
5 músicas da MPB que homenageiam Clementina de Jesus
5 músicas da MPB que homenageiam Clementina de Jesus
Viva o canto negro e a ancestralidade de Clementina de Jesus! Lenda da nossa MPB e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram, Quelé faria aniversário neste 07 de fevereiro. Clementina de Jesus, Tina ou Quelé Nascida em 1901, em um tradicional reduto de jongueiros no sul do Rio de … Continued

Viva o canto negro e a ancestralidade de Clementina de Jesus! Lenda da nossa MPB e uma das maiores sambistas que o Brasil e o mundo já conheceram, Quelé faria aniversário neste 07 de fevereiro.

Clementina de Jesus, Tina ou Quelé
Nascida em 1901, em um tradicional reduto de jongueiros no sul do Rio de Janeiro, Clementina de Jesus também era conhecida como Tina ou Quelé. Deixou um grande legado no resgate dos cantos negros tradicionais e na popularização do samba, além de ser vista como um importante elo entre a cultura do Brasil e da África.
Mudou-se com a família para a capital aos oito anos de idade, indo estudar em regime semi-interno no Orfanato Santo Antônio, onde desenvolveu a crença católica. Quando criança, aprendeu com sua mãe – filha de escravizados – rezas em jejê nagô e cantos em dialeto provavelmente iorubá. Destas influências resultam um misticismo sincrético e uma musicalidade marcada pelo samba e cantos tradicionais de escravizados do meio rural.
A importância de Clementina de Jesus para o carnaval
A partir da década de 1920 passou a frequentar os círculos carnavalescos: foi diretora da escola de samba Unidos do Riachuelo, participou de atividades da Mangueira (foi morar no bairro da Mangueira depois de casar) e acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da Portela, participando ativamente das rodas de samba.
Clementina de Jesus trabalhou como doméstica e lavadeira por mais de 20 anos, até ser vista cantando na Taberna da Glória, pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho – em 1963, já com 62 anos – que a levou para participar do projeto de grande sucesso O Menestrel, apresentando-se com o violonista Turíbio Santos.
Conexão afro-brasileira
No ano seguinte, 1964, Clementina se apresentou no show Rosa de Ouro, ao lado de Aracy Cortes, Elton Medeiros, Paulinho da Viola e Nelson Sargento, com a direção de Hermínio e Kleber Santos, show que consagrou o seu nome e gerou dois LPs (em 1965 e 1967), incluindo, entre outros, o jongo Benguelê, de Pixinguinha e Gastão Viana.
Em 1966, a artista representou o Brasil no Festival de Cannes, na França, e no Festival de Arte Negra, no Senegal, sendo ovacionada em um estádio de futebol. No mesmo ano, lançou o LP solo Clementina de Jesus, com repertório de jongo, corimá, sambas e partido-alto, recuperando a memória da conexão afro-brasileira.

Gente da Antiga
Em 1968, com a produção de Hermínio de Carvalho, Clementina registrou o antológico LP Gente da Antiga, ao lado de Pixinguinha e João da Baiana. Em 1979, lançou o LP Clementina e Convidados, do qual participaram Candeia, João Bosco, Martinho da Vila, Ivone Lara, entre outros.
Em toda a sua carreira, Clementina de Jesus gravou cinco discos solo: dois com o título Clementina de Jesus (em 1966 e 1976); Clementina, Cadê Você? (1970); e Marinheiro Só (1973), título também da canção tradicional, adaptada por Caetano Veloso, que tornou-se um ícone em sua voz.
Fez também diversas participações em discos de outros artistas, como:
- Milton Nascimento;
- Adoniran Barbosa;
- Alceu Valença;
- Elizeth Cardoso;
- João Bosco;
- e Clara Nunes.
Homenagem no Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Em 1983, foi homenageada com um espetáculo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a participação de Paulinho da Viola, João Nogueira, Elizeth Cardoso e outros nomes do samba. No mesmo ano, foi homenageada pela escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, no enredo A Grande Constelação das Estrelas Negras.

Ordem do Mérito Cultural
Clementina de Jesus é uma grande representante da ancestralidade e sonoridade afro-brasileiras e cantou diversos pontos de umbanda e candomblé, ladainhas e jongos ao longo da vida. Em 2016, o governo brasileiro outorgou-lhe in memoriam a Ordem do Mérito Cultural, no grau de grã-cruz, junto com outros sambistas, como parte das comemorações dos 100 anos do nascimento do samba.
Mas, apesar da imensidão de sua voz e de seu legado para a música e a cultura negra brasileira, ela era grande demais para um Brasil tomado pelo racismo estrutural e pela intolerância religiosa. A artista faleceu praticamente no esquecimento, em julho de 1987, aos 86 anos, em função de um derrame.
5 canções da MPB que homenageiam Clementina de Jesus
Não sem antes influenciar uma gama de artistas brasileiros, que – hoje – celebram a importância gigantesca de sua presença na nossa cultura e para o nosso povo. Por isso, trouxemos 05 canções de grandes artistas da nossa MPB que homenageiam a eterna e gigante Clementina de Jesus!
1 – Clementina, Cadê Você?
Composição de Elton Medeiros – Gravada pelo Conjunto Rosa de Ouro, em 1965 e 1967, e depois, por Paulinho da Viola, em 1987; por Marília Pêra, em 1990; e pelo próprio Élton, em 2000.
Clementina, cadê você?
Cadê você, cadê você?
Foi peixeira lá na roda
Do famoso Cartolinha
Já brilhou nos caxambus
E hoje aqui ela é rainha
Clementina, cadê você?
Cadê você, cadê você?
Clementina de Jesus
É de fato partideira
Tira verso improvisado
Num partido de primeira
2 – P.C.J – Partido Clementina de Jesus
Composição de Candeia, gravada por Clara Nunes e Clementina de Jesus, em 1977.
Não vadeia Clementina
Fui feita pra vadiar, eu vou
Vou vadiar, vou vadiar, vou vadiar, eu vou
Energia nuclear, o homem subiu a Lua, é o que se ouve falar, mas a fome continua
É o progresso, tia Clementina
Trouxe tanta confusão, um litro de gasolina por cem gramas de feijão.
3 – Dona Clementina
Composição de Niva e Luizão 7 Cordas, feita para Jovelina Pérola Negra – artista muito influenciada por Clementina de Jesus – gravar, em 1992, cinco anos depois da morte de Clementina, fazendo referência à canção de Élton Medeiros, de 1965 – Clementina, Cadê Você?
Clementina de Jesus, onde estiver
Venha
Ilumina
A nossa raça e o samba com a sua luz
A nossa raça e o samba com a sua luz
Foi embora deixando no peito do bamba saudade
E deixou para nós a raiz da sua mocidade
E no samba de roda ela toda formosa sambou
Cantou, encantou, porque
Dona clementina foi feita pra vadiar
Dona clementina foi feita pra vadiar
Não vadeia, clementina
Foi feita pra vadiar
Dona clementina
Foi feita pra vadiar
Encrespou o mar, clementina
Encrespou o mar, dona clementina
Foi feita pra vadiar
Dona clementina
Foi feita pra vadiar
4 – Clementina de Jesus
Composição de Gisa Nogueira, gravada por Beth Carvalho, em 1973.
Clementina de Jesus nascida
Obra e graça da raça e da cor
Veste branco, sorri para a vida
Que nem sempre lhe sorriu
Nem sempre lhe deu amor
Quando chega na roda de samba
Não se faz de rogada
Sapateando no tablado
Ela faz o que bem quer
Improvisando em cima do verso
Ela conta histórias
De cima do morro aqui do asfalto
Sempre no compasso certo
Deus te criou crioula
Pra provar que a raça é bamba
E compôs da tua vida um samba
Sua benção primeira dama do samba
Que ensina a vida a cantar
Ó Clementina, só pedimos pra te amar
5 – Clementina de Jesus
Composição de Zé Keti, lançada por ele em 1981, e depois regravada pelos Originais do Samba, no mesmo ano, e por Wilson Simonal, em 1985.
Clementina de Jesus é minha mãe,
é minha mãe
Minha Santa Clementina é minha mãe,
é minha mãe
Clementina milagrosa é minha mãe,
é minha mãe
Com a saia verde e rosa é minha mãe,
é minha mãe
A benção mãe Clementina
é minha mãe
Rogai por mim Clementina
é minha mãe
Cantando tu és divina, uma amor
qual uma flor
Na umbanda é de Deus nosso Senhor
Salve os teus orixás, teu povo baiano
o teu candumblé, o teu povo africano
tua criançada, teu anjo da guarda que
assim seja.
ô mãe, salve a cruz da tua igreja, e
teus passos, salve o teu guia de luz
em teus braços, salve o menino Jesus
Para saber mais sobre Clementina de Jesus:
- Rainha Quelé — Clementina de Jesus, biografia lançada em 2001, por Heron Coelho;
- Quelé, A Voz da Cor – Biografia de Clementina de Jesus, lançada em 2017, por Felipe Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa e Raquel Munhoz;
- Clementina – documentário lançado pela Dona Rosa Filmes, em 2018, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.