
História da música “Não Chore Mais”, no Dia Nacional do Reggae

História da música “Não Chore Mais”, no Dia Nacional do Reggae
Gilberto Gil é um dos grandes responsáveis pela difusão do reggae no Brasil. Hoje, vamos conhecer a história da música “Não Chore Mais”, que o baiano adaptou de um sucesso de Bob Marley, considerado o “Pai da Reggae Music"


Hoje, dia 11 de maio, é celebrado no Brasil o Dia Nacional do Reggae. E – para celebrar a data – nós trouxemos a história da música “Não Chore Mais”, um dos reggaes mais famosos do cancioneiro popular brasileiro, que – na verdade – é uma versão do baiano Gilberto Gil para a canção “No Woman no Cry”, de Bob Marley.
Sobre o Dia Nacional do Reggae
Instituída com o intuito de valorizar e difundir o gênero musical no nosso país, a data foi escolhida em homenagem ao dia em que o mundo perdeu – em 1981 – o maior nome do reggae de todos os tempos, responsável por tornar o gênero conhecido no mundo inteiro: o jamaicano Bob Marley, conhecido como o “Pai do Reggae”.
O Reggae surgiu na Jamaica, no final da década de 60, a partir do desenvolvimento do Rocksteady e do Ska, estilos muito populares no país no final dos anos 1950 e início dos anos 1960.
Em meados de 1968, alguns músicos jamaicanos começaram a fazer sons mais lentos que o Ska, porém mais rápidos que o Rocksteady, além de acrescentar alguns efeitos na guitarra: foi aí que surgiu o Reggae em sua forma mais pura.
O gênero também foi bastante influenciado pela música tradicional africana e caribenha e pelo Rhythm and Blues americano.
O Reggae não é somente um gênero musical, mas também uma filosofia de vida: seus adeptos levam mensagens de paz, amor e principalmente críticas sociais, na tentativa de alertar o povo sobre a luta por direitos. Estão em sua temática questões como a desigualdade social e racial, o preconceito e a fome.
Um dos grandes feitos de Bob Marley foi ter difundido – por meio de suas músicas – o movimento Rastafári e suas ideias de paz, igualdade social, irmandade, preservação do meio ambiente e amor universal.
O Reggae no Brasil
Na década de 1970, o Reggae começou a ganhar território internacional. Muitos artistas brasileiros foram fortemente impactados e influenciados ao escutarem – principalmente Bob Marley e sua banda The Wailers – mas também Jimmy Cliff e outros nomes da música Reggae.
Os baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso foram os pioneiros. Escutaram o Reggae pela primeira vez durante o tempo em que passaram no exílio, em Londres, por conta da perseguição da Ditadura Militar. Caetano logo incluiu no seu disco “Transa”, de 1972, uma menção ao gênero, na música “Nine out of Ten”.
Já Gil, bebeu muito da fonte do Reggae quando esteve no exílio, mas trouxe mais influências do gênero em diversas músicas do seu álbum “Refavela”, de 1977,principalmente depois de voltar de uma visita à Nigéria, no continente africano, para participar do II Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, ao lado de Caetano e outros nomes.
Gil passou um mês conhecendo a cultura do país e, a partir de então, passou a trabalhar intensamente a temática afro em suas canções.
Em 1979, ele regravou no álbum “Realce” – com muito sucesso – a canção “No Woman no Cry”, de Bob Marley, em uma versão que mistura português e inglês e que recebeu o nome em português de “Não Chore Mais”.
A partir daí, Gil trouxe o Reggae com toda a força para o Brasil enunca mais deixou de ter o gênero e a cultura Reggae como grande influência em sua obra.
Em 2002, o baiano lançou um disco inteiro com regravações ou versões de músicas de Marley, chamado “Kaya N’Gan Daya”.
Depois de Caetano e Gil, algumas das maiores bandas de pop e rock brasileiras também passaram a trazer enorme influência do Reggae em seu repertório, como Os Paralamas do Sucesso e Skank.A Cidade Negra, por exemplo, nasceu basicamente do Reggae e do Ska e depois trouxe outras influências como o pop, o soul e o rock.
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O também baiano Edson Gomes é outro grande expoente do gênero, muito popular em Salvador e em outras cidades do nordeste.
O estado do Maranhão é um grande defensor do estilo que, de tão fortalecido na região, chegou a receber o apelido de “Jamaica Brasileira”. A banda Tribo de Jah, formada em São Luís, foi uma das primeiras bandas do estado a trazerem o Reggae para o cenário nacional.
Nos dias atuais, temos muitas bandas da nossa música brasileira que têm no Reggae a sua vertente principal, como Natiruts (que anunciou o fim das suas atividades no ano passado), Planta e Raiz, Maskavo, além de nomes como Armandinho e Edu Ribeiro.
A história da música “Não Chores Mais”
Gilberto Gil conta no livro “Todas as Letras” – organizado por Carlos Rennó e que reúne a maioria das canções escritas pelo artista baiano – sobre como decidiu gravar uma versão da canção “No Woman no Cry”, de Bob Marley, com o nome de “Não Chores Mais”:
“Eu pensava na transposição de uma cena jamaicana para uma cena brasileira a mais similar possível nos aspectos físico, urbano e cultural. Emblemática do desejo de autonomia e originalidade das comunidades alternativas, “No Woman, No Cry” retratava o convívio diário de rastafaris no ‘government yard’ (área governamental) em Trenchtown, e a perseguição policial, provavelmente ligada à questão da droga (maconha), que eles sofriam.
Esta situação eu quis transportar para o parque do Aterro, no Rio de Janeiro, também um parque público, onde localizei policiais em vigília e hippies em rodinhas, tocando violão e puxando fumo, como eu costumava vê-los de noite na cidade.
Coincidindo com o momento em que a abertura política estava começando, ‘Não Chore Mais’acabou por se referir a todo um período de repressão no Brasil.”, comenta o artista.
“Minha tradução para o refrão-nome foi uma escolha arbitrária, porque eu nunca entendi direito o que os autores queriam dizer com o proverbial ‘no woman, no cry’. Até procurei, mas não tive meios de saber. Alguns me disseram que a expressão significa ‘nenhuma mulher, nenhum problema’; eu pensei em ‘nenhuma mulher, nenhum choro’, um adágio local talvez.
E também numa possível forma em inglês dialetado para o correto ‘no, woman, don’t cry’. Optei por algo próximo disso inclusive porque, assim, eu me aproximava mais do sentido dos outros versos da música, uma espécie de lamento pela perda dos amigos e pela presença perturbadora da repressão que, na versão pelo menos, adquire um ar de canção de despedida, com o homem dizendo à mulher que está indo embora, mas que isso não é o fim do mundo, e que é pra ela se lembrar do tempo dos dois juntos etc. Uma instauração de um espaço afetivo que eu até hoje não sei se o original contém.” , destaca o músico e compositor.
Sobre a frase: “Amigos presos, amigos sumindo assim, pra nunca mais“, Gil comenta que: “Eu não pensava em ninguém especificamente; a tradução vinha diretamente dos versos em inglês, com o detalhe do uso do termo ‘presos’ – surgido naturalmente com a lembrança do modo de atuar da repressão, através das prisões, torturas e mortes de pessoas.”
E a sua explicação para a frase “Melhor é deixar pra trás”, é que: “Há uma certa licenciosidade interpretativa aí. ‘You can’t forget your past’ (‘Você não pode esquecer o seu passado’), diz o original. Me referindo ao período que estava terminando no Brasil, eu digo: ‘Vamos passar a borracha nisso tudo. O passado tem um débito conosco, mas vamos dar um crédito ao futuro’. Uma posição típica da minha ideologia interna, do meu otimismo, do meu gosto pela conciliação, do traço tolerante da minha personalidade.”
E aí, gostou de saber a história da música “Não Chore Mais”, no Dia Nacional do Reggae?