Figueira das Lágrimas: a árvore bicentenária que ouviu Dom Pedro soltar o grito da Independência

Decio Caramigo
00:39 07.09.2024
Arte e cultura

Figueira das Lágrimas: a árvore bicentenária que ouviu Dom Pedro soltar o grito da Independência

Testemunha ocular, a figueira tem 240 anos de existência e está localizada na antiga passagem de todos que subiam ou desciam a serra do mar

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- 07.09.2024 - 00:39
Figueira das Lágrimas: a árvore bicentenária que ouviu Dom Pedro soltar o grito da Independência
Foto: Jornalismo Novabrasil.

A Independência do Brasil é contada sob diversos olhares, sempre com relatos históricos comprovados por historiadores. E cada um desses olhares contém um detalhe a mais que, ao somarmos todos, deixam o dia 7 de setembro de 1822 ainda mais fascinante.

No entanto, entre todos os relatos documentados, um ser vivo que atualmente tem cerca de 240 anos presenciou o príncipe Dom Pedro (que mais tarde viria a se tornar Dom Pedro I, Imperador do Brasil) retornando de Santos, a caminho do Ipiranga, e pela proximidade ainda deve ter ouvido seu primeiro grito de Independência, o não oficial, mas também o do calor do momento.

Essa testemunha ocular da história é uma árvore, mais especificamente uma Figueira Brava, que é conhecida por Figueira das Lágrimas. Localizada no Sacomã, zona Sul de São Paulo, na Estrada das Lágrimas, 515, a árvore está num ponto comum de passagem da época em que os viajantes que se dirigiam ao Porto de Santos, para partirem em navios para outros estados ou até mesmo para fora do país, se despediam de seus familiares e amigos.

Como sempre acontece em despedidas, as pessoas se emocionavam e as lágrimas salgavam o local, que ficou conhecido assim.

Para que esse registro não passasse em branco, o Jornal Novabrasil convidou o professor do Museu do Ipiranga Jorge Cintra, especialista em “caminhos de São Paulo e do Brasil” para falar sobre o assunto.

Simpático e de sorriso fácil, o professor começa desmistificando a imagem de que Dom Pedro estava num cavalo, sendo que, na verdade, quando subia a serra “estava montado numa mula, sempre apressado e em velocidade máxima”, explica.

No entanto, um fato concreto é que o príncipe teve, realmente, um problema gástrico e ordenou que a guarda de honra viesse à sua frente, correndo, que ele os alcançaria.

“E a figueira nos contou agora que passou a tropa, conversou com Gama Lobo, que era o chefe da escolta, e disseram que Dom Pedro estava logo atrás”, brinca Cintra. O regente passou pouco tempo depois, “por volta das 16h, onde os relatos revelam que dali a meia hora ele estaria no Ipiranga proclamando a Independência”, finaliza.

O monumento Figueira das Lágrimas

Mais do que uma simples árvore, mais do que um belo exemplar de 240 anos, a Figueira das Lágrimas é um monumento vivo e que acompanhou boa parte da história do país, sobretudo um de seus principais capítulos.

O professor Jorge Cintra fala que “ela é uma lembrança de algo que aconteceu. Ainda mais num país onde nós preservamos poucas coisas, uma árvore não é pouco. É muito!.”

Foto: Jornalismo Novabrasil

Por isso, conservar as coisas que nos ajudam a relembrar os fatos é importante, afirma o historiador. Com a ajuda da árvore, outro trecho importante da história se destaca, pois Dom Pedro lê as cartas enviadas pela Coroa a poucos metros dali, onde hoje é o terminal Sacomã.

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Ao ler o conteúdo, “ele toma a decisão de proclamar a Independência do Brasil. E lá do alto a figueira também viu e ouviu, pois 500 metros ainda é perto para ela”, elucida Cintra.

Tão logo passou pela árvore, ao seu encontro dois guardas “vieram correndo com as cartas que exigiam sua volta imediata à Corte e que diziam que cada província do Brasil seria, então, um país separado dependendo de Portugal, de Lisboa, concretamente. O Brasil se esfacelaria. O príncipe pediu que as cartas fossem lidas pelo padre Belchior, que o acompanhava. Enquanto o representante da Igreja as lia, Dom Pedro as retirou de suas mãos, amassou, jogou no chão e pisou, e ele proclamou a Independência na mesma hora”, ensina Cintra.

O professor explica ainda que este primeiro grito não foi oficial, pois estava apenas a sua comitiva de honra. “Foram dois ou três gritos, mas depois ele oficializou a proclamação da Independência, transmitindo a mensagem a todos, o que já está retratado no quadro do Pedro Américo”, conclui.

Dia de festa no Museu do Ipiranga

Neste 7 de setembro, quem quiser conferir o famoso quadro de Pedro Américo, citado pelo professor Jorge Cintra, e muitos outros itens, fique atento: o Museu do Ipiranga terá programação especial de Independência com entrada gratuita.

Além da entrada franca para acesso ao edifício-monumento e parte das exposições de longa duração, o já tradicional evento que celebra a declaração de Independência do Brasil na área externa do Museu terá apresentações do CORALUSP e quinteto de metais do Instituto Baccarelli.

O evento contará também com jogos e desafios, oficinas, caminhadas, contação de histórias e intervenções artísticas. Todas as atividades vão ocorrer das 9h às 18h.

SERVIÇO
Museu em Festa

Endereço: Rua dos Patriotas, 100
Funcionamento do edifício-monumento: 7 de setembro, sábado, das 9h às 18h (última entrada até as 17h)
Distribuição de ingressos gratuitos a partir das 9h
Confira mais informações AQUI.

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