Clarice Lispector: uma semana para celebrar sua vida e obra
Pensa Comigo com Gabriel Chalita
Escritor, filósofo e professor
Clarice Lispector: uma semana para celebrar sua vida e obra
Nova Manhã relembra trajetória de Clarice Lispector dentro da literatura
Se existe um nome na literatura brasileira que atravessa fronteiras e gerações, esse nome é Clarice Lispector. Durante esta semana especial, que marca o aniversário de nascimento da escritora (10 de dezembro) e o dia de sua morte, um dia antes de completar 57 anos, sinto que a homenagem é mais do que justa. Tive a oportunidade de falar sobre sua vida e obra no programa Nova Manhã, e cada vez mais me impressiono com o impacto que ela deixou para todos nós.
O início de tudo
Clarice nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil ainda criança, com apenas dois anos. Sua trajetória começou em Maceió e, em seguida, Recife, onde passou parte de sua infância. Gosto de lembrar relatos emocionantes desse período, como o pai de Clarice acordando a família cedo para tomar banho de mar e o encanto que ela sentia ao andar de bonde. Já no Rio de Janeiro, a autora consolidou sua carreira e escreveu algumas das obras mais impactantes da literatura mundial.
Transformações e epifanias na obra de Clarice
Eu sempre me impressiono com os momentos transformadores que Clarice Lispector transmitia em suas escritas. Um exemplo é A Paixão Segundo G.H., onde uma mulher reflete profundamente ao se deparar com uma barata. Outro é A Hora da Estrela, que narra as angústias da datilógrafa Macabéa em uma sociedade que pouco lhe oferece. Há ainda histórias que revelam conexões surpreendentes, como a de uma mulher no Jardim Botânico que começa a sentir as plantas como parte de si mesma.
Clarice tinha um talento singular para traduzir a alma humana em palavras. Suas personagens frequentemente viviam epifanias — revelações que transformavam suas existências de forma visceral. Esses momentos são mais do que narrativas; são convites para nós, leitores, refletirmos sobre nossas próprias jornadas.
“Nasci para três coisas”
Um dos momentos que mais me emocionam na obra de Clarice é quando ela reflete sobre três razões para sua existência: ser mãe, escritora e amar as pessoas.
Sobre a maternidade, Clarice dizia que seus filhos, Pedro e Paulo, eram sua escolha consciente e que sabia que, um dia, eles não pertenceriam mais a ela, mas ao mundo. Ser escritora, por sua vez, foi algo que ela “aprendeu vivendo”, transformando as experiências em histórias que tocam até hoje. E amar as pessoas era, para ela, a missão mais importante — um amor que incluía até a si mesma, com todos os erros e acertos que carrega uma vida.
Desafios de ser mulher escritora
Se há algo que sempre me chama a atenção nas histórias sobre Clarice é o que ela dizia a colegas como Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon: ser uma escritora mulher, em sua época, era um desafio imenso. Ela comentava que não podia sequer sorrir em entrevistas, pois isso a fazia ser menos levada a sério. Essa seriedade, entretanto, não diminuiu a força de sua obra, que hoje ecoa pelo mundo, sendo citada por personalidades internacionais e celebrada em prêmios e eventos literários.
Por onde começar?
Se você ainda não conhece Clarice Lispector, minha sugestão é começar por suas crônicas e cartas. Elas revelam, de forma mais acessível, sua essência e profundidade. Depois, mergulhe em seus romances, que são densos e desafiadores, mas incrivelmente recompensadores.
O legado de Clarice
Hoje, 47 anos após sua morte, Clarice Lispector segue mais viva do que nunca. Suas obras estão sendo descobertas por novas gerações, tanto no Brasil quanto no exterior, provando que a literatura tem o poder de atravessar tempos e fronteiras.
Clarice, com sua escrita única, continua nos ensinando a ver o mundo com outros olhos. Como ela mesma disse: “Eu nasci para amar as pessoas”. E esse amor, sem dúvida, transborda de cada linha que escreveu.
Viva Clarice Lispector, sempre!
(Texto baseado na minha participação no programa Nova Manhã, da Novabrasil.)*
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