
Possibilidade de um “Talibã sírio” preocupa analistas
Possibilidade de um “Talibã sírio” preocupa analistas
Analistas avaliam que o mundo poderá ter novos donos de poder em 2025

A Novabrasil abordou a situação da Síria no jornalismo desta segunda-feira, em conversas com especialistas mediadas por Michelle Trombelli, Roberto Nonato e Heródoto Barbeiro.
Durante a Jornal Novabrasil, Andrew Traumann, doutor em História e professor de Relações Internacionais da Unicuritiba, levantou um ponto preocupante sobre o futuro da Síria: o risco de surgimento de um grupo extremista semelhante ao Talibã no país.
Traumann explicou que a fragmentação interna e o vácuo de poder criados pela guerra civil, combinados com a retirada gradual de tropas estrangeiras, favorecem a ascensão de grupos radicais.
“A Síria já é palco de diversas facções que disputam poder, muitas com ideologias extremistas. Um cenário semelhante ao que vimos no Afeganistão não pode ser descartado”, destacou o professor.
Ele alertou que a comunidade internacional deve observar de perto essas movimentações para evitar um agravamento ainda maior do conflito.
Síria é laboratório de mudança geopolítica
A Síria virou o primeiro laboratório da grande mudança geopolítica do mundo. A avaliação é do professor de Relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, que participou durante o Jornal Nova Manhã.
Ele ressalta que essa mudança será acentuada com a chegada de Donald Trump ao poder, em 20 de janeiro. Para Trevisan, é necessário “olhar como ficam os novos donos do poder no mundo”. Para ele, “houve um enfraquecimento dos patrocinadores de Bashar Al Assad”.
A ação do grupo HTS, Hayat Tahrir Al Sham, se deu após o envolvimento russo com a guerra da Ucrânia, com um desgaste de suas tropas, e o enfrentamento do grupo Hezbollah contra Israel. Os libaneses têm apoio do Irã. Tanto russos como iranianos são parceiros do regime deposto de Bashar Al Assad e estão com atenções para essas outras questões.
A família Assad estava no poder há mais de 50 anos na Síria. O professor Trevisan ressalta a surpresa com a queda do regime em menos de 15 dias. Mas, lembra também que “quem ocupou a Síria não está sozinho. Há diferentes visões de mundo relacionadas e os americanos também estão bastante envolvidos nesse processo”.
Para o especialista, Donald Trump já deu um recado na questão Rússia e Ucrânia, sinalizando que é necessário uma solução diante da fraqueza ucraniana. Leonardo Trevisan lembra que a Rússia, apesar da ação da Organização para Libertação do Levante (HTS), não deverá sair da Siria. “A Rússia tem uma base aérea na Síria, um porto e bases do exército na área, está bem consolidada. O melhor exemplo de que a Rússia pretende manter atenções na Síria é a rapidez com que acolheu Bashar Al Assad”, diz Trevisan.
A Síria vive um conflito interno desde 2011 quando houve a chamada “Primavera Árabe”, movimento que se espalhou por alguns países contra a ação de alguns ditadores. O regime de Bashar Assad reprimiu com mão de ferro os protestos. Desde então, houve uma retomada de controle, mas muitos grupos contrários ao governo continuavam se articulando.
Um desses grupos é o HTS liderado por Muhammad Al Jolani e que já foi aliado da rede Al Qaeda, de Osama Bin Laden. O SNA, Exército Nacional Sírio, uma coalização de forças apoiada pela Turquia, é outro grupo importante nesse cenário.
O HTS lançou a ofensiva contra Aleppo na semana passada e, após capturar essa cidade, iniciou a ação contra Hama e, finalmente, Damasco. A partir daí, o ditador Bashar Al Assad fugiu para Moscou em busca de asilo humanitário, prontamente recebido por Vladimir Putin.
A pergunta de milhões, ou bilhões, é sobre o futuro da Síria e da região. Em outras Nações, que tiveram ditadores destituídos, a instabilidade foi a marca registrada após as quedas de seus mandatários.
Rússia e Irã enfrentam desafios em meio à crise síria
Andrew Traumann também analisou como a atual situação na Síria impacta aliados históricos do regime de Bashar al-Assad, como Rússia e Irã.
De acordo com o professor, ambos os países têm investido pesadamente no apoio ao governo sírio ao longo dos anos, mas os resultados são cada vez menos favoráveis.
“O Irã está cada vez mais isolado economicamente, enquanto a Rússia enfrenta dificuldades com sua própria economia e sanções internacionais. A Síria, que deveria ser uma aliada estratégica, tornou-se um fardo para esses países”, afirmou Traumann.
Ele acrescentou que o prolongamento do conflito ameaça corroer ainda mais os recursos e a influência de Moscou e Teerã na região.
Matéria atualizada pela equipe de Jornalismo, às 13h32.