
Noel Rosa no ‘Arquivo Novabrasil’; confira aqui

Noel Rosa no ‘Arquivo Novabrasil’; confira aqui
Nesta semana, tudo sobre a vida e a obra do sambista Noel Rosa: uma verdadeira enciclopédia da MPB


O Arquivo Novabrasil é um programa original, que promove a vida e a obra de grandes nomes da música popular brasileira. Artistas que fazem da nossa música um dos nossos maiores legados e pelo que queremos ser lembrados e reverenciados como brasileiros.
Toda quarta-feira, às 12h, um novo episódio do Arquivo Novabrasil vai ao ar em vídeo, nos nossos canais do Youtube e Spotify.
A primeira temporada especial do Arquivo Novabrasil traz a biografia de artistas que ajudaram a construir a história do samba no Brasil. E hoje, vamos conhecer a história dele: Noel Rosa!
Um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, Noel Rosa é conhecido como o Poeta da Vila!
O sambista – cantor, compositor e instrumentista – nasceu em 1910, no Rio de Janeiro, de um parto muito difícil e complicado, que incluiu o uso de fórceps (um tipo de parto assistido, em que se usa um instrumento para ajudar a extrair o bebê) pelo médico obstetra, como medida para salvar as vidas da mãe e do bebê.
Além disso, Noel Rosa nasceu com hipoplasia mandibular, ou seja – teve o desenvolvimento da sua mandíbula limitado – o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia, bastante particular.
Essa marca, na época da escola, lhe rendeu o apelido de “Queixinho”.

Autodidata, Noel aprendeu a tocar bandolim de ouvido ainda adolescente, tomando gosto pela música. Logo, passou ao violão e cedo se tornou uma figura conhecida da boemia carioca. Por ter nascido na Rua Teodoro da Silva, no bairro carioca de Vila Isabel, ficou conhecido como o Poeta da Vila.

O artista integrou vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, a partir de 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha), de quem Noel era amigo desde os tempos de escola, Almirante, Alvinho e Henrique Brito.
É dessa época, a única filmagem existente de Noel Rosa, onde ele aparece – em pé, à esquerda do vídeo, de chapéu e ao violão – com seus colegas do grupo Bando de Tangarás interpretando “Vamos Fallá do Norte”, composição de Almirante (que é esse que aparece em pé e vem à frente, cantando no vídeo).
Na filmagem, também estão Braguinha (sentado ao centro), Alvinho, Abelardo Braga e Henrique Brito.
A filmagem foi feita em 1929, no Estúdio Benedetti, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, e permaneceu desaparecida por décadas até seus negativos serem reencontrados por acaso, pelo cineasta carioca Alexandre Dias da Silva.
Ele estava em uma feira de rua em 1994, quando encontrou esse filme raríssimo — o curta-metragem “Vamo Falá do Norte”, de Paulo Benedetti, com texto de José Roberto Torero e cenas de cinejornais e filmes de 1929. Com essas imagens, Alexandre produziu o curta-metragem “O Cantor de Samba”.
Foi também em 1929 que Noel Rosa arriscou as suas primeiras composições – “Minha Viola” e “Festa no Céu” – ambas gravadas por ele mesmo.
Noel Rosa foi então se revelando um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica, sempre com muita irreverência.
Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento da canção “Com Que Roupa?”, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro. Noel tinha apenas 19 anos e o samba era somente sua terceira gravação como cantor e compositor.
Neste ano de 1930, quando a canção popular começou a se firmar e o samba passou a definir a linhagem autêntica como raiz própria e brasileira, Noel Rosa ganhou destaque e preferência entre os ouvintes de rádio e participantes do carnaval de rua do Rio de Janeiro.
Sua música conquistava a todos pela autenticidade: falava de amor, de encontros e desencontros, do cotidiano. O Poeta da Vila teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e no “asfalto”, ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época – fato de grande importância, não só para o samba, mas para a história da música popular brasileira.

Em 1931, Noel Rosa chegou a entrar para a Faculdade de Medicina – mas logo percebeu que gostava muito mais da vida de artista, em meio ao samba e à boemia – e largou os estudos para ser médico, para a nossa sorte!
Noel era boêmio, apaixonado pela noite, pela música, pelas mulheres e pela vida. O poeta se casou com Lindaura, mas mantinha casos extraconjugais com outras mulheres, uma delas foi Ceci, grande paixão do sambista, para quem ele compôs até música: “A Dama do Cabaré”.

A esposa de Noel engravidou, mas perdeu o filho durante a gestação, portanto o artista não deixou filhos.
O artista também foi protagonista de uma curiosa polêmica, por conta de sua rivalidade artística (e de galanteador) com o também sambista Wilson Batista, que surgiu no cenário musical quando Noel Rosa já tinha atingido o sucesso.

Os dois compositores se atacaram mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como “Feitiço da Vila” (parceria com Vadico) e “Palpite Infeliz”…
E canções de Wilson Batista como “Mocinho da Vila” e “Conversa Fiada”.
Em 1956, a gravadora Odeon prestou uma homenagem a essa grande rixa da música popular brasileira e aos dois importantes compositores, produzindo um disco completo com as canções compostas durante a polêmica que durou três anos. As composições de Wilson Batista ainda não tinham sido gravadas em disco.
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Compositor prolífico, Noel seguiu compondo e gravando dezenas de canções a cada ano, sozinho ou com seus diversos parceiros.
Eclético, o artista compôs rumbas, valsas, marchas e sambas, abordando uma grande variedade de temas, dentre os quais um merece destaque: o cotidiano. Noel Rosa é aclamado por muitos como o maior cronista da música brasileira.

Infelizmente, Noel contraiu tuberculose e os médicos recomendam-lhe abandonar a vida boêmia e cuidar melhor de sua saúde. Atendendo aos apelos da mãe e da esposa, o artista até tentou, mas não conseguiu deixar a boemia.
Ele saía escondido de casa durante as noites para encontrar os amigos e fazer música. Em seu último ano de vida, Noel Rosa compôs sambas tristes, como “Eu Sei Sofrer” e “Último Desejo”.
As duas canções foram gravadas por sua grande amiga e maior intérprete: a cantora Aracy de Almeida, que – depois da morte de Noel – se dedicou a regravar suas canções e não deixá-las serem esquecidas.
Uma carta que o sambista escreveu – nesta época em que estava doente – ao seu médico, Dr. Edgar Graça Melo, foi musicada por seu amigo – o também sambista carioca – João Nogueira, quando Noel já tinha falecido e entrou para o álbum “Vida Boêmia”, de 1978.
A canção recebeu o nome de “Ao Meu Amigo Edgard”.
Infelizmente, Noel Rosa morreu prematuramente – em 1937, aos 26 anos – por conta da tuberculose. O fato de não ter parado de beber e fumar, de não fazer repouso absoluto e continuar pegando sereno nas madrugadas, piorou a condição de saúde do artista.

O Poeta da Vila deixou um conjunto de músicas que tornaram-se clássicos dentro do cancioneiro popular brasileiro. Em seu pouco tempo de vida, compôs 259 canções, entre elas – outros sucessos – como: “Gago Apaixonado”e “ Eu Vou Pra Vila” (de 1931); “Fita Amarela”(de 1933); “Feitio de Oração” e “Conversa de Botequim” (parcerias com Vadico, de 1933 e 1935).
Noel Rosa deixou – com certeza – mais algumas dezenas de canções de sua autoria, que vendeu para outros artistas, como era costume na época.
Suas canções também viraram trilha de diversos filmes importantes do cinema brasileiro.
Um deles é “Alô, Alô, Carnaval” (de Adhemar Gonzaga), lançado em 1936, quando duas marchas de carnaval de Noel Rosa entraram para a trilha sonora: “Pierrot Apaixonado” (parceria com Heitor dos Prazeres) e “Não Resta a Menor Dúvida” (parceria com Hervé Cordovil).
Já no filme “Cidade Mulher” (de Humberto Mauro, também de 1936), a canção de mesmo nome do filme entrou como uma homenagem de Noel Rosa para dois de seus amores: as mulheres e a cidade do Rio de Janeiro. “Cidade Mulher” é interpretada pelo cantor Orlando Silva. Outras cinco composições de Noel estão nesse filme.
A vida de Noel Rosa foi retratada também em diversos livros, entre eles se destacam: “No Tempo de Noel Rosa” – escrito pelo amigo e sambista Almirante – e “Noel Rosa: Uma Biografia”, de João Máximo e Carlos Didier.
Noel também foi parar no cinema: interpretado por Chico Buarque no filme “O Mandarim” (1995), e por Rafael Raposo no filme “Noel – Poeta da Vila” (2006). No teatro, sua vida foi objeto de um excelente drama de Plínio Marcos: “O Poeta da Vila e seus Amores”, que ficou mais de dois anos ininterruptos em cartaz.
Diversos outros artistas gravaram discos tributos em homenagem a Noel Rosa e sua obra, como Nelson Gonçalves, MPB-4, Maria Bethânia, Gal Costa e Teresa Cristina.
Em 2010, 100 anos depois do nascimento de Noel Rosa, a escola de samba Unidos de Vila Isabel, entrou na avenida com o samba enredo “Noel: A Presença do Poeta da Vila”, de autoria do também sambista e compositor carioca Martinho da Vila.
Em 2016, Noel Rosa foi agraciado in memoriam com a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, na classe de grão-mestre.
Viva o eterno Poeta da Vila!