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Importância de Naná Vasconcelos para a MPB; pernambucano faria 80 anos hoje

Lívia Nolla
10:00 02.08.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Importância de Naná Vasconcelos para a MPB; pernambucano faria 80 anos hoje

Ele foi leito oito vezes o melhor percussionista do mundo

Lívia Nolla - 02.08.2024 - 10:00
Importância de Naná Vasconcelos para a MPB; pernambucano faria 80 anos hoje
Um dos maiores percussionistas do mundo, Naná Vasconcelos | Foto: Itamar Crispim

Se não tivesse nos deixado em 2016, aos 71 anos – após uma parada respiratória em decorrência de complicações causadas por um câncer no pulmão – Naná Vasconcelos, estaria completando 80 anos neste 02 de agosto de 2024.

Eleito oito vezes o Melhor Percussionista do Mundo – pela revista americana Down Beat, considerada a “bíblia do jazz” – e ganhador de oito prêmios Grammy (entre latinos e estadunidenses), Naná Vasconcelos é considerado uma autoridade mundial em percussão.

Por isso, hoje – mais do que nunca – nós celebramos a existência desse artista gigante, potência musical do nosso país, trazendo a importância de Naná Vasconcelos para a nossa cultura e para a música popular brasileira.

Nana Vasconcelos na abertura do carnaval do Recife | Foto: Sérgio Bernardo/PCR

A importância de Naná Vasconcelos para a música brasileira

Nascido Juvenal de Holanda Vasconcelos, na Recife de 1944, Naná teve o primeiro contato com instrumentos de percussão aos sete anos de idade, quando foi chamado pelo próprio pai para tocar bongô e maracas em um conjunto da cidade. 

Aprendeu a tocar sozinho ainda na infância, batucando em panelas e penicos e, autodidata, tocava quase todos os instrumentos de percussão, sem jamais ter frequentado nenhuma escola de música. 

Aos 12 anos, já se apresentava com seu pai em uma banda marcial em bares de Recife e participava de grupos de maracatu locais. Aprendeu primeiro a tocar bateria para então tocar berimbau.

Em 1967, Naná Vasconcelos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde gravou dois LPs com Milton Nascimento. No ano seguinte, viajou com Geraldo Azevedo para São Paulo, para participar do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré no III Festival Internacional da Canção.

No início da década de 1970, o percussionista formou o Trio do Bagaço, com Nélson Ângelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luís Eça

Foi nesta mesma época que Gato Barbieri, saxofonista argentino, o convidou para fazer parte do seu grupo, fazendo com que Naná ganhasse projeção internacional, começando uma longa carreira fora do Brasil.

Apresentou-se com Gato Barbieri em Nova York e na Europa, com destaque para o festival de Montreaux, na Suíça, onde o percussionista encantou público e crítica. Ao término da turnê, fixou residência em Paris, na França, durante cinco anos, onde gravou o seu primeiro álbum: Africadeus, em 1971.

No Brasil, Naná gravou o seu segundo disco, Amazonas, em 1972. Começou, então, uma bem-sucedida parceria com o pianista e compositor brasileiro Egberto Gismonti, que durou oito anos e resultou em três álbuns: Dança das Cabeças (1977), Sol do Meio-Dia (1978) e Duas Vozes (1984).

Do Brasil para o mundo

Bagunçando o jazz tradicional, que admitia até aquele momento apenas a percussão afro-cubana, Naná Vasconcelos contribuiu para a divulgação internacional do berimbau. 

De volta a Nova York, formou, entre os anos de 1978 e 1982 – ao lado dos músicos norte-americanos Don Cherry e Collin Walcott – o trio de jazz CoDoNa, com o qual lançou três álbuns de world jazz.

Trabalhando com artistas das mais variadas tendências, Naná Vasconcelos fez turnê com a banda do guitarrista estadunidense Pat Metheny (vencedor de 20 Grammy Awards) gravou com a lenda B.B. King, com o violinista francês Jean-Luc Ponty e com o grupo de rock americano Talking Heads, liderado por David Byrne. 

Em 1979, no disco Saudades, Naná Vasconcelos trouxeum concerto de berimbau e orquestra. Depois, vieram os álbuns Bush Dance (1986) e Rain Dance (1989), suas experiências com instrumentos eletrônicos. 

Em 1986, de volta ao Brasil depois de dez anos, fez turnê recebida com entusiasmo pelo público. Nessa altura, Naná já havia trabalhado em trilhas de filmes de sucesso, como Procura-se Susan Desesperadamente, de Susan Seidelman, estrelado por Rosanna Arquette e Madonna,.

Daí por diante, Naná esteve envolvido mais diretamente com o cenário musical brasileiro ao fazer a direção artística do festival Panorama Percussivo Mundial (Percpan), em Salvador, e do projeto ABC Musical, além de participações especiais em álbuns de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte e Mundo Livre S/A, entre outros. 

Grande valorizador da cultura negra e de todas as influências afro-brasileiras, Naná Vasconcelos é considerado um virtuoso no berimbau. Adepto de métricas pouco usuais no jazz, mas muito tocadas no nordeste brasileiro, chamou a atenção do mundo inteiro com as possibilidades do seu genial e nada convencional berimbau, até então usado apenas na capoeira, e empenhou-se em explorar todas as potencialidades do instrumento.

Naná Vasconcelos | Foto: Divulgação

O artista gravou mais de 20 discos durante sua próspera carreira, sendo o mais recente, intitulado 4 Elementos, em 2013. Também atuou como produtor musical e compôs outras diversas trilhas sonoras para o cinema, como a da animação O Menino e o Mundo, que concorreu ao Oscar em 2016.

O percussionista foi também uma importante liderança em eventos musicais e projetos sociais, como o projeto ABC das Artes Flor do Mangue, trabalho com crianças carentes. 

Mesmo depois de duas décadas tocando pelo mundo – morou em Paris e Nova York – as influências de sua terra estão presentes em tudo o que Naná Vasconcelos fazia. Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, embora tenha se especializado no berimbau, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão.

Nos seus últimos 15 anos de vida, Naná Vasconcelos abriu o Carnaval do Recife, acompanhado pelo cortejo de nações de maracatu. No dia de sua morte, o estado de Pernambuco declarou luto oficial de três dias em memória do artista, que havia se tornado Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) um ano antes.

Uma trajetória de vida que esbanja virtuosismo musical e integridade pessoal em tudo o que fez e tocou. Naná Vasconcelos é brasileiro! E é eterno! Viva, Naná!

“O primeiro instrumento é a voz e o melhor é o corpo” Naná Vasconcelos

por Lívia Nolla

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Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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