assim que ele conseguiu retratar, logo no verso seguinte, a insatisfação da classe trabalhadora e oprimida, sendo totalmente marginalizada enquanto quem é rico vive de luxos: “Mas quem trabalha não tem onde morar”. 

E segue mostrando essa desigualdade de forma figurativa: Quem não chora dorme com fome / Mas quem tem nome joga prata no ar“.

Os ricos têm tanto, que nem se importam em gastar com besteiras, enquanto os pobres precisam trabalhar mais do que o normal para terem o que comer. Se não choram, é porque ainda não trabalharam o suficiente.

Em seguida, ele retrata os tempos duros que vivia-se na economia, de insegurança alimentar, fome, pobreza extrema, e também o tempo escuro que acabava de passar: o período da Ditadura Militar. E clama por uma mudança, um novo tempo, um futuro melhor, com mais justiça social, igualdade, diretos, acessos. E que a população se atente para isso e para o poder transformador que tem nas mãos.

Ô tempo duro no ambiente

Ô tempo escuro na memória

O tempo é quente

E o dragão é voraz

Vamos embora de repente

Vamos embora sem demora

Vamos pra frente que pra trás não dá mais

Pra ser feliz num lugar

Pra sorrir e cantar

Tanta coisa a gente inventa

Mas no dia que a poesia se arrebenta

É que as pedras vão cantar

Zanzibar (As Cores) – parceria com Armandinho

Zanzibar (As Cores), foi composta em parceria com o guitarrista, cantor e compositor Armandinho, filho de Osmar, da dupla baiana Dodô e Osmar, os pioneiros e inventores do trio elétrico no Brasil.

A música entrou para o disco Transe Total, da banda de Armandinho A Cor do Som – em 1980. Com uma letra bem complexa, que traz um jogo de palavras que parecem não fazer muito sentido juntas, ela tornou-se um imenso sucesso nacional e tem uma história muito curiosa.

Fausto recebeu a melodia de Armandinho e teria que escrever a letra para a música que logo entraria para o disco da A Cor do Som. Ele demorou um pouco para entregar a canção pronta e terminou a letra quando a banda estava prestes a entrar em estúdio para gravar.

Armandinho conta no livro de Ruy Godinho, Então foi Assim?: “Fausto faz uma alquimia, ele sabe captar o som em forma de letra, ele sabe extrair a letra da música. E a música tem todo um colorido, um céu azul, uma história tropical. O interessante é que quando ele me mostrou a letra eu não entendi nada.”

Isso porque, na letra, Fausto Nilo mistura Calcutá (cidade da Índia), com o mar azul de Zanzibar (ilha da Tanzânia, na África), e Paracuru (um município do estado do Ceará), em uma música super imagética, que remete a estrelas, ao céu, às cores.

E Armandinho continua:

Aí eu disse: ‘Fausto, eu gosto muito dos sons: Jezebel, Calcutá, Alah meu only you… Eu adoro isso, mas me explica um pouco o significado. Ele falou: ‘Rapaz, não tem uma explicação específica. Da forma que você entender é que é. Na verdade, eu viajei num trópico que tem o mesmo clima, o mesmo vento, o mesmo ar.(…) Quando eu estava compondo, tive uma viagem muito espiritual, astral, eu sentia essa música assim, num clima inexplicável’

Fausto Nilo, claro, tem sua continuação para a história. Ele recebeu a melodia de Armandinho em uma fita cassete, em um dos inúmeros carnavais que passou na Bahia:

Tinha uma pichação em Salvador que era Zanziblue. Onde eu passava, eu via. E na hora em que fui ao aeroporto, eu vi repetidas vezes a Zanziblue. Quando entrei no avião, peguei meu fone de ouvido e o gravador e fiquei ouvindo a música que Armandinho tinha me dado. A primeira coisa que eu notei é que Zanziblue caía muito bem numa parte da música. Mas, ao mesmo tempo, eu não gostava, não era uma palavra, eu achava uma invenção assim meio…Eu rejeitei. Interessou-me a sonoridade, a métrica estava boa, mas decidi não escrever. Quando de volta cheguei ao Rio, ouvindo de novo, vendo umas anotações que eu tinha, eu tive a ideia de fazer uma letra cheia de coisas do Oriente. Eu vi muito na Bahia aqueles blocos com coisas da África, imitando coisas do Marrocos. Aí misturei essas coisas todas e nasceu Zanzibar. Onde era Zanziblue, eu botei Zanzibar

Mais curioso ainda é como a palavra “Aliás” entrou na letra. Fausto Nilo conta que tem mania de terminar as suas letras e não conseguir entregar para os parceiros, porque fica olhando pra elas mil vezes e implicando com alguma palavra ou frase e isso o angustia e ele precisa mudar:

Tinha uma frase (em Zanzibar) que eu não encontrava a solução. Eles (A Cor do Som) gravaram tudo e deixaram só o vazio dessa frase. Ficaram esperando. Eles estavam muito ansiosos. Todo dia eles cobravam: ‘Cara, cadê a frase? E eu respondia: ‘Prometo que hoje eu resolvo’. Eu virava a noite caçando a frase e não achava. Um dia, eu fui à avenida Jardim Botânico, onde tem um boteco e um ponto de ônibus e fica muita gente na calçada. Eram seis, sete horas da noite. Eu fui cantarolando. Exatamente na hora dessa frase que eu não tinha, um sujeito que estava tomando umas biritas, saiu do bar, deu uma cusparada na calçada e disse assim: ‘Aliás’! E voltou para dentro do bar para continuar a conversa. E aí eu mandei: Aliás, bazar da coisa azul, meu only you… Fui ao orelhão e liguei pro Armandinho: ‘- Achei a palavra’! ‘- Qual é’? ‘- Aliás’! ‘- Aliás’??? Meio surpreso, ele chamou os outros e disse: ‘Olha, ele falou aliás! Alguém perguntou: ‘- Bicho é, aliás’? ‘-É, aliás, ele confirmou’.

E assim, ficou pronta Zanzibar (As Cores):

No azul de Jezebel, no céu de Calcutá

Feliz constelação reluz no corpo dela

Ai, tricolor colar!

Ás de Maracatu no azul de Zanzibar

Ali, meu coração zumbiu no gozo dela

Ai, mina, aperta a minha mão

Alah, meu only you, no azul da estrela

Aliás, bazar da coisa azul, meu only you

É muito mais que o azul de Zanzibar

Paracuru, o azul da estrela

O azul da estrela

No mesmo ano de seu lançamento, Zanzibar fez parte do álbum Vassourinha Elétrica – Trio Elétrico Dodô & Osmar e depois foi regravada por nomes como Elba Ramalho.

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Fausto Nilo.

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