Mansur: “Friend: Mais um exemplo da busca por conveniência e gratificação imediata”; entenda

Imagina só. Você está no meio de uma tarde chata, sem ninguém para conversar, e aí, pá! Você lembra que tem um “amigo” disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, sempre pronto para ouvir suas histórias e dar conselhos.

Mas tem um detalhe… Esse “amigo” não é de carne e osso. Ele se chama Friend, e é uma IA vestível que promete ser o melhor companheiro digital que você já teve. Parece loucura? Bem-vindo ao futuro das interações sociais!

O Friend é mais do que apenas um assistente de voz. Ele é um dispositivo que você usa como um colar, um orbe que escuta, responde e até te consola. O Friend foi pensado para ser um verdadeiro confidente, alguém que não te julga e que está sempre ali para você.

A grande questão é: como isso vai mexer com as nossas relações reais? Estamos falando de um gadget que não cansa, não tem dias ruins e que pode, de certa forma, substituir aquela ligação para o seu melhor amigo ou uma conversa cara a cara com alguém especial.

Aí que mora o perigo. Especialistas já estão alertando que essa interação constante com IA pode confundir nossas emoções, fazendo a gente acreditar que estamos lidando com alguém que realmente se importa, quando, na verdade, estamos falando com linhas de código altamente sofisticadas.

Estamos nos aproximando de um dilema: será que vamos acabar preferindo essas interações perfeitas com IAs a lidar com as complexidades dos relacionamentos humanos?

Afinal, quem nunca teve que lidar com mal-entendidos ou discussões numa amizade? Com o Friend, essas questões deixam de existir. É tudo paz e amor, mas será que isso é saudável?

Essa busca por evitar dificuldades não é exclusiva do campo da IA; é uma tendência generalizada em nossa sociedade. Vivemos numa era de conveniência e gratificação imediata, onde evitamos explorar caminhos difíceis, mesmo que eles possam nos proporcionar grandes experiências no final.

Correndo o risco de provocar os “haters”, será que a expansão de esportes socialmente fáceis de jogar, como o beach tennis e o pickleball, não faz parte dessa mesma tendência? E o que dizer dos aplicativos de meditação, que prometem os benefícios da prática com pouco esforço?

A tendência se estende até à alimentação, com a popularidade dos serviços de delivery e das refeições prontas. São soluções rápidas que eliminam o trabalho de cozinhar, mas muitas vezes à custa de uma alimentação mais saudável e consciente.
Essa lista poderia ir longe, mas vou parar nos aplicativos de namoro, que se tornaram populares porque simplificam o processo de encontrar um parceiro.

Em vez de investir tempo em conhecer alguém pessoalmente, as pessoas podem deslizar para a direita e começar a conversar imediatamente.

Tudo rápido, fácil e sem esforço… e uma sociedade com pessoas cada vez mais solitárias, ansiosas, deprimidas e insatisfeitas.

Como já dizia minha mãe: se for fácil, qualquer um faz. Talvez o caminho mais difícil e menos percorrido seja o que guarda as maiores belezas.