10 livros de Graciliano Ramos no dia do seu aniversário
10 livros de Graciliano Ramos no dia do seu aniversário
Graciliano é considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira e o site da Novabrasil preparou uma lista com os 10 livros mais importantes do autor; confira
Hoje, dia 27 de outubro, seria celebrado o aniversário de Graciliano Ramos, um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos.
Para celebrar a data, preparamos uma lista com 10 importantes livros do autor, fazendo um mergulho na obra do alagoano.
Quem foi Graciliano Ramos?
“Os dados biográficos é que não posso arranjar, porque não tenho biografia. Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital, coisas piores e três romances fabricados em situações horríveis – Caetés, publicado em 1933, S. Bernardo, em 1934, e Angústia, em 1936. Evidentemente, isso não dá uma biografia. Que hei de fazer? Eu devia enfeitar-me com algumas mentiras, mas talvez seja melhor deixá-las para romances.”
Este é um trecho de uma carta enviada, em novembro de 1937, por Graciliano Ramos ao tradutor argentino Raúl Navarro, para ser anexado a um conto em vias de publicação em Buenos Aires, chamado Cartas inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos Benjamín de Garay e Raúl Navarro.
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, primeiro de 16 irmãos em 1892. Em 1904, publicou o conto Pequeno Pedinte, no Dilúculo, jornal do Internato Alagoano, de Viçosa (Alagoas), onde estudava.
Nos anos que se seguiram, já em Maceió, redigiu o periódico quinzenal Echo Viçosense e publicou sonetos na revista carioca O Malho, sob alguns pseudônimos como Feliciano de Olivença e Soeiro Lobato.
Em1909, iniciou sua colaboração ao Jornal de Alagoas, onde publicou diversos textos sob vários pseudônimos, entre eles Soares de Almeida Cunha e Lambda, usado para trabalhos em prosa até 1913.
Quando completou 18 anos, passou a morar em Palmeira dos Índios (Alagoas) e deu sua primeira entrevista como escritor ao Jornal de Alagoas. Colaborou no Correio de Maceió, até que em 1914, mudou-se para o Rio de Janeiro para tentar a sorte na imprensa, trabalhando como revisor dos jornais cariocas Correio da Manhã, A Tarde e O Século, e colaborando para o jornal fluminense Paraíba do Sul e para o Jornal de Alagoas, assinando “R.O.” (Ramos de Oliveira). A compilação destes textos compõem sua obra póstuma Linhas Tortas.
Em 1915, o escritor retornou às pressas para Palmeira dos Índios por conta da morte de três irmãos e um sobrinho, vitimados pela epidemia de peste bubônica.
Neste mesmo ano, aos 23 anos de idade, Graciliano se casou com Maria Augusta de Barros, com quem teve quatro filhos. Maria morreu no parto de seu quarto filho, em 1920.
Depois de cinco anos sem publicação, Graciliano Ramos passou a colaborar com o semanário palmeirense O Índio, sob os pseudônimos J. Calisto, Anastácio Anacleto, J.C. e Lambda.
Trajetória Literária
Em 1925, o autor começa a escrever Caetés, seu primeiro romance. Dois anos depois, foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios, cargo que tomou posse em 1928, mesmo ano em que concluiu a escrita de Caetés.
Também no mesmo ano, aos 35 anos de idade, Graciliano se casou com Heloísa Leite de Medeiros, com quem teve mais quatro filhos (um deles morreu com poucos meses de vida).
Em 1929, o autor e então prefeito enviou ao governador de Alagoas o relatório de prestação de contas do município. O relatório, pela sua qualidade literária, chega às mãos de Augusto Frederico Schmidt, editor, que procura Graciliano Ramos para saber se ele tem outros escritos que possam ser publicados.
Em 1930, ele renuncia ao mandato de prefeito, muda-se para Maceió com a família, e é nomeado diretor da Imprensa Oficial de Alagoas, cargo que exerce até 1932.
Neste mesmo ano, começa a escrever – na sacristia da Igreja Matriz de Palmeira dos Índios – os primeiros capítulos de São Bernardo, romance concluído nesse mesmo ano.
Em 1933, o autor foi nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas, cargo equivalente a Secretário Estadual da Educação e contratado como redator do Jornal de Alagoas, onde publica vários trabalhos, entre eles Comandante dos Burros, Doutores e Mulheres, não publicados em livro.
Em 1933, publicou também o seu primeiro romance, Caetés, e, em 1934, São Bernardo, seu segundo livro.
O escritor era tão meticuloso, que chegava a comparecer à gráfica no momento em que o livro entrava no prelo, para checar se a revisão não havia interferido em seu texto.
Graciliano Ramos foi preso em Maceió após a Intentona Comunista de 1935 e levado para o Rio de Janeiro, onde ficou detido por 11 meses.
Em 1936, publicou Angústia, seu terceiro livro, que recebeu o Prêmio Lima Barreto, instituído pela Revista Acadêmica.
Em 1938, Graciliano Ramos publicou Vidas Secas, seu quarto e mais famoso romance.
No ano seguinte, foi nomeado Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro e publicou o livro infantil A Terra dos Meninos Pelados, que recebeu o Prêmio de Literatura Infantil do Ministério da Educação.
Em 1940, o escritor traduziu o livro Memórias de Um Negro, de Booker T. Washington, e publicou uma série de crônicas intituladas Quadros e Costumes do Nordeste, na Revista Cultura Política, material que viria a ser publicado sob o título Viventes das Alagoas.
Mais livros e últimos dias de Graciliano Ramos
Em 1942, aos 50 anos, Ramos recebeu o Prêmio Felipe de Oliveira, pelo conjunto de sua obra, e publicou o romance Brandão Entre o Mar e o Amor, escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz.
Em 1944, foi a vez do livro infanto-juvenil Histórias de Alexandre e no ano seguinte, do livro de memórias Infância e do livro de contos Dois Dedos.
No mesmo ano, o autor filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, a convite de Luís Carlos Prestes, então Secretário Geral do partido.
Em 1946, publicou Histórias Incompletas, reunindo os contos Dois Dedos e Luciana, três capítulos de Vidas Secas e quatro de Infância.
No ano seguinte, publicou o livro de contos Insônia, seu sexto livro, e traduziu A Peste, romance de Albert Camus.
Em 1951, tornou-se Presidente da Associação Brasileira de Escritores e publicou Sete Histórias Verdadeiras, extraídas de Histórias de Alexandre.
No ano seguinte, 1952, Graciliano Ramos viajou pela União Soviética, Tchecoslováquia, França e Portugal. Foi operado, sem sucesso, por conta de um tumor no pulmão, que o levou a falecer meses depois, em março de 1953, aos 60 anos.
Depois de sua morte, sua esposa Heloísa Ramos publicou Memórias do Cárcere (1953), Viagem (crônicas, 1964), Linhas Tortas (crônicas, 1962), Viventes das Alagoas (1962) e Alexandre e outros Heróis (literatura infanto-juvenil, 1962), e Cartas (compilação da correspondência pessoal de Graciliano, 1982).
Ainda em 1962, Vidas Secas recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner, nos EUA, como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea.
Em 2012, o jornalista Thiago Mio Salla organizou e lançou Garranchos, livro de textos inéditos de Graciliano Ramos.
10 livros de Graciliano Ramos
1 – Caetés (1933)
João Valério, o personagem principal, introvertido e fantasioso, apaixona-se por Luísa, mulher de Adrião, dono da firma comercial em que trabalha. O caso amoroso é denunciado por uma carta anônima, levando o marido traído ao suicídio. Arrependido, João Valério, afasta-se de Luísa, continuando, porém, como sócio da firma.
2 – S. Bernardo (1934)
A história de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, acaba se transformando em um grande fazendeiro do sertão de Alagoas e casa-se com Madalena para conseguir um herdeiro. Incapaz de entender a forma humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem para a amizade, nem para o amor.
3 – Angústia (1936)
Ao longo das páginas do livro, o leitor depara-se com o narrador Luís da Silva, funcionário público e jornalista medíocre, que nutre ódio profundo pelo sistema que o inferioriza e oprime, aqui representado por Julião Tavares, moço rico, gordo, bem vestido e excessivamente falante, que, com seus agrados hipócritas, afasta Marina do amor do protagonista.
A angústia tecida desde as primeiras páginas anuncia a fatalidade inevitável e alimenta o envolvimento do leitor com a narrativa pontuada pelos horrores do ódio do narrador.
4 – Vidas Secas (1938)
Romance em que Graciliano alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa. O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada à procura de meios de sobrevivência e um futuro.
5 – Infância (1945)
Autobiografia de Graciliano Ramos que prova ser possível uma obra somar os elementos pessoais com os sociais. Muito do que o autor confessa em suas memórias são problemas que afetaram não só a ele mesmo, mas também o seu meio. Sua dor é também a dor de nosso mundo.
Além disso, esse livro lida com elementos que nos fazem entender como base de todo o universo literário do autor. Nele vemos temáticas que vão povoar suas obras-primas: São Bernardo, Vidas secas e Angústia. O primeiro aspecto que chama a atenção é a descrição de Graciliano como uma criança oprimida e humilhada, pois é um ser fraco diante de adultos, mais fortes. Este é um dos cernes de sua visão de mundo: a opressão. Quem tem poder, naturalmente massacra, sufoca.
6 – Insônia (1947)
Esta obra reúne treze contos, que trazem temas muito caros a Graciliano, como morte, envelhecimento e injustiça social.
Insônia mostra como o ser humano reage a situações diversas, revelando suas fragilidades e angústias. As histórias desta obra estão repletas de inquietudes existenciais que oferecem ao leitor a possibilidade de confrontar a própria realidade, acompanhado sempre do estilo que consagrou Graciliano Ramos como um dos maiores autores brasileiros, e que já é conhecido dos leitores: a economia vocabular, a secura emotiva e a precisão psicológica.
7 – Memórias do Cárcere (1953)
Testemunho de Graciliano Ramos sobre a prisão a que foi submetido durante o Estado Novo, uma narrativa contundente de quem foi torturado, viveu em porões imundos e sofreu privações provocadas por um regime ditatorial.
8 – Viagem (1954)
Livro de contos que reafirma o compromisso de Graciliano com a justiça social, sem negociar sua liberdade literária. Um relato imprescindível de uma época de fortes paixões políticas e ideológicas, feito por um dos maiores escritores da Literatura Brasileira.
9 – Linhas Tortas (1962)
“Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
10 – Viventes das Alagoas (1962)
Reunião de textos que misturam crônica, ensaio e ficção. Os textos híbridos que compõem este livro fazem parte das colaborações de Graciliano para a imprensa a partir de 1937. O livro traz ainda, em suas páginas finais, os relatórios redigidos por Graciliano quando prefeito de Palmeira dos Índios – AL. A linguagem burocrática e formal, característica desses documentos, é substituída por notas irônicas e sarcásticas, além de rasgos literários que simbolizam o ingresso de Graciliano na literatura.
por Lívia Nolla