
A ascensão dos técnicos estrangeiros no futebol brasileiro
A ascensão dos técnicos estrangeiros no futebol brasileiro
O aumento de técnicos estrangeiros no Brasil é reflexo de um futebo em que falta inovação e atualização nas metodologias


Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais comum ver técnicos estrangeiros comandando os maiores clubes do Brasil. Se antes o futebol brasileiro era sinônimo de craques e de uma relação quase mítica entre jogadores e técnicos locais, atualmente a realidade é outra: a presença de estrangeiros, principalmente argentinos e portugueses, tem se destacado no Campeonato Brasileiro e em competições como a Libertadores e a Copa do Brasil.
Esse fenômeno, apontado por especialistas como o professor Celso Unzelte, jornalista e pesquisador da área esportiva, não é exatamente uma novidade, mas algo que se intensificou recentemente. Para ele, o Brasil sempre teve técnicos estrangeiros no passado, mas com características muito diferentes dos profissionais de hoje. O que se vê agora é uma migração de treinadores de países vizinhos, como a Argentina, atraídos pelas melhores condições financeiras oferecidas pelos clubes brasileiros. Um ponto crucial dessa dinâmica é a força da moeda brasileira, que possibilita uma remuneração mais alta para esses profissionais do que em seus países de origem.
Mas o que está por trás dessa preferência por técnicos estrangeiros? A resposta parece estar na estagnação do futebol brasileiro em termos de tática e conhecimento de jogo. De acordo com Unzelte, o futebol no Brasil sempre foi visto como um esporte baseado na habilidade individual, no improviso e na “bola no craque”. Contudo, com o tempo, o jogo evoluiu, tornando-se mais técnico e tático. O Brasil, entretanto, parece ter ficado para trás, com a formação de treinadores ainda muito focada em aspectos empíricos e na liderança psicológica, em vez de investir no aprofundamento das metodologias táticas modernas.
“O futebol de hoje é muito mais do que a bola no craque”, explica Unzelte.
“Implica técnicas, conhecimentos, saberes. E a falta de atualização em termos de formação de treinadores no Brasil é um dos principais motivos pelos quais temos cada vez mais estrangeiros à frente dos grandes clubes”, completa o especialista.
De fato, muitos dos técnicos brasileiros que tentam se adaptar às novas demandas acabam enfrentando dificuldades, já que o conhecimento tático e a metodologia de trabalho não são suficientes para competir com os treinadores estrangeiros, que trazem novos conceitos para o campo.
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Além disso, um ponto importante é a barreira linguística que muitos técnicos brasileiros enfrentam ao tentar trabalhar fora do país. Enquanto os argentinos, por exemplo, frequentemente dominam o espanhol e o inglês, facilitando sua inserção em mercados internacionais, a maioria dos treinadores brasileiros não possui fluência em outras línguas, o que limita suas oportunidades fora do Brasil.
A formação de técnicos também é um obstáculo. No Brasil, a CBF exige que os candidatos ao cargo de técnico de futebol possuam um diploma em Educação Física, uma exigência que é vista por muitos como desnecessária. Para Unzelte, a formação de treinadores deveria seguir os mesmos moldes de outros países, com uma ênfase maior na formação técnica e tática, e menos em requisitos acadêmicos que não têm relação direta com as habilidades exigidas para comandar uma equipe de futebol.
Portanto, a presença crescente de técnicos estrangeiros nos clubes brasileiros não é apenas uma consequência de fatores financeiros, mas também um reflexo da falta de inovação e adaptação do futebol nacional. Para reverter esse cenário, é essencial que o Brasil repense sua formação de treinadores, buscando uma atualização que permita aos técnicos locais competir no mais alto nível, tanto dentro quanto fora do país.