“Regime democrático é futuro incerto na Síria”, afirma ex-ministro Rubens Ricupero

A recente queda do regime de Bashar al-Assad trouxe instabilidade à Síria e levantou questionamentos sobre o futuro do país.

Em entrevista ao Jornal Novabrasil, apresentado por Heródoto Barbeiro, o diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero compartilhou sua visão sobre os desafios enfrentados pela nação.

Segundo Ricupero, é cedo para prever o que virá. “Ninguém sabe, nem os próprios sírios. O movimento que tomou o poder é formado por mais de 20 grupos com orientações diversas, o que complica a formação de um governo estável”, destacou.

Desafios regionais e geopolíticos

Os reflexos do novo cenário sírio já preocupam potências globais. Ricupero chamou atenção para a atuação de Israel, que realizou quase 500 ataques preventivos contra instalações militares na Síria.

Segundo ele, essas ações podem gerar “uma radicalização” entre os grupos atingidos, criando mais tensões na região.

Os Estados Unidos e países europeus mantêm uma postura de cautela, enquanto a Rússia, tradicional aliada do regime anterior, também adota uma posição de espera.

“A Rússia está muito comprometida com a guerra na Ucrânia e não consegue desviar forças para a Síria”, explicou o diplomata.

Futuro incerto para a democracia

As perspectivas de uma transição democrática na Síria são pessimistas, de acordo com Ricupero. Ele lembrou as frustrações da Primavera Árabe.

“Há 10 anos, acreditava-se que os regimes poderiam evoluir para democracias, mas quase todos retrocederam”, afirmou.

O diplomata enfatizou que a democracia requer tempo e estrutura para se consolidar.

“Mesmo aqui no Brasil, com mais de 200 anos de história, enfrentamos desafios recentemente. Imagine eles”, disse.

Para ele, o cenário mais realista seria um governo tolerante, que respeitasse as minorias e priorizasse o desenvolvimento.

A instabilidade na Síria continuará repercutindo no Oriente Médio e além, segundo Ricupero.

Para o diplomata, a incerteza no país reflete as complexidades de uma região marcada por conflitos históricos e interesses globais.