
Série da Novabrasil traz retrato da desigualdade de gênero na política
Série da Novabrasil traz retrato da desigualdade de gênero na política
As mulheres formam 52% da população brasileira, mas, na política, são bem menos da metade


As mulheres formam 52% da população brasileira, mas, na política, são bem menos da metade. No ranking da União Interparlamentar da ONU, o Brasil está em 133 em uma lista de 190 países. Na América Latina, por exemplo, apenas Haiti e Belize ocupam uma posição inferior à do Brasil.
Nas eleições estaduais de 2022 e nas eleições municipais de 2024, 12.684 mulheres foram eleitas, contando com vices e suplentes. Isso representa apenas 17,9% do total de eleitos nesses pleitos.
Não existe eleição no Brasil sem um partido. Ou seja, o papel das legendas é essencial e é justamente onde muitas mulheres tem a maior dificuldade de apoio.
A paulistana Sandra Ramalhoso é uma Pessoa Com Deficiência e tentou entrar na política para tirar as ideias do papel e aplicá-las como avanços na sociedade, especialmente aos PCDs. A ideia era se tornar vereadora, mas o caminho foi difícil e sem sucesso: “As dificuldades começaram dentro do partido. Nós também tínhamos problemas com o financiamento. E eu, como mulher, não tive a divisão correta do dinheiro que veio pro financiamento das candidaturas. Na hora que você vai exigir o dinheiro, eles ficam questionando: Será que você vai conseguir? Por ser mulher, fica muito difícil que a nossa voz seja escutada. De onde ela tirou essa ideia? Fiquei muito frustrada, não quero tentar mais“, relatou.
Segundo a cientista política e autora no livro candidatas, Débora Thomé, a lógica da política brasileira torna mais fácil se manter no poder quem já ocupa uma cadeira. E se a maioria dos cargos políticos é ocupada por homens: “Isso significa que esse grupo vai ser também quem tem maiores chances de se perpetuar no poder. Como é hoje. A gente tem 83% da câmara federal composta por homens. E 17% de mulheres. O que significa Então essas mulheres teriam que tirar esses homens de lá“, explicou a cientista política.
Por lei, as legendas devem reservar 30% das vagas para mulheres nas câmaras e assembleias, como explica a advogada Ana Claudia Santano, coordenadora-geral da Transparência Eleitoral Brasil.
Até 1932, as mulheres não podiam sequer votar. E o curioso é que elas já podiam se eleger. A primeira mulher na política foi a Alzira Soriano, eleita prefeita por Lajes, no Rio Grande do Norte, em 1929. Mulheres que abrem caminho para outras:
“Faz diferença para a compreensão do espaço das mulheres na política“, cometou Marina Bragante, vereadora de São Paulo.
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No caso da vereadora paulistana Marina Bragante, se filiar a um partido composto em sua maior parte por mulheres foi determinante para conseguir o cargo na primeira tentativa: “Foi fundamental para mim o recurso que a rede investiu na minha candidatura. Fez muita diferença na minha vida. Não estar sozinha é muito importante. Às vezes a gente releva achando que não é nada, mas é sim. É um pouco da lente do machismo, a lente do que é ser mulher na política“, relatou.
Marina Bragante também é mãe de trigêmeos: “A verdade é que não necessariamente dou conta né, alguns pratinhos caem8”. E eu tenho certeza que quando vocês forem maiores vocês vão ter muito orgulho da mamãe. Uma das minhas filhas respondeu: Mamãe, eu já tenho orgulho, mas eu tenho saudades e sinto a sua falta“, comentou a vereadora.
O Brasil tem hoje 29 partidos políticos. Enquanto alguns ainda dificultam a entrada das mulheres na política, outros nasceram justamente com o objetivo de incluir mais lideranças femininas. O Partido da Mulher Brasileira foi criado em 2008 pela maranhense Sued Haidar: “As jornalistas e os jornalistas ligavam para mim: “para que mais um partido, ainda mais partido da mulher. O que eles mais perguntavam para mim, como até hoje perguntam, quem é o teu patrocinador? O patrocinador é a vontade da luta, da garra, quem patrocina é a necessidade, a necessidade da mulher com assento no poder, isso é que é a nossa grande demanda“, relatou Sued.
Os “pratinhos” continuam sendo equilibrados. E, quase 40 anos depois da democratização, elas ainda buscam uma forma de ocupar mais espaços na política.