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Vitória de Trump: Entenda os impactos econômicos para o Brasil

Economia que importa com Marcela Kawauti
16:35 07.11.2024
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Economia que importa com Marcela Kawauti

Economista
Jornalismo

Vitória de Trump: Entenda os impactos econômicos para o Brasil

Aumento do dólar, tensão no comércio com a China e a política externa estão entre os principais desafios com Donald Trump no poder

Novabrasil - 07.11.2024 - 16:35
Vitória de Trump: Entenda os impactos econômicos para o Brasil
Reprodução

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos acendeu alertas na economia global e teve repercussões imediatas nos mercados. Para o Brasil, as políticas prometidas por Trump podem impactar significativamente o comércio, o câmbio e o cenário de investimentos. Em uma análise aprofundada, a economista Marcela Kawauti abordou os principais efeitos econômicos que o novo governo americano pode trazer para o Brasil.

Aumento do dólar

A primeira preocupação destacada por Kawauti é a valorização do dólar em relação a moedas emergentes, como o real brasileiro. Na última quarta-feira, após a vitória de Trump, o dólar apresentou uma tendência de alta. Kawauti explica que isso ocorre porque Trump, em seu retorno ao poder, traz uma série de propostas que podem elevar a inflação nos EUA, o que, por sua vez, pode levar o banco central americano a aumentar os juros como medida de contenção inflacionária.

“A tendência de alta do dólar em relação às moedas emergentes como o real já pôde ser vista imediatamente após o anúncio dos resultados”, aponta Kawauti. Além disso, como explica a economista, o Banco Central Americano (Federal Reserve) poderá precisar elevar os juros para controlar a inflação, e isso incentiva os investidores a preferirem aplicar capital nos EUA ao invés de mercados emergentes.

Tarifas e inflação

Entre as medidas mais polêmicas anunciadas por Trump está a proposta de aumentar as tarifas de importação sobre produtos chineses em até 60%, como forma de proteger a indústria americana. Kawauti destaca que essa política gera uma pressão inflacionária significativa, pois produtos vindos da China, que abastecem diversos setores industriais e de consumo nos EUA, se tornarão mais caros. “Com as tarifas elevadas, a indústria americana terá mais custos de importação, o que pressiona os preços para cima, e a inflação nos EUA poderá acelerar”, afirma.

Para o Brasil, essa política pode ter impactos indiretos. Se a economia chinesa desacelera devido às restrições comerciais, países exportadores de commodities, como o Brasil, podem ver uma diminuição na demanda por produtos como soja, ferro e carne. Isso enfraquece o mercado exportador brasileiro e, consequentemente, o real.

Imigração e mercado de trabalho

Outro ponto de atenção nas propostas de Trump é a promessa de deportar milhões de imigrantes em situação irregular nos EUA. Essa medida, além de gerar uma crise humanitária, afetaria diretamente o mercado de trabalho americano, já que os imigrantes representam uma parcela significativa da força de trabalho nos setores de serviços, construção civil e agricultura.

Marcela Kawauti explica que, caso essas deportações sejam concretizadas, pode haver um desequilíbrio no mercado de trabalho, aumentando a pressão por salários mais altos para preencher as vagas que ficaram desocupadas. Esse aumento salarial, embora positivo para os trabalhadores americanos, também pressionará a inflação. Com isso, o Federal Reserve pode ser forçado a manter uma política de juros altos, tornando os investimentos nos EUA mais atraentes do que em países emergentes, como o Brasil.

Risco fiscal interno e investimentos estrangeiros

Kawauti também destaca que o aumento da taxa de juros nos EUA pode afastar investimentos estrangeiros do Brasil, especialmente devido ao atual cenário de risco fiscal do país. Com a expectativa de juros altos nos EUA, investidores tendem a buscar segurança no mercado americano. Isso significa uma menor entrada de capital estrangeiro no Brasil, o que impacta a cotação do dólar, pressionando ainda mais a moeda brasileira.

A situação fiscal do Brasil, marcada por um elevado endividamento público, preocupa o mercado financeiro, o que pode intensificar a fuga de investidores em direção ao mercado americano. “A combinação entre juros altos nos EUA e o risco fiscal no Brasil torna o real ainda mais fraco”, completa a economista.

Comércio Brasil-China

A economia chinesa, que é um dos principais destinos das exportações brasileiras, também poderá ser impactada caso as tarifas comerciais impostas pelos EUA sejam elevadas. “A desaceleração chinesa poderia afetar diretamente as exportações brasileiras de commodities, pois a China é nosso maior parceiro comercial”, aponta Kawauti. Com uma menor demanda por produtos como soja, ferro e carnes, a economia brasileira sofreria o impacto da redução nas receitas de exportação, o que poderia agravar o déficit comercial e aumentar ainda mais o preço do dólar no Brasil.

A política externa brasileira

A eleição de Trump também apresenta desafios para a diplomacia brasileira. A relação de Lula com Trump poderá ser de pragmatismo, buscando manter acordos comerciais e cooperação econômica. No entanto, a diferença ideológica entre os governos levanta dúvidas sobre a condução de políticas bilaterais. Temas como o meio ambiente e o comércio exterior poderão ser pontos de atrito, especialmente se Trump insistir em uma agenda menos colaborativa nas questões ambientais e multilaterais.

Expectativas e desafios para o Brasil

A vitória de Trump coloca o Brasil em um cenário econômico delicado, com os mercados reagindo à expectativa de políticas protecionistas e inflacionárias. O dólar mais forte pressiona a inflação brasileira, encarece importações e torna o controle fiscal um desafio ainda maior para o governo brasileiro.

Conclusão

Os impactos da vitória de Donald Trump vão além da política interna americana, afetando diretamente economias emergentes, como a brasileira. O cenário exige medidas robustas de controle fiscal e câmbio, além de uma abordagem diplomática pragmática, que evite conflitos comerciais e proteja os interesses brasileiros no mercado global.

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Economia que importa com Marcela Kawauti

Economista formada pela USP com mestrado em Economia e Finanças pela FGV-SP. Quase 20 anos de experiência em pesquisa econômica, educação financeira e riscos. Atua no momento como economista-chefe da Lifetime Asset Management.

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