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O feto mais famoso da internet e a espetacularização da vida alheia
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Mulher 4.0
Aline Dini e Michelle Trombelli
O feto mais famoso da internet e a espetacularização da vida alheia
Até que ponto, a imagem do feto expelido por Maíra Cardi e compartilhada por seu marido, Thiago Nigro, agride ou acolhe quem passa por uma perda?
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Se você esteve nas redes sociais nos últimos dias, é muito provável que se deparou com a notícia ou, quem sabe, com a imagem de um feto expelido num aborto espontâneo.
E o que poderia ser mais uma imagem, encontrada em banco de imagens, em campanhas antiaborto ou simplesmente dando um Google, se tornou um dos assuntos mais comentados na internet.
Não bastasse o vídeo do feto ter sido exposto por Thiago Nigro, o Primo Rico, marido da influenciadora Maíra Cardi, que expeliu o feto, a mídia também o expôs.
Muitos criticaram a atitude, mas também acolheram. E em época de espetacularização da vida alheia, tudo ganha proporções astronômicas.
Li diversos pontos de vista e em todos eles encontrei um pouco de razão – afinal, cada um fala de acordo com o repertório e cenário de que tem contato.
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Exposição desproporcional
Particularmente, acho um absurdo essa exposição e toda a proporção que este e outros acontecimentos ganham na era digital.
Sou jornalista e aprendi na faculdade a diferenciar notícia de fofoca, divagação sem propósito.
Notícia é quando o homem morde o cachorro e não o contrário. Mas já há muitos anos que acontecimentos do cotidiano de pessoas que não conhecemos e não exercem qualquer influência sobre a nossa vida, a economia ou a sociedade, ganham destaque.
E já não sabemos diferenciar o que vale a pena a nossa atenção. Tudo está a um clique, um deslizar de dedos na tela. Estamos doentes ao clamar por tantos holofotes, necessitar de pertencimento e engajamento a qualquer custo.
Particularmente, busco seguir o caminho do meio, porque acredito que os extremos são doentios. E o pior é que eles são amplificados quando deveriam simplesmente ser silenciados.
Mas não, não estou falando de silenciar a dor de um luto. A dor de uma família que desejava que esse feto continuasse se desenvolvendo até o dia em que teriam um bebê lindo e saudável nos braços.
Precisamos falar sobre o luto. Falar pode ser curativo. Mas a imagem de um feto expelido não deixa de ser conteúdo muito sensível, porque pode “bater” de forma muito dolorosa em diferentes pessoas, com diferentes vivências.
Por outro lado, como disse Daniela Bittar, especialista em ciclo gravídico puerperal e estudiosa do luto materno, se fosse seu filho, você acharia essa imagem mórbida?
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Silenciamento das mulheres
O silenciamento após a perda de um filho adoece as famílias, especialmente as mulheres.
Daniela explica que no primeiro trimestre temos muita exposição dessa mulher ao estresse pós-traumático. Isso se dá pelo silêncio e a necessidade que impomos de que essa mulher continue a tocar a vida como se nada tivesse acontecido.
As reações ao luto são diversas e não cabe aqui julgá-las, mas sim refletir sobre os extremos. Talvez esse homem publicou o vídeo sem pensar, no automático, na espontaneidade de dividir aquele momento e, quem sabe, amenizar a dor.
Mas talvez fez para gerar esse efeito tão cobiçado por audiência, likes. Falem bem ou mal, falem de mim.
Lendo algumas pesquisadoras e pessoas que colocam meu cérebro para funcionar, achei melhor não guardar só para mim algumas reflexões. A atitude deste homem ou deste casal fala muito mais sobre nós, enquanto sociedade.
Para a antropóloga, professora e pesquisadora Débora Diniz até a dor precisa ser espetacularizada: “Até as entranhas de uma mulher em dor precisam ser exibidas como mercadoria de trânsito nas redes sociais. Pois é nesse processo que parece ser possível cuidar da melancolia ou do luto vivido.
Esses dois podem ser parte de um grupo muito maior que busca a multidão para sofrer junto, que implora uma legião de anônimos para validar suas vivências mais íntimas. E assim, acabamos por saber mais da vida alheia do que o necessário para viver a nossa própria vida.”
Dor abafada
A médica e cientista Melania Amorim, contrapôs o post da antropóloga no Instagram comentando que já passou por duas perdas gestacionais em silêncio absoluto e que esse silêncio foi cruel.
Abafar uma dor, como se não houvesse espaço no mundo para o luto das mães que perdem seus bebês, por todas que sofrem em silêncio, por todas que choram sozinhas, que foram arrancadas desse amor tão breve e tão profundo.
Ao invés disso, estender o seu olhar carinhoso, a sua solidariedade, contar as histórias, com ou sem permissão.
“Para algumas pessoas, a imagem do feto expelido por Maíra Cardi e compartilhado nas redes sociais por seu marido, Thiago Nigro, foi algo mórbido. Para outras, que também passaram por perdas gestacionais, foi um acalento saber que existem outras famílias na mesma situação. Silenciar essa dor que já é invisível, é muito ruim. Mas precisa mesmo elevar ao máximo o grau de exposição? Na era da espetacularização da vida alheia, talvez essa seja a forma que pareça ser possível cuidar da melancolia ou do luto vivido“
A conclusão que eu tiro desse caso e toda repercussão que ele teve, é que devemos cada vez mais ter o cuidado de olhar para dentro de nós e das nossas casas. Temos que olhar mais nos olhos de quem amamos e menos para as telas, para a vida alheia, para o espetáculo.
Caso o conteúdo que você acompanha causa sofrimento ou até gatilhos, deixe de acompanhar. Se não, continue, mas com consciência para não se perder numa história que não é sua e acabar por sequer saber quem você é.
Se você está passando por uma perda gestacional, quero deixar o convite para que acompanhe o meu conteúdo sobre o assunto. Através dele, converso com especialistas e histórias de mulheres que resinificaram essa dor. Clique aqui
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