
Adoniran Barbosa no 4º episódio sobre Samba do Arquivo Novabrasil

Adoniran Barbosa no 4º episódio sobre Samba do Arquivo Novabrasil
Arquivo Novabrasil desta semana traz tudo sobre a vida e a obra de Adorinan Barbosa; uma verdadeira enciclopédia da MPB


O Arquivo Novabrasil é um programa original, que promove a vida e a obra de grandes nomes da música popular brasileira. Artistas que fazem da nossa música um dos nossos maiores legados e pelo que queremos ser lembrados e reverenciados como brasileiros.
Toda quarta-feira, às 12h, um novo episódio do Arquivo Novabrasil vai ao ar em vídeo, nos nossos canais do Youtube e Spotify.
A primeira temporada especial do Arquivo Novabrasil traz a biografia de artistas que ajudaram a construir a história do samba no Brasil. E hoje, vamos conhecer a história dele: Adoniran Barbosa!
Adoniran Barbosa é um dos mais importantes nomes da nossa música popular brasileira e um dos maiores representantes da música paulistana, responsável pelos grandes sambas que marcaram a história da cidade de São Paulo.
Cantor, compositor, ator e humorista, Adoniran se tornou um grande cronista musical da vida da capital paulistana, principalmente das camadas populares e dos bairros com famílias de imigrantes italianos. Exímio observador, ele contava histórias típicas do cotidiano de São Paulo como ninguém, apropriando-se da linguagem popular dos cidadãos paulistanos e retratando seus tipos, costumes, dramas e alegrias, sempre com muito humor e pitadas de crítica social, sobre uma cidade que – apesar de próspera – esconde as mazelas da exclusão social.
Adoniran Barbosa nasceu em 1910, na cidade de Valinhos, no interior de São Paulo, com o nome de João Rubinato. Ele começou sua carreira no rádio, onde representava diversos personagens. Um deles, o mais famoso de todos, se chamava Adoniran Barbosa e ganhou tanta popularidade que fez o seu intérprete mudar o nome artístico para o nome do personagem.
Esse nome, Adoniran, ele criou inspirado no amigo Adoniran Alves – seu colega de boemia – e o sobrenome Barbosa foi inspirado no cantor e compositor Luiz Barbosa, pioneiro do samba de breque, de quem João Rubinato era fã.

Filho de imigrantes italianos que vieram tentar uma vida melhor no Brasil – e com sete irmãos – Adoniran teve que largar os estudos cedo para ajudar no sustento da família (e também porque não era muito fã da escola!), tendo trabalhado desde criança. Ele costumava entregar marmitas em Jundiaí, uma das cidades em que a família morou antes de se mudarem para São Paulo.
Com 22 anos, Adoniran Barbosa se mudou para São Paulo e – antes de começar na carreira artística – exerceu várias atividades como garçom, serralheiro, tecelão, pintor, metalúrgico e vendedor de tecidos em uma loja da famosa rua de comércio popular de São Paulo, a 25 de Março.
Como vendedor de tecidos, ele batia de porta em porta para fazer as suas vendas, mas gostava mesmo era de passar nas portas das recém inauguradas rádios de São Paulo. Sempre boêmio, também frequentava os bares das redondezas e fazia amizades com locutores e artistas. Seu verdadeiro sonho era tornar-se um conhecido artista do rádio.

Na verdade, antes do rádio, ele tentou os palcos, sendo a atuação a sua primeira vocação. Mas Adoniran foi muito rejeitado, por sua suposta falta de instrução – sendo que, o pouco que não aprendeu na escola, aprendeu muito com a vida de batalha desde cedo – e também por não ter padrinhos ou grandes contatos na área. Então, o artista partiu para a tentativa de mostrar o seu talento estando em evidência no rádio, que estava em plena ascensão na época.

Adoniran Barbosa começou como compositor e suas primeiras canções foram “Minha Vida Se Consome” (parceria com Pedrinho Romano e Verídico) e “Socorro” (só com Pedrinho Romano).
Mas logo Adoniran percebeu que – para ser visto – ele precisava atuar como intérprete e passou então a se arriscar como intérprete de sambas em programas de calouros. Depois de algumas tentativas frustradas, o samba que lhe abriu as portas para o sucesso nas rádios foi o clássico “Filosofia”, de Noel Rosa e André Filho, em 1933.
A primeira composição de Adoniran Barbosa gravada foi a marcha “Dona Boa” (parceria com J. Aimberê), na voz de Raul Torres, em 1935. No ano anterior, a canção tinha vencido o concurso de músicas carnavalescas promovido pela prefeitura municipal de São Paulo.
Em 1941, Adoniran Barbosa passou a trabalhar com radioteatro na Rádio Record, no programa do pioneiro Osvaldo Moles, onde interpretava diversos personagens que tinham uma linguagem bem popular e tipicamente paulistana. Foi aí que ele começou a criar – com a ajuda de Osvaldo – os tipos e histórias que viriam ilustrar a maioria das suas composições musicais.
Entre as personagens que Adoniran criou a partir da observação do cotidiano de quem vivia na cidade de São Paulo e que ele inseriu em suas mais importantes composições, estão tipos como: os despejados de cortiços e favelas, os engraxates, o malandro, o professor, o boêmio, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, entre tantos outros personagens marginalizados pelo acelerado crescimento urbano-industrial da cidade paulistana.


Foi por volta dessa época, em 1943, que Adoniran Barbosa conheceu os músicos do conjunto Demônios da Garoa e se juntou a eles para formar uma banda que animava a torcida dos jogos de futebol promovidos por artistas de rádio no interior de São Paulo. Em pouco tempo, na década de 50, o grupo Demônios da Garoa se tornaria o maior intérprete das canções de Adoniran.


Em 1951, depois de muitos anos trabalhando como cantor, ator e animador em programas na rádio, Adoniran Barbosa gravou o seu primeiro disco 78 rotações por minuto, que conta com a marcha-rancho “Os Mimosos do Colibri” (de Hervê Cordovil e Osvaldo Moles) e o samba de sua autoria e um dos maiores sucessos de sua carreira, “Saudade da Maloca”, que em gravações futuras mudou de nome para “Saudosa Maloca”.
No mesmo ano, o seu samba “Malvina” ganhou um concurso carnavalesco em São Paulo, e foi gravado pelos Demônios da Garoa e lançado para o carnaval do ano seguinte.
Em 1952, o artista gravou outro de seus grandes sucessos, o clássico “Samba do Arnesto”, em parceria com Alocim. São também deste ano as gravações de “Conselho de Mulher” (parceria com José B. Santos e Osvaldo Moles) e a clássica “Joga a Chave” (parceria com Oswaldo França), que também ganhou o concurso carnavalesco de São Paulo em uma gravação dos Demônios da Garoa.
Em 1955, os Demônios da Garoa gravaram tanto “Saudosa Maloca” quanto o “Samba do Arnesto” e a cantora Marlene também gravou “Saudosa Maloca”, tornando a canção muito popular.
No mesmo ano de 1955, Adoniran Barbosa compôs outro grande sucesso da sua carreira: a canção “As Mariposas”.
Em 1956, o grupo Demônios da Garoa firmou mais ainda o nome de Adoniran Barbosa ao gravar diversos sucessos do compositor: “Iracema”, “Um Samba no Bexiga”, “Apaga o Fogo Mané” e “Quem Bate Sou Eu” (essa em parceria com Artur Bernardo). No mesmo ano, o grupo Os Modernistas grava a canção “O Legume Que Ele Quer”, também de Adoniran, em parceria com Manezinho Araújo.
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Em 1957, Adoniran compôs sua única parceria com o poeta Vinicius de Moraes: a canção “Bom Dia, Tristeza”. Vinicius mandou os versos para a cantora Aracy de Almeida, para que ela fizesse o que quisesse com eles. Aracy – que era colega de Adoniran na rádio e na TV – entregou para o amigo musicar. Aracy de Almeida gravou a canção e depois vários outros grandes nomes da música popular brasileira também, como Maria Bethânia, Elis Regina e Maysa.
VÍDEO – BOM DIA, TRISTEZA (Maysa)
Em 1958, Adoniran Barbosa lançou mais discos de 78 rotações por minuto, com as canções “Pra Que Chorar” (de Peteleco), “Pafunça” (parceria com Osvaldo Moles) e “Nóis Não Usa Os Bleque Tais” (parceria com Gianfrancesco Guarnieri).
Em 1960, em parceria com Osvaldo Moles, Adoniran compôs outro de seus maiores e mais icônicos sucessos: o samba “Tiro Ao Álvaro”, também em parceria com Osvaldo Moles. A música foi gravada com muito sucesso por Elis Regina e Adoniran, em 1980.
O parceiro Osvaldo Moles também escreveu – especialmente para Adoniran – o programa “História das Malocas”, inspirado em uma de suas canções mais icônicas, “Saudosa Maloca”. O programa ficou vários anos no ar, chegou até à televisão e Adoniran fez muito sucesso interpretando o personagem Charutinho.
Em 1964, Adoniran Barbosa atingiu o auge do seu sucesso e se consagrou como um dos maiores compositores da música popular brasileira, quando sua canção “Trem das Onze” foi lançada pelos Demônios da Garoa em um compacto simples. “Trem das Onze” passou a ser um hino da cidade paulistana e é até hoje considerada um dos maiores clássicos da música popular brasileira.
O próprio Adoniran já tinha gravado a canção em 1951, mas ela só atingiu o auge do sucesso quando foi regravada pelo Demônios da Garoa.
Também é de 64 outro grande sucesso de Adoniran gravado pelos Demônios da Garoa: a canção “Prova de Carinho”, parceria com Hervê Cordovil.
Em 1974, Adoniran Barbosa finalmente lançou o seu primeiro LP, que levou o seu nome e conta com composições já consagradas de sua carreira e também músicas inéditas, como “Abrigo de Vagabundos” e “Acende o Candeeiro”.
Depois disso, o artista lançou mais dois LPs, um em 1975 – com canções já emblemáticas de sua carreira e outras como “Vide Verso Meu Endereço”, “No Morro da Casa Verde” e “Samba Italiano “- e outro em 1980, em comemoração aos seu 70 anos de idade, quando gravou junto com Elis Regina a canção “Tiro Ao Álvaro”.
Este disco também tem a participação de Djavan na canção “Aguenta a Mão, João” (parceria de Adoniran com Hervé Cordovil); de Clara Nunes, em “Iracema”; e de Gonzaguinha, na canção “Despejo na Favela”.
Em 1978, Adoniran gravou outro grande clássico de sua carreira, uma homenagem a um dos cartões postais da cidade de São Paulo: o “Viaduto Santa Efigênia”, que havia acabado de ser reformado neste mesmo ano. A canção é uma parceria com Alocin.
Também como ator, Adoniran Barbosa participou de vários filmes como “Caídos do Céu” (1946), “O Cangaceiro” (1953), “Pensão da Dona Stela” (1956) e “Bruma Seca” (1960), e também de novelas como “Quatro Homens Juntos” (1965), “Mulheres de Areia” (1973) e “Xeque-Mate” (1976).
Mas em 23 de novembro de 1982, São Paulo e o Brasil inteiro ficaram órfãos do talento e da genialidade de Adoniran Barbosa: o sambista faleceu vítima de um enfisema pulmonar, aos 72 anos de idade e deixando um legado imensurável para a história da música popular brasileira, principalmente para o samba paulistano.

Em 1984, foram lançados dois álbuns póstumos: um chamado “Documento Inédito”, que – além de canções icônicas – traz depoimentos dados ao MIS – Museu da Imagem e do Som e trechos de participações de Adoniran Barbosa em programas em televisão.
E o outro Saudade de Adoniran, que também – além de canções emblemáticas – traz trechos de entrevistas de Adoniran, dos Demônios da Garoa e do cantor Wilson Miranda.
Em 1990, saiu um LP com o último show gravado ao vivo do artista, no Ópera Cabaret, em São Paulo, no dia 10 de março de 1979, com os seus maiores sucessos.
Adoniran Barbosa deixou cerca de 90 letras inéditas que, graças a Juvenal Fernandes, estudioso da MPB e amigo do artista, foram musicadas por outros grandes compositores brasileiros como Zé Keti, Tom Zé e Paulinho Nogueira.
Em 2017, foi lançado o premiado curta-metragem “Dá Licença de Contar”, de Pedro Serrano e com Paulo Miklos no papel de Adoniran Barbosa. O curta recria o universo existente nas canções do sambista paulistano, calcado em uma estética condizente com tempo e espaço no qual ele estava inserido. Episódios e personagens famosos nas canções de Adoniran são o fio condutor da história, retratando São Paulo nos anos 50.
Depois, em 2020, o mesmo Pedro Serrano dirigiu e produziu o documentário “Adoniran – Meu nome é João Rubinato”, que conta sobre a vida e a obra do sambista.
Adoniran foi casado – desde os anos 40 até a sua morte – com Matilde De Luttis, e antes, teve sua única filha Maria Helena Rubinato, com a primeira esposa. Ele era torcedor fanático do Corinthians e até escreveu uma música para declara o seu amor pelo clube paulistano: “Coríntia (Meu Amor é o Timão)”.
Na cidade que foi cenário de toda a sua obra, São Paulo, Adoniran Barbosa recebeu várias homenagens: tem escola e praça com seu nome, um busto seu na Praça Dom Orione, no centro da cidade, e no bairro do Jaçanã há uma rua chamada Trem das Onze.
