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Morre Evandro Teixeira, lenda do fotojornalismo brasileiro
Morre Evandro Teixeira, lenda do fotojornalismo brasileiro
Além dos registros de conflitos, Teixeira também fotografou figuras marcantes da cultura brasileira, como Tom Jobim, Leila Diniz, Vinicius de Moraes e Cartola
Luto na fotografia. Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro, morreu nesta segunda-feira (4), aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
Teixeira, que enfrentava uma leucemia crônica há dez anos, morreu devido a falência múltipla dos órgãos após complicações causadas por uma pneumonia, segundo informações da família.
Ele estava internado desde o início de setembro na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. Velório será aberto ao público, na Câmara Municipal do Rio, na terça-feira.
A História e a Luta do Brasil em imagens
Evandro Teixeira nasceu em Irajuba, no interior da Bahia, em 1935. Desde jovem, ele desenvolveu uma paixão pela fotografia, inspirada pelo trabalho de José Medeiros, com quem estudou à distância.
Aos 15 anos, mudou-se para Jequié e, mais tarde, para Salvador, onde iniciou sua carreira no Diário de Notícias. Insatisfeito com as oportunidades na Bahia, migrou para o Rio de Janeiro em 1957, onde começou a trabalhar no grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand.
Em 1961, recebeu uma oferta para trabalhar no Jornal do Brasil – na época, o jornal mais prestigiado do país. Inicialmente hesitante, aceitou o convite dois anos depois, permanecendo no veículo por 47 anos. Durante esse tempo, construiu uma das carreiras mais notáveis do fotojornalismo brasileiro.
A Ditadura Militar e o Olhar Sombrio do Golpe
Teixeira registrou momentos decisivos da história brasileira, especialmente durante a ditadura militar instaurada em 1964. No dia 1º de abril daquele ano, ele capturou uma das cenas mais icônicas do golpe: um soldado contra o céu nublado no Forte de Copacabana, sob uma chuva intensa. A imagem sombria parecia antever os anos de repressão que viriam.
O ano de 1968 marcou o ápice de sua carreira, quando ele acompanhou as manifestações estudantis no Rio de Janeiro. Em uma das cenas mais impactantes de sua obra, registrada durante a chamada “Sexta-Feira Sangrenta”, Teixeira capturou o momento em que soldados perseguiam um estudante, que caía após uma violenta borda. Essa imagem se tornou símbolo da brutalidade do regime e, anos depois, foi usada na campanha da Folha de S.Paulo pela democracia.
Um Olhar Além das Fronteiras
A atuação de Evandro Teixeira não se limitou ao Brasil. Em 1973, ele viajou ao Chile para documentar o início da ditadura de Pinochet. Teixeira foi o único fotógrafo a registrar a morte do poeta Pablo Neruda, capturando imagens que retratavam a dor de sua viúva e o corpo do poeta estirado em uma maca. Teixeira também fez fotos inéditas de prisioneiros políticos confinados no Estádio Nacional de Santiago, uma das primeiras denúncias visuais da repressão chilena.
Cultura, Esporte e Música
Além dos registros de conflitos, Teixeira também fotografou figuras marcantes da cultura brasileira, como Tom Jobim, Leila Diniz, Vinicius de Moraes e Cartola, além de ícones do esporte, como Pelé e Ayrton Senna. Em 1997, ele lançou o projeto “Canudos: 100 Anos”, que resultou em um livro dedicado ao centenário da Guerra de Canudos, um dos capítulos mais complexos da história brasileira.
Entre outras obras publicadas, destacam-se “Evandro Teixeira – 50 Anos de Fotojornalismo”, “Passeata dos 100 Mil” e “Vou Viver – Tributo ao Poeta Pablo Neruda”. Nas últimas décadas, sua obra foi celebrada em museus e galerias no Brasil e no exterior, incluindo uma exposição na Leica Gallery, em Nova York, em 2008, onde figurou ao lado de Sebastião Salgado como os únicos brasileiros na mostra.
