
Imperatriz Leopoldinense: A Rainha de Ramos que une tradição e renovação


Carnaval Direto da Fonte com Sérgio Leão
Jornalista e produtor cultural
Imperatriz Leopoldinense: A Rainha de Ramos que une tradição e renovação
Com raízes históricas, protagonismo feminino e enredos memoráveis, a escola segue brilhando no carnaval como um símbolo de resistência


“Quem não sabe o que é o amor. Não sabe o que é ser feliz. Quem não sabe o que é sambar. Não sabe o que é Imperatriz.” Tais versos bem ditos por Paulinho Mocidade em 1970 com o enredo Rainha de Ramos.
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense é uma agremiação sediada no bairro de Ramos.
Fundada em 6 de março de 1959 pelo farmacêutico Amaury Jório, juntamente a alguns sambistas da Zona da Leopoldina e remanescentes da extinta agremiação Recreio de Ramos, seu nome faz referência à Estrada de Ferro Leopoldina – que cortava o bairro de Ramos – e que, por sua vez, recebeu esse nome em referência à Imperatriz Maria Leopoldina do Brasil.
Em sua bandeira, carrega as cores verde, branco e ouro, além do símbolo maior, a coroa real. Ao longo do manto, onze estrelas simbolizam os bairros que compõem região: Bonsucesso, Brás de Pina, Cordovil, Manguinhos, Olaria, Parada de Lucas, Penha, Penha Circular, Vila da Penha, Ramos e Vigário Geral, abrangendo ainda toda a área do Complexo do Alemão e do Adeus.

Legítima herdeira dos foliões que, desde o começo do século XX, ocupavam as ruas de Ramos e imediações na região da Leopoldina com seus grupos carnavalescos, a Imperatriz Leopoldinense tem a tradição de reunir grandes sambistas em torno de sua bandeira.
A Rainha de Ramos – como é carinhosamente chamada – se notabiliza ao longo do tempo como referência no papel cultural das escolas de samba, brilhando com seus enredos originais, quase sempre ligados à história e cultura do Brasil.
É também conhecida como celeiro de grandes compositores, destacando-se figuras como Zé Katimba e Niltinho Tristeza – autor do clássico Tristeza, que acabou batizando seu nome artístico.
E se formos falar de samba-enredo, a escola se envaidece em ter visto saírem de sua quadra sambas enredo memoráveis como “Brasil: flor amorosa das três raças”, “Oropa, França e Bahia”, “Martim Cererê”, “O quê é que a Bahia tem?”, “O teu cabelo não nega”, “Liberdade! Liberdade! Abra as asas sobre nós” e muitos outros.
Num mundo dominado pelos homens, ela também se afirma como uma instituição que valoriza o poder feminino, a começar pelo seu próprio nome que, num sábio jogo de palavras, aproxima uma das mais pujantes regiões da cidade (a zona da Leopoldina) a uma das mais importantes e batalhadoras mulheres da história brasileira (a Imperatriz Leopoldina), atuante na política do país num período que reservava às mulheres papéis secundários, e uma das responsáveis por nossa independência.

Para que se tenha ideia da força feminina na escola, a Imperatriz foi a primeira a romper com a tradição das Comissões de Frente masculinas, trazendo em 1969 um grupo de passistas para defender o quesito que, até então, era sempre formado por distintos senhores das velhas-guardas nas demais escolas.
Berço de muitos bambas, a escola se orgulha de suas tradições e de sua trajetória, mantendo-se firme em sua missão de levar alegria, cultura e conhecimento ao povo brasileiro.
Imperatriz Leopoldinense e os títulos
Veja também:
Com a vitória do carnaval de 2023, a Imperatriz Leopoldinense acumula o 9º título de campeã do grupo principal do carnaval carioca. Os demais foram conquistados em 1980, 1981, 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001. Nos desfiles de 1980, 1989 e 2001 foi campeã, obtendo nota máxima em todos os quesitos.
Imperatriz Leopoldinense no carnaval 2025
A escola escolheu falar sobre a sabedoria africana em seu enredo para o carnaval desse ano. Com o título “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”, a escola vai contar sobre o desejo de Oxalá em visitar o reino de Xangô, ambos orixás que são reis dentro da cultura de axé. No entanto, a peregrinação de Oxalá não foi simples. No caminho, ele se encontra com Exú, que é um outro orixá com função de comunicação e mensageiro.
“Após quase 50 anos, a Rainha de Ramos volta a mergulhar na mitologia dos orixás. O último desfile da agremiação consagrando um orixá como grande protagonista aconteceu em 1979, diante da lenda de Oxumaré. Na época, a apresentação foi assinada pelos carnavalescos Mário Barcellos e Caetano Costa. Mergulhado nesse rico universo ancestral marcado pela oralidade, a Imperatriz vai dar partida ao Carnaval.” disse o carnavalesco Leandro Vieira, na época do anúncio do enredo.
Imperatriz Leopoldinense e Cátia Drumond
Após o falecimento de Luizinho Drumond, em julho de 2020, vítima de um AVC, seus seis filhos se reuniram para decidir quem assumiria a presidência da Imperatriz Leopoldinense.
Os homens da família não quiseram ocupar o cargo, já que a escola havia retornado recentemente ao então chamado grupo de acesso, e o cenário não era dos mais favoráveis.

Após longas discussões, a família chegou a uma decisão rara no universo do samba e da contravenção, onde o machismo ainda é predominante: a presidência da escola seria assumida por uma mulher, Cátia Drumond, a segunda filha de Luizinho. A escola vive ótimos momentos na gestão de Cátia.
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