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5 músicas da MPB que homenageiam Clementina de Jesus

Novabrasil
14:00 07.02.2023
Jornalismo

5 músicas da MPB que homenageiam Clementina de Jesus

Viva o canto negro e a ancestralidade de Clementina de Jesus! Lenda da nossa MPB e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram, Quelé faria aniversário neste 07 de fevereiro. Clementina de Jesus, Tina ou Quelé Nascida em 1901, em um tradicional reduto de jongueiros no sul do Rio de … Continued

Novabrasil - 07.02.2023 - 14:00
5 músicas da MPB que homenageiam Clementina de Jesus
(Foto: Hipólito Pereira 30/11/1984 / Agência O GLOBO)

Viva o canto negro e a ancestralidade de Clementina de Jesus! Lenda da nossa MPB e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram, Quelé faria aniversário neste 07 de fevereiro.

Clementina de Jesus é uma lenda da MPB e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram | Foto: Hipólito Pereira 30/11/1984 / Agência O GLOBO.

Clementina de Jesus, Tina ou Quelé

Nascida em 1901, em um tradicional reduto de jongueiros no sul do Rio de Janeiro, Clementina de Jesus também era conhecida como Tina ou Quelé. Deixou um grande legado no resgate dos cantos negros tradicionais e na popularização do samba, além de ser vista como um importante elo entre a cultura do Brasil e da África.

Mudou-se com a família para a capital aos oito anos de idade, indo estudar em regime semi-interno no Orfanato Santo Antônio, onde desenvolveu a crença católica. Quando criança, aprendeu com sua mãe – filha de escravizados – rezas em jejê nagô e cantos em dialeto provavelmente iorubá. Destas influências resultam um misticismo sincrético e uma musicalidade marcada pelo samba e cantos tradicionais de escravizados do meio rural.

A importância de Clementina de Jesus para o carnaval

A partir da década de 1920 passou a frequentar os círculos carnavalescos: foi diretora da escola de samba Unidos do Riachuelo, participou de atividades da Mangueira (foi morar no bairro da Mangueira depois de casar) e acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da Portela, participando ativamente das rodas de samba.

Clementina de Jesus trabalhou como doméstica e lavadeira por mais de 20 anos, até ser vista cantando na Taberna da Glória, pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho – em 1963, já com 62 anos – que a levou para participar do projeto de grande sucesso O Menestrel, apresentando-se com o violonista Turíbio Santos.

Conexão afro-brasileira

No ano seguinte, 1964, Clementina se apresentou no show Rosa de Ouro, ao lado de Aracy Cortes, Elton Medeiros, Paulinho da Viola e Nelson Sargento, com a direção de Hermínio e Kleber Santos, show que consagrou o seu nome e gerou dois LPs (em 1965 e 1967), incluindo, entre outros, o jongo Benguelê, de Pixinguinha e Gastão Viana.

Em 1966, a artista representou o Brasil no Festival de Cannes, na França, e no Festival de Arte Negra, no Senegal, sendo ovacionada em um estádio de futebol. No mesmo ano, lançou o LP solo Clementina de Jesus, com repertório de jongo, corimá, sambas e partido-alto, recuperando a memória da conexão afro-brasileira.

Clementina de Jesus | Foto: Walter Firmo.

Gente da Antiga

Em 1968, com a produção de Hermínio de Carvalho, Clementina registrou o antológico LP Gente da Antiga, ao lado de Pixinguinha e João da Baiana. Em 1979, lançou o LP Clementina e Convidados, do qual participaram Candeia, João Bosco, Martinho da Vila, Ivone Lara, entre outros. 

Em toda a sua carreira, Clementina de Jesus gravou cinco discos solo: dois com o título Clementina de Jesus (em 1966 e 1976); Clementina, Cadê Você? (1970); e Marinheiro Só (1973), título também da canção tradicional, adaptada por Caetano Veloso, que tornou-se um ícone em sua voz. 

Fez também diversas participações em discos de outros artistas, como:

  • Milton Nascimento;
  • Adoniran Barbosa;
  • Alceu Valença;
  • Elizeth Cardoso;
  • João Bosco;
  • e Clara Nunes.

Homenagem no Teatro Municipal do Rio de Janeiro

Em 1983, foi homenageada com um espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a participação de Paulinho da Viola, João Nogueira, Elizeth Cardoso e outros nomes do samba. No mesmo ano, foi homenageada pela escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, no enredo A Grande Constelação das Estrelas Negras.

Homenagem no Theatro Municipal do Rio para Clementina de Jesus (1983) | Foto: Agência O Globo

Ordem do Mérito Cultural

Clementina de Jesus é uma grande representante da ancestralidade e sonoridade afro-brasileiras e cantou diversos pontos de umbanda e candomblé, ladainhas e jongos ao longo da vida. Em 2016, o governo brasileiro outorgou-lhe in memoriam a Ordem do Mérito Cultural, no grau de grã-cruz, junto com outros sambistas, como parte das comemorações dos 100 anos do nascimento do samba.

Mas, apesar da imensidão de sua voz e de seu legado para a música e a cultura negra brasileira, ela era grande demais para um Brasil tomado pelo racismo estrutural e pela intolerância religiosa. A artista faleceu praticamente no esquecimento, em julho de 1987, aos 86 anos, em função de um derrame.

5 canções da MPB que homenageiam Clementina de Jesus

Não sem antes influenciar uma gama de artistas brasileiros, que – hoje – celebram a  importância gigantesca de sua presença na nossa cultura e para o nosso povo. Por isso, trouxemos 05 canções de grandes artistas da nossa MPB que homenageiam a eterna e gigante Clementina de Jesus!

1 – Clementina, Cadê Você?

Composição de Elton Medeiros – Gravada pelo Conjunto Rosa de Ouro, em 1965 e 1967, e depois, por Paulinho da Viola, em 1987; por Marília Pêra, em 1990; e pelo próprio Élton, em 2000.

Clementina, cadê você?

Cadê você, cadê você?

Foi peixeira lá na roda

Do famoso Cartolinha

Já brilhou nos caxambus

E hoje aqui ela é rainha

Clementina, cadê você?

Cadê você, cadê você?

Clementina de Jesus

É de fato partideira

Tira verso improvisado

Num partido de primeira

2 – P.C.J – Partido Clementina de Jesus

Composição de Candeia, gravada por Clara Nunes e Clementina de Jesus, em 1977.

Não vadeia Clementina

Fui feita pra vadiar, eu vou

Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar, eu vou

Energia nuclear, o homem subiu a Lua, é o que se ouve falar, mas a fome continua

É o progresso, tia Clementina

Trouxe tanta confusão, um litro de gasolina por cem gramas de feijão.

3 – Dona Clementina 

Composição de Niva e Luizão 7 Cordas, feita para Jovelina Pérola Negra – artista muito influenciada por Clementina de Jesus – gravar, em 1992, cinco anos depois da morte de Clementina, fazendo referência à canção de Élton Medeiros, de 1965 – Clementina, Cadê Você?

Clementina de Jesus, onde estiver

Venha

Ilumina

A nossa raça e o samba com a sua luz

A nossa raça e o samba com a sua luz

Foi embora deixando no peito do bamba saudade

E deixou para nós a raiz da sua mocidade

E no samba de roda ela toda formosa sambou

Cantou, encantou, porque

Dona clementina foi feita pra vadiar

Dona clementina foi feita pra vadiar

Não vadeia, clementina

Foi feita pra vadiar

Dona clementina

Foi feita pra vadiar

Encrespou o mar, clementina

Encrespou o mar, dona clementina

Foi feita pra vadiar

Dona clementina

Foi feita pra vadiar

4 – Clementina de Jesus 

Composição de Gisa Nogueira, gravada por Beth Carvalho, em 1973.

Clementina de Jesus nascida

Obra e graça da raça e da cor

Veste branco, sorri para a vida

Que nem sempre lhe sorriu

Nem sempre lhe deu amor

Quando chega na roda de samba

Não se faz de rogada

Sapateando no tablado 

Ela faz o que bem quer

Improvisando em cima do verso 

Ela conta histórias 

De cima do morro aqui do asfalto 

Sempre no compasso certo

Deus te criou crioula 

Pra provar que a raça é bamba 

E compôs da tua vida um samba

Sua benção primeira dama do samba

Que ensina a vida a cantar

Ó Clementina, só pedimos pra te amar

5 – Clementina de Jesus

Composição de Zé Keti, lançada por ele em 1981, e depois regravada pelos Originais do Samba, no mesmo ano, e por Wilson Simonal, em 1985.

Clementina de Jesus é minha mãe,

é minha mãe

Minha Santa Clementina é minha mãe,

é minha mãe

Clementina milagrosa é minha mãe,

é minha mãe

Com a saia verde e rosa é minha mãe,

é minha mãe

A benção mãe Clementina

é minha mãe

Rogai por mim Clementina

é minha mãe

Cantando tu és divina, uma amor

qual uma flor

Na umbanda é de Deus nosso Senhor

Salve os teus orixás, teu povo baiano

o teu candumblé, o teu povo africano

tua criançada, teu anjo da guarda que

assim seja.

ô mãe, salve a cruz da tua igreja, e

teus passos, salve o teu guia de luz

em teus braços, salve o menino Jesus

Para saber mais sobre Clementina de Jesus:

  • Rainha Quelé — Clementina de Jesus, biografia lançada em 2001, por Heron Coelho;
  • Quelé, A Voz da Cor – Biografia de Clementina de Jesus, lançada em 2017, por Felipe Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa e Raquel Munhoz;
  • Clementina – documentário lançado pela Dona Rosa Filmes, em 2018, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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