Indústria da reciclagem comemora proibição do Brasil de importar “lixo”
Indústria da reciclagem comemora proibição do Brasil de importar “lixo”
Em entrevista à Novabrasil, representante do setor disse que lei sancionada pelo presidente Lula vai fortalecer a economia circular no país
Marcelo Souza, CEO da Indústria Fox e presidente do Instituto Nacional de Economia Circular (Inec), ressaltou a importância da recente sanção do presidente Lula, que proíbe a importação de lixo e visa aumentar a reciclagem no país. Para ele, essa medida irá fortalecer a indústria nacional de reciclagem, que já é bem estruturada, mas esbarra em obstáculos como as distâncias internas e a falta de uma infraestrutura de transporte mais eficiente.
O Brasil, com sua imensa extensão territorial, enfrenta dificuldades logísticas que tornam a reciclagem mais desafiadora. “Transportar resíduos dentro do Brasil é mais difícil do que importar lixo de outros países”, explicou Souza.
Em recente entrevista ao jornalismo da Novabrasil, Marcelo compartilhou suas perspectivas sobre o futuro da reciclagem no Brasil e o impacto das novas legislações. A conversa também destacou os desafios logísticos e culturais da reciclagem no país, assim como as soluções propostas pela economia circular.
A economia circular, conceito defendido pelo Instituto Nacional de Economia Circular, surge como uma solução para os problemas de sustentabilidade. Diferente do modelo linear de consumo — onde se extrai, produz, consome e descarta — a economia circular propõe que os materiais sejam recirculados por meio de reuso, remanufatura e reciclagem.
Isso não apenas reduz a necessidade de novas matérias-primas, mas também permite um crescimento econômico sustentável, sem agredir os recursos naturais. Souza afirmou que esse modelo contraria o que ele chama de “economia linear”, que ainda domina em muitos setores da indústria brasileira.
No entanto, apesar de parecer uma solução simples e intuitiva, a transição para uma economia circular enfrenta vários obstáculos. A indústria brasileira ainda depende muito da extração de matérias-primas virgens, que são mais baratas e mais rápidas de obter, uma realidade que desafia a implementação de práticas mais sustentáveis. “É mais fácil importar resíduo ou usar matéria-prima virgem, que tem um custo menor”, apontou Souza, sublinhando que mudanças na legislação, como a nova lei sancionada, são um passo importante, mas não suficientes.
Marcelo também destacou a importância de uma mudança de mentalidade, tanto por parte dos consumidores quanto dos fabricantes. “A reciclagem começa no design do produto”, afirmou. Muitos produtos e embalagens são projetados de forma a dificultar o processo de reciclagem, devido à escolha de materiais e cores que comprometem a eficiência do processo. O novo livro do Inec, que será lançado em breve, explora como o design e o marketing podem ser repensados para promover a circularidade.
O Brasil tem feito avanços importantes, mas a verdadeira mudança, segundo Souza, exige uma transformação profunda em toda a cadeia produtiva. “Precisamos pensar no alicerce, no design dos produtos, na escolha dos materiais e em um marketing que valorize a reciclagem”, concluiu o especialista. O país caminha, assim, para um futuro mais sustentável, mas o sucesso da economia circular depende de uma ação conjunta entre governo, indústria e consumidores.