Faculdade de Direito da USP celebra 200 anos da biblioteca que mudou a história do Brasil

Decio Caramigo
13:29 10.04.2025
Jornalismo

Faculdade de Direito da USP celebra 200 anos da biblioteca que mudou a história do Brasil

Primeira biblioteca pública de São Paulo ganhará nova sede; acervo inclui raridades e foi peça-chave para a criação da faculdade

Avatar Decio Caramigo
- 10.04.2025 - 13:29
Faculdade de Direito da USP celebra 200 anos da biblioteca que mudou a história do Brasil
Foto: Decio Caramigo/Novabrasil

Muito antes de São Paulo se transformar na maior cidade do Brasil, uma iniciativa silenciosa pavimentava o caminho da educação e da vida política do país. Em 1825, nasceu no centro da então pacata província a primeira biblioteca pública da capital paulista — um gesto visionário que, poucos anos depois, seria crucial para a criação da Faculdade de Direito da USP.

Instalada nos fundos do convento dos franciscanos, a biblioteca já contava com um acervo considerável para a época: cerca de 5 mil livros, fruto de doações de bispos e, possivelmente, do legado deixado pelos jesuítas após sua expulsão.

Mais do que um espaço de leitura, a biblioteca era símbolo de infraestrutura e saber, usada como argumento político para que São Paulo sediasse um dos primeiros cursos de Direito do país.

Hoje, 200 anos depois, ela segue viva no coração do Largo São Francisco, abrigando um dos maiores acervos jurídicos da América Latina — cerca de 500 mil livros, incluindo raridades que atravessaram séculos.

Raridades entre estantes de ferro

A chefe da biblioteca, Maria Lucia Beffa, que trabalha no local há mais de três décadas, lembra com carinho do acervo precioso que guarda entre os corredores de estantes antigas. Ela participou do Jornal Novabrasil, que tem apresentação de Heródoto Barbeiro. Entre os tesouros, estão exemplares como a “Divina Comédia”, impressa em 1520, uma edição poliglota da Bíblia do século 16 e documentos históricos como as Ordenações Manuelinas.

Mais do que livros, a biblioteca também é cenário de memórias. Grandes figuras da literatura e da política passaram por suas mesas de estudo — Castro Alves, Fagundes Varela e Lygia Fagundes Telles são apenas alguns exemplos. “Lygia contava que ficava intimidada estudando sob o olhar de Álvares de Azevedo, retratado em um grande quadro da sala de leitura”, relembra Maria Lucia.

O espaço, no coração da cidade, sempre foi público e segue acessível para quem quiser visitar, pesquisar ou apenas conhecer um pouco mais da história que ajudou a moldar o país. Até mesmo moradores de rua frequentam o local, em busca de informação sobre seus direitos ou de acesso à internet.

Uma nova sede para um novo capítulo

A comemoração dos 200 anos é também o ponto de partida para uma grande transformação. A biblioteca está sendo restaurada e ganhará uma nova sede moderna, em frente ao prédio histórico, na rua Riachuelo. A construção, que já começou e deve ficar pronta em dois anos, terá salas de estudo, auditório, café panorâmico e espaços de convivência voltados para o público.

“Será um prédio confortável e aberto, pronto para acolher nossos estudantes, pesquisadores e toda a sociedade”, afirma Maria Lucia.

O novo edifício também permitirá organizar melhor cerca de 20 mil livros que hoje estão encaixotados por falta de espaço. Além disso, está em andamento um projeto de digitalização do acervo, para facilitar o acesso remoto ao conhecimento acumulado em dois séculos.

O prédio histórico, projetado na década de 1930 pelo escritório de Ramos de Azevedo, também passará por restauro, com renovação elétrica, recuperação de mobiliário, inclusive das cadeiras de madeira utilizadas ainda hoje por durante quase cem anos, e descupinização.

Tradição e futuro lado a lado

Em breve, quem visitar o centro de São Paulo poderá ver uma biblioteca de portas abertas para a rua, conectada com a cidade e com o tempo em que vivemos. De um lado, paredes de vidro darão vista a um edifício garagem, vizinho da biblioteca, com a paisagem de uma imensa parede de alvenaria e estruturas metálicas. A ideia é manter viva a história do centro histórico.

No primeiro patamar, o mais alto do prédio, um imenso saguão com estantes bem organizadas em vários andares será o grande chamariz. Conforme a edificação avança, outros andares servirão de apoio para a instituição, sendo finalizado com uma cobertura que abrigará um café e um teatro.

Dois séculos depois, a biblioteca que ajudou a moldar o país segue viva no coração de São Paulo, honrando o lema que atravessa gerações: “Velha e Sempre Nova Academia”.

Siga a Novabrasil nas redes

Google News

Tags relacionadas

200 anos biblioteca acervo jurídico biblioteca USP educação em São Paulo Faculdade de Direito da USP história de São Paulo Largo São Francisco nova sede biblioteca USP restauro patrimônio histórico São Francisco USP
< Notícia Anterior

"A cobra vai fumar": qual o significado e a origem dessa expressão brasileira?

10.04.2025 11:20
"A cobra vai fumar": qual o significado e a origem dessa expressão brasileira?
Próxima Notícia >

Coala Festival vai reunir Nando Reis e Chico Chico em show inédito

10.04.2025 14:12
Coala Festival vai reunir Nando Reis e Chico Chico em show inédito