
Retirar conchas das praias é uma prática que afeta todo o ecossistema dos oceanos
Retirar conchas das praias é uma prática que afeta todo o ecossistema dos oceanos
Objeto serve como abrigo e fonte de cálcio para que novas conchas possam ser produzidas naturalmente

Que atire a primeira pedra quem nunca foi à praia e voltou com uma conchinha na mala. Embora essa prática pareça inofensiva, na verdade os danos ambientais podem ser imensos, num grande efeito borboleta.
Em alguns países, retirar conchas de seu habitat é considerado crime passível de multa e, embora no Brasil não seja um crime, existe uma recomendação para que as pessoas mantenham as conchas nas areias. Mesmo assim, vale reforçar que, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais 9605/1998, é proibido comercializar peças de artesanato com corais no nosso país.
Para ajudar na conscientização das pessoas, que recolhem as conchas sem nem ao menos saberem ser um crime, Heródoto Barbeiro convidou o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo e Coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, Alexander Turra, para um bate-papo no Jornal Novabrasil.
Na conversa, o professor começa esclarecendo que retirar a concha cria uma relação de proximidade e empatia pelo assunto meio ambiente, o que é benéfico para a construção de uma criança. Mas, na prática, são retirados do ambiente recursos importantes. “Para alguns animais marinhos, como os caranguejos hermitões, as conchas e caramujos servem como casas. Então se a gente tira elas da natureza vão faltar conchas para eles, que só crescem quando encontram uma concha maior”, explica Alexander Turra.
O especialista explica que até mesmo as conchas pequenas possuem serventia no mundo animal, pois alguns caramujos minúsculos depositam nelas suas cápsulas com seus ovos, “e isso é muito importante, pois sem elas o animal não se reproduz”, esclarece.
Além dessas funções, a concha é rica em carbonato de cálcio, elemento bastante utilizado por diversos organismos marinhos, inclusive para que moluscos, tais como mexilhões, ostras e caramujos, consigam construir suas novas conchas. “Então, quando a gente retira as conchinhas, a gente acaba retirando uma fonte importante desse elemento para essa biodiversidade”, completa o professor.
Utilização de recursos pesqueiros
Os organismos são divididos em dois grandes grupos, a fauna e os recursos pesqueiros. O segundo, formado por crustáceos, moluscos e peixes, de uma forma geral. No Brasil, para se coletar um recurso pesqueiro é necessária uma autorização de pesca, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama.
É comum que comunidades ribeirinhas e litorâneas se alimentem desses recursos, mas comercializar artesanato com o material que sobre do alimento, como as conchas, sem autorização, é classificado como crime ambiental.
“Nós sabemos que essa é uma atividade cultural e econômica muito importante, mas é preciso que seja regularizada, com autorização de pesca. Assim como os pesquisadores, que coletam os animais na natureza para fazer pesquisas que, neste caso, são classificados com fauna. É importante que as pessoas entendam essas questões, pois assim evitam que sejam surpreendidas com uma multa, por exemplo”, explica o professor Alexander Turra.
Mercado de Zooartesanato
No caso das comunidades que vivem de artesanato com conchas ou outras estruturas duras dos organismos marinhos, o ideal é que a prática seja o mais sustentável possível. Em vez de retirar a vida do animal, buscar as conchas que estão espalhadas pela areia é mais sustentável. Mas, por outro lado, “quando intensificada, a prática pode levar a uma escassez. Por isso, a gente pensa em algumas saídas, e uma delas é o cultivo de organismos marinhos para essa finalidade. Isso tem que se desenvolver no Brasil”.
“Outra alternativa é a impressão 3D das conchas, com resinas e plásticos, para a confecção das bijuterias. Essas alternativas acabam ajudando a sociedade a se aproximar do oceano, se conectar com ele, algo que precisa acontecer para que as pessoas entendam sua importância e ajudem na sua preservação”, reforça o oceanógrafo Alexander Turra.