Começa júri popular dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes
Começa júri popular dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes
A 1ª a falar foi a assessora Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado. Ela pediu que os réus não assistissem ao seu depoimento
Começou às 10h30 desta quarta-feira (30), o julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A 1ª a falar foi a assessora Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado. Ela participou da sessão por videoconferência e pediu que os réus não assistissem ao depoimento.
A jornalista contou que sua vida mudou completamente após o duplo assassinato. Ela também lembrou como foram os últimos momentos de vida de Marielle e Anderson e que, quando estava asilada, ainda teve que explicar para a filha o que era assassinato.
“O impacto sobre a minha filha foi o mais preocupante para a gente. A minha filha, no dia que saímos do Rio de Janeiro, a gente teve que sair em um carro escoltado, abaixados, eu estava de boné. Parecia que eu estava fugindo. Ela se sentiu em fuga”, disse Fernanda.
Veja também:
“Que esses homens sejam condenados”, diz mãe de Marielle Franco à Novabrasil
As famílias da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes chegaram juntas ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (30) para o início do julgamento. Todos vestiam camisetas com os dizeres “Justiça para Marielle e Anderson”. Foi formado um corredor humano para a entrada.
Na porta do Tribunal os familiares atenderam à imprensa. A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, irmã de Marielle começou o discurso.
“Como é que a gente conseguiu chegar até aqui, né?! E quando eu cheguei ali agora no carro, eu lembrei da minha mãe falando que parecia que a gente estava chegando de novo no velório….é, são quase sete anos de muita dor, de um vazio de uma mulher que lutava exatamente contra isso e que foi assassinada da maneira que foi. Mas a gente se manteve muito firme mesmo diante das dificuldades, das diversidades, né?! Acho que isso tem muito a dizer também da criação que a gente teve tanto pela minha mãe, quanto meu pai…” disse ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, irmã de Marielle.
Em seguida, muito emocionada, Marinete Silva, mãe de Marielle, falou com os jornalistas.
“Vamos sim para cima com toda força, com toda garra e dizer que eles precisam sim ser condenados e a gente dar uma resposta para esse Rio de Janeiro, para o Brasil e para o mundo em relação à Marielle e ao Anderson. Muito obrigada!”
Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março de 2018, na região central do Rio de Janeiro. Ronnie e Élcio foram presos como executores do crime no dia 12 de março de 2019.
Com cartazes e girassóis nas mãos, dezenas de manifestantes de diversos movimentos sociais do Complexo do Alemão, Acari, Complexo da Maré, São Gonçalo e Niterói, ecoaram gritos por justiça, exigiram respostas e reparação sobre o assassinato de Marielle e Anderson.
O protesto foi organizado pelo Instituto Marielle Franco e tem a presença de movimentos de mães que perderam os filhos vítimas de violência policial no Rio, organizações de direitos humanos e ativistas sociais.
Grande amigo de Marielle Franco: Tarcísio Motta fala à Novabrasil
O deputado federal do PSOL, Tarcísio Motta, que inclusive foi eleito com Marielle Franco pela primeira vez em 2016, e que tinha seu gabinete do lado do da parlamentar falou ao jornalismo da Novabrasil.
“Hoje é um dia histórico, um dos mais importantes na longa luta por justiça por Marielle e Anderson. Esse crime político que foi um atentado contra a cidade, contra a democracia não pode ficar impune, mas ele também não pode ser o último passo. Que hoje os executores do assassinato de Marielle e Anderson sejam punidos, sejam condenados. Que brevemente, os mandantes também! Mas nós sabemos que essa lutra contra o poder político e econômico, dos grupos armados que controlam territórios em nossa cidade precisa seguir firme e forte, que o assassinato de Marielle, que nos trouxe tanta dor, que foi um atentado contra a democracia, siga sendo símbolo da necessidade de que nós temos de enfrentar os poderosos que controlam os territórios na nossa cidade e precisam ser derrotados. Hoje é um passo na direção da justiça, mas a luta segue firme”
O julgamento
Ronnie e Élcio respondem por 3 crimes (duplo homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e receptação) e podem ser condenados a 84 anos cada um.
A previsão é de pelo menos 2 dias de sessão, com o depoimento de 9 testemunhas.
O destino da dupla será decidido por 7 jurados, todos homens, sorteados de um grupo de 21 pessoas.
Caso o júri decida pela condenação, a juíza Lúcia Glioche calculará a pena deles.
Há um processo paralelo no STF, que julga os irmãos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa como mandantes. Corre lá devido ao foro dos réus.