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77 anos de Alceu Valença

Novabrasil
09:30 01.07.2023
Jornalismo

77 anos de Alceu Valença

No dia de hoje, é aniversário de um dos maiores nomes da música e da cultura popular brasileira. Completa 77 anos de idade, o cantor, compositor, instrumentista, grande e irreverente poeta e cineasta Alceu Valença.  Com quase cinquenta anos de carreira e mais de cinco milhões de discos vendidos, Alceu representa o nordeste como poucos, … Continued

Novabrasil - 01.07.2023 - 09:30
77 anos de Alceu Valença
Alceu Valença | Foto: Leo Aversa / Divulgação

No dia de hoje, é aniversário de um dos maiores nomes da música e da cultura popular brasileira. Completa 77 anos de idade, o cantor, compositor, instrumentista, grande e irreverente poeta e cineasta Alceu Valença

Com quase cinquenta anos de carreira e mais de cinco milhões de discos vendidos, Alceu representa o nordeste como poucos, ao misturar as influências regionais do maracatu, do coco, das toadas, dos xotes e baiões, do repente de viola e da literatura de cordel e de outras manifestações nordestinas, às guitarras e baixos elétricos vindos do rock’n roll.

Preparamos uma matéria especial para homenagear os 77 anos de Alceu Valença!

Alceu Valença é um dos maiores nomes da música e da cultura popular brasileira | Foto: Leo Aversa /Divulgação

Alceu Valença

O início em Pernambuco e a Universidade

Nascido em São Bento do Una, em Pernambuco, Alceu cresceu em convívio direto com os elementos vivos que ajudaram a consolidar a cultura do Nordeste, assimilando a cultura e a música do agreste e do sertão a partir das raízes que a constituíram.

Ainda criança, mudou-se para Recife, onde conheceu a cultura da zona da mata, dos canaviais e do litoral. Conheceu os blocos de frevo, os grupos de maracatu e a ciranda. 

Na adolescência, o pernambucano assimilou a poesia urbana e contemporânea, o cinema – com filmes da Nouvelle Vague francesa e do Neo Realismo italiano – e adquiriu o gosto pela política e as questões sociais, sempre tão presentes em sua música.

Quando adquiriu o gosto pela música, ganhou um violão de presente de sua mãe, escondido do pai, que não aceitava muito bem que o filho fosse cantor.

Em 1965, Alceu entrou na Faculdade de Direito do Recife. Sem grandes pretensões, inscreveu-se em um concurso promovido por uma associação americana que oferecia um curso de três meses na Universidade de Harvard.

Alceu Valença em meados dos anos 70 | Foto: Divulgação/Perfil de Alceu Valença no Facebook.

Mesmo sem saber uma palavra em inglês, fez uma redação em que mesclava versos poéticos e comparava o marxismo com a igreja católica, e foi aprovado em Fall River, Massachusetts.

Na universidade, teve aulas com grandes figuras conservadoras americanas, mas  sempre demonstrou seu lado social e se aproximou das lideranças da esquerda, chegando até a participar de uma das reuniões dos Panteras Negras, em Boston. 

Ainda como estudante nos Estados Unidos, Alceu Valença ia para as praças cantar seu repertório de xotes, emboladas e baiões, chamando a atenção da comunidade hippie local. 

O músico começou a fazer tanto sucesso, que um jornal local o entrevistou e chamou-o de “Bob Dylan brasileiro”, no título da matéria, comparando seu repertório regional brasileiro com uma derivação folk das músicas de protesto americanas.

As primeiras canções e o primeiro álbum

De volta ao Recife, Alceu formou-se em Direito e começou a inscrever suas primeiras músicas nos Festivais da Canção. Em 1970, mudou-se para o Rio – incentivado por seu amigo Geraldo Azevedo – em busca de um lugar ao sol na cena musical brasileira. 

Dois anos depois, apresentou-se – ao lado de Jackson do Pandeiro e Geraldo Azevedo – no VII Festival Internacional da Canção, com a embolada Papagaio do Futuro, que não chegou a se classificar, mas despertou a curiosidade do público.

No mesmo ano, Alceu Valença gravou seu disco de estreia – Quadrafônico, em parceria com Geraldo Azevedo – com composições dos dois artistas e arranjos e regência de Rogério Duprat.

Neste primeiro álbum, Alceu já teve os seus primeiros problemas com a censura. Uma das canções da dupla dizia:

“Joana, me dê um talismã / Você já pensou em mais eu viajar?”.

O censor achou que os versos eram uma apologia à maconha (marijuana). Alceu Valença contestou o censor – até porque não era nem adepto ao uso da erva –  e apresentou uma alternativa: trocou “Joana” por “Diana”. Conseguiu a autorização, o que nos permitiu conhecer a clássica canção Talismã.

O disco de estreia chamou a atenção do compositor Sérgio Ricardo, que convidou o pernambucano para ser o protagonista do filme da contracultura A Noite do Espantalho, o que lhe rendeu também um LP com a trilha sonora do filme. O filme foi escolhido como representante brasileiro no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1975, mas acabou não sendo indicado.

A estreia solo em disco 

Em 1974, Alceu Valença lançou seu primeiro disco solo, Molhado de Suor, que conta com a clássica canção Borboleta e também com Papagaio do Futuro.

Mas foi no Festival Abertura, da TV Globo, em 1975, que Alceu ficou conhecido do grande público, quando apresentou a canção Vou Danado Pra Catende, que unia os ritmos do sertão brasileiro ao peso das guitarras do rock, com alguns versos do poeta pernambucano Ascenso Ferreira

No icônico álbum Vivo!, de 1976, gravado ao vivo em um show no Teatro Teresa Raquel, no Rio de Janeiro (e com a participação de Zé Ramalho), Alceu inovou e fez história, ao apresentar experimentos que uniam o psicodélico ao nordestino, em canções como: Descida da Ladeira, Pontos Cardeais e O Casamento da Raposa com o Rouxinol

Em 77, lançou o álbum Espelho Cristalino e acrescentou pitadas de lirismo em canções  – como Agalopado e Veneno – com letras repletas de vigor e metáforas, que combatiam os tempos da ditadura militar, além da canção A Dança das Borboletas, parceria com Zé Ramalho.

Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Jackson do Pandeiro em 1972, no Festival Internacional da Canção | Foto: Divulgação/Perfil de Alceu Valença no Facebook.

A consagração nacional de Alceu Valença

Mas Alceu Valença só atingiu o sucesso para as grandes massas na década de 80. Depois de uma temporada em Paris, regada a músicas de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, e a um mergulho nos textos antropológicos de Gilberto Freyre, Alceu se recriou enquanto artista e formatou o estilo que o consagraria como um dos maiores nomes da nossa MPB.

O disco Saudades de Pernambuco, gravado em Paris, em 79, “representa a interface entre a fase anterior, mais contestadora e experimental, e a guinada que a carreira de Alceu assumiria, focada em um cancioneiro popular e sofisticado, com elementos da música pop ambientados na vasta seara da canção nordestina”, como diz seu antigo site oficial. 

São destaques desse álbum – só foi lançado no Brasil em 2008, como brinde do Jornal da Tarde e depois, oficialmente, em 2016 –  além da faixa título, a canção O Ovo e a Galinha

É em uma noite de solidão na capital francesa, que Alceu compõe o seu grande sucesso: o baião Coração Bobo, inspirado em Jackson do Pandeiro. Pouco depois, de volta ao Brasil, o pernambucano convidou novamente Jackson a defender uma composição de sua autoria em um festival.

Com o sucesso da canção, veio o convite para gravar um novo disco, Coração Bobo, que lançou Alceu Valença ao estrelato nacional. O disco traz ainda as canções:

  • Na Primeira Manhã;
  • Gato Na Noite (em parceria com Sebastião Lopes);
  • Como Se Eu Fosse Um Faquir;
  • e Solibar (com Carlos Penna Filho).

Além da gravação dos sucessos Vem Morena e Cintura Fina (de Luiz Gonzaga e Zé Dantas).

Também em 1980, Alceu foi convidado para participar do especial Arca de Noé, da TV Globo, que lhe aproximou do público infanto-juvenil.

Anunciação e outros sucessos 

Depois disso, vieram os sucessos dos próximos discos:  Cinco Sentidos, de 1981, traz as clássicas:

  • Cabelo no Pente (em parceria com Vicente Barreto);
  • Seixo Miúdo;
  • e Arreio de Prata (de Tito Lívio e Rodolfo Aureliano).

No LP Cavalo de Pau, de 1982, o mais vendido da carreira de Alceu Valença, estão os grandes sucessos:

  • Morena Tropicana;
  • Pelas Ruas Que Andei (em parceria com Vicente Barreto);
  • e Como Dois Animais.

Neste mesmo ano, Alceu participou do Festival de Montreux, e começou a aparecer com frequência em programas televisivos, atingindo milhões de cópias vendidas.

Em 1983, o artista lançou o álbum Anjo Avesso, grande sucesso de vendas, com aquela que viria a se tornar o maior sucesso de sua carreira: a canção Anunciação.

Em 1984, o disco Mágico, gravado na Holanda, traz entre as principais canções:

  • Dia Branco;
  • Cambalhotas;
  • e Que Grilo Dá.

Em 1985, o pernambucano participou da primeira edição do Rock in Rio, com um show antológico em duas noites do festival.

No mesmo ano, lança Estação da Luz, com sucessos como a faixa título Sino de Ouro, Balanço de Rede, Chuva de Cajus e o frevo Chego Já. O disco tem uma capa incrível, do pintor paraibano Wellington Virgulino

De 1986 a 1988, Alceu lançou os LPs Rubi, Leque Moleque – que conta com a clássica Girassol – e Oropa, França e Bahia (este último, ao vivo).

Em 1990, foi a vez do álbum Andar, Andar, mais pesado e urbano, que reflete um Brasil em dificuldades políticas e econômicas. Desta vez, a linguagem metafórica usada para tratar a política dos anos 70 é substituída pelo discurso contundente e pessimista da faixa-título, um blues andarilho, e pelo ativismo comunitário de FM Rebeldia.

A curiosa história de La Belle de Jour

No ano seguinte, Alceu lançou um de seus discos de maior sucesso: Sete Desejos, que traz clássicos como:

  • Respeita Januário (de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira);
  • Tesoura do Desejo;
  • Bicho Maluco Beleza;
  • Junho (parceria com Geraldo Valença);
  • e o grande sucesso La Belle de Jour.

A história de La Belle de Jour é curiosa: de volta a Paris, depois de já consagrado no Brasil, Alceu entregou um poema em branco à atriz Jacqueline Bisset, num encontro ao acaso em um café. Impressionado com a beleza da estrela, imaginou a musa na Praia de Boa Viagem, em Recife. Mas, na hora de escrever, confundiu as musas e batizou a canção com o título do filme estrelado por outra atriz de muito sucesso: Catherine Deneuve.

A atriz inglesa Jacqueline Bisset, que inspirou a canção “La Belle De Jour” | Foto: Reprodução

Em 1991, o artista se apresentou novamente no Rock In Rio (segunda edição) e seu show foi considerado o melhor do evento.

Em seguida, mudou-se para Olinda e a atmosfera da cidade histórica envolve todo o álbum Maracatus, Batuques e Ladeiras, de 1994, em canções como Maracajá, Pétalas (em parceria com HeRbert Azul),  e a clássica O Carnaval da Minha Janela, além da regravação de Valores do Passado (de Edgar Moraes).

A bela capa do disco foi ilustrada pela artista plástica Marisa Lacerda.

O Grande Encontro e a aproximação com novos públicos

Em 1996, Alceu Valença juntou-se aos colegas de geração Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho para a celebração do show (no Canecão) e álbum ao vivo O Grande Encontro, um dos principais discos e momentos da nossa música popular brasileira. O show impulsionou, ampliou e rejuvenesceu o público de Alceu.

Entre as principais canções do disco estão:

  • Sabiá (de Luiz Gonzaga e Zé Dantas);
  • Coração Bobo (de Alceu);
  • Dia Branco (de Geraldo Azevedo e Renato Rocha);
  • Admirável Gado Novo, Frevo Mulher e Chão de Giz (todas de Zé Ramalho);
  • e a união das clássicas Banho de Cheiro (Carlos Fernando).

Além de Pelas Ruas Que Andei, Tesoura do Desejo e Talismã.

No álbum Sol e Chuva, de 1997, Alceu aproveitou a onda e recriou seus grandes sucessos e clássicos para o público jovem.

Em 1998, lançou o álbum Forró de Todos os Tempos, conversando com a geração do Forró Universitário e reunindo temas clássicos de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro – como Xote das Meninas e Cantiga do Sapo – e novas canções autorais, como Forró de Olinda e Vou Pra Campinas (ambas em parceria com Aracílio Araújo).

Em 1999, o álbum Todos os Cantos trouxe o cantor ao vivo, em palcos de Montreux, Recife e Olinda, interpretando seus grandes clássicos.

Em seguida, Alceu lançou os álbuns Forró Lunar (2001), De Janeiro a Janeiro (2002) e Na Embolada do Tempo (2005). 

E Alceu não pára!

Em 2003, foi a vez do CD e DVD Ao Vivo em Todos os Sentidos, gravado na Fundição Progresso, no Rio. Em 2006, lançou o carnavalesco Marco Zero, rodado ao ar livre em Recife, para mais de cem mil foliões, que esperam ansiosamente por Alceu todos os anos, no famoso carnaval pernambucano.

Em 2009, o artista lançou o disco Ciranda Mourisca, com o sucesso Ciranda da Rosa Vermelha e versões acústicas para músicas menos conhecidas, como Mensageira dos Anjos e Dente de Ocidente.

Em 2014, lançou o álbum Amigo da Arte, em que revisita os frevos, maracatus e cirandas dos carnavais de Pernambuco. O disco foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras.

É também de 2014 o álbum ao vivo Valencianas, uma homenagem – em concerto – da Orquestra Ouro Preto a Alceu, com a presença do cantor como solista nos vocais.

Em 2015, Alceu Valença lançou seu livro de poesias: O Poeta da Madrugada.

E, em 2016, o artista reuniu-se novamente com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, para o show e disco ao vivo O Grande Encontro – 20 anos. Dessa vez, entraram no disco as seguintes canções de Alceu: Anunciação, Papagaio do Futuro e Me Dá Um Beijo, além de outras clássicas como:

  • Dona da Minha Cabeça (de Geraldo Azevedo e Fausto Nilo);
  • Bicho de Sete Cabeças II (de Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Renato Rocha);
  • e Ai Que Saudade D’ocê (de Vital Farias).

No mesmo ano, Alceu lançou o disco Vivo! Revivo! Ao Vivo, 30 anos após o lançamento do seu consagrado álbum Vivo!.

A Luneta do Tempo

Também em 2016, o artista aventurou-se no cinema e lançou o filme A Luneta do Tempo, que recebeu dois kikitos no Festival de Gramado: Trilha Sonora e Direção de Arte.

No início dos anos 2000, de volta à Fazenda Riachão – onde passou a infância – depois do funeral de seu pai, Alceu Valença mergulhou nas suas origens e começou a escrever um poema de cordel sobre os temas de sua infância: o circo, a poesia e o cangaço. Este poema se tornaria o roteiro, desenvolvido por dez anos, de A Luneta do Tempo

Alceu começou a rodar o filme em 2009 e, entre a concepção e a realização da obra, passaram-se 15 anos de trabalho. O filme também virou disco – inteiro de composições do artista – com a trilha sonora das ruas do Nordeste, dos cantadores anônimos, violeiros, emboladores, cegos arautos de feira, da música de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, do samba-canção dos anos 50, da música contemporânea brasileira – tudo o que mais influenciou Alceu Valença ao longo de sua vida e carreira.

Desde então, Alceu já lançou mais quatro álbuns: Sem Pensar no Amanhã (2021), Saudade (2021), Senhora Estrada (2021) e Alceu Valença e Paulo Rafael (2022, que celebra a amizade e a parceria musical de mais de 40 anos com seu fiel escudeiro, o guitarrista e produtor, que faleceu em 2021). Também em 2022 saiu o disco Valencianas II: Ao Vivo em Portugal – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto.

Quer saber mais sobre a vida e a obra do aniversariante de hoje? Acesse a audiobiografia do artista no nosso podcast Acervo MPB Alceu Valença, uma verdadeira enciclopédia da música brasileira, exclusiva da Novabrasil.

Feliz Aniversário, Alceu!

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