Acrílico em tela ‘Ciranda’ do artista plástico Sandro Maciel (2019) | Foto: Divulgação.

Hoje, aqui no Brasil com S, a gente fala sobre a Ciranda.

E vamos começar com um grande sucesso do compositor pernambucano Capiba, gravado em 1977 por Lia de Itamaracá, nome mais expressivo quando pensamos em  Ciranda no Brasil, declarada Patrimônio Vivo de Pernambuco e considerada a Rainha da Ciranda. Trata-se da canção Minha Ciranda:

Minha ciranda não é minha só

Ela é de todos nós

A melodia principal quem

Guia é a primeira voz

 

Pra se dançar ciranda

Juntamos mão com mão

Formando uma roda

Cantando uma canção 

 

O musicólogo Jaime Diniz, em seu estudo Ciranda: roda de adultos no folclore pernambucano, publicado na Revista do Departamento de Extensão Cultural e Artística, em 1960, refere-se à essa manifestação cultural, composta simultaneamente por música, canto e dança, como dança de roda de adultos, embora dela também possam participar crianças. Segundo o autor, a Ciranda seria de origem portuguesa, tendo chegado ao Brasil no século XVIII, predominando no Estado de Pernambuco, na Mata Norte e no litoral.

A Ciranda faz parte da cultura de muitos povos dentro do Brasil e é uma forma de expressar laços nas comunidades. 

Inicialmente, as Cirandas eram praticadas por trabalhadores e trabalhadoras rurais, pescadores e esposas de pescadores e operários de construções, na beira do mar, nas ruas e nos terreiros. Isso fez com que fossem associadas às camadas populares e caracterizadas como uma expressão genuína do povo.

“A roda tem um significado muito grande, é um valor civilizatório afro-brasileiro, pois aponta para o movimento, a circularidade, a renovação, o processo, a coletividade: roda de samba, de capoeira, as histórias ao redor da fogueira”, defende a educadora Azoilda Loretto da Trindade, em seu texto Valores Civilizatórios Afro-brasileiros na Educação Infantil.

Povos indígenas brasileiros, por exemplo, possuem inúmeras práticas culturais nesse sentido. Um exemplo é o Toré, ritual que envolve uma dança circular, acompanhada por cantos, e que foi incorporado atualmente ao movimento indígena da região Nordeste como uma forma de expressão étnica e política.

A partir da década de 1970, a Ciranda conquistou grandes cidades, como Recife e Olinda. E começou a se tornar um produto turístico: foram criados, por exemplo, os Festivais de Ciranda. Na mesma época, a Ciranda começou a ser apropriada de diferentes formas, em regiões distintas. 

Localizada na região metropolitana de Recife, a Ilha de Itamaracá, local de origem de Lia de Itamaracá, é o município conhecido como o berço da Ciranda. Além de Lia , outros nomes importantes da Ciranda em Pernambuco são Mestre Baracho e  Mestre Anderson Miguel. Já na Paraíba, existem grandes mestras e mestres como Penha Cirandeira, Dona Edite, Vó Mera, Mestre Cícero e Odete de Pilar.

O ritmo da Ciranda é quaternário simples, lento, com o compasso bem marcado por um toque grave da zabumba (ou bumbo) na cabeça do compasso e toques abafados nos outros tempos, acompanhado por outros instrumentos de percussão como o tarol, o ganzá e o maracá.

Não há limite para o número de pessoas que podem participar da roda da Ciranda. Geralmente, começa-se com uma roda pequena, que vai aumentando, à medida que as pessoas chegam para dançar, abrindo o círculo e segurando nas mãos dos que já estão dançando, marcando os compassos (coreografados ou improvisados) com os pés. A pessoa pode entrar e sair da roda a hora que desejar e, quando a roda atinge um tamanho que dificulta a movimentação, forma-se outra menor no interior da roda maior.

A Ciranda é uma manifestação popular que dissemina a cultura oral. É também considerada uma arte espontânea, sem preocupação com a formação de pares, ou a divisão de sexo.

A letra da Ciranda pode ser improvisada ou já conhecida. De melodia simples e normalmente com um refrão ou estribilho bem marcado, para facilitar o acompanhamento, é entoada pelo mestre cirandeiro, acompanhada pelos tocadores e pelos dançarinos.

Os temas das letras são variados e trazem versos sobre a agricultura, o campo, a natureza, o amor, as praias, entre outras coisas. Grande parte dessas músicas é passada de geração em geração, integrando o cancioneiro popular brasileiro.

Preparamos uma playlist especial para vocês, com Cirandas que são grandes clássico da nossa MPB: