Para nós, Gilberto Gil sempre foi imortal. Um verdadeiro patrimônio da nossa música e da cultura popular brasileira. Um dos maiores artistas que este mundo inteiro já viu. Um gênio musical e grande poeta. Motivo de orgulho e admiração de todo o povo brasileiro. Alguém que representa e defende como ninguém a brasilidade e a diversidade do nosso país, do nosso povo.

Mas, agora, isso é oficial: completando 80 anos de idade e 60 de carreira neste ano, Gilberto Gil é o primeiro representante da MPB a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Empossado na última sexta-feira, dia 8 de abril, em uma cerimônia emocionante realizada na sede da ABL, no Rio de Janeiro, o baiano – que recebeu o tradicional colar da Academia das mãos da mais recente empossada, Fernanda Montenegro (outro patrimônio vivo da nossa arte e motivo de orgulho para o nosso país) – fez um discurso emocionante, como não poderia deixar de ser.

“A Academia Brasileira de Letras é a casa da palavra e da memória cultural do Brasil e tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância e da demagogia de feição antidemocrática. Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório.”

Fernanda Montenegro entregando o colar para Gilberto Gil | Foto: Osmar Marrom Martins/CORREIO

 

Gil começou o discurso reverenciando seus pais:

“Sou filho de uma professora primária, Claudina, e de um médico, José Gil Moreira. A eles devo o meu amor às letras e à música. Foi de minha mãe que ganhei o meu primeiro violão, em 1961. Ela também leu, com paciência de mestra experiente, meus versos inspirados em leituras de Castro Alves, Gonçalves Dias e Olavo Bilac, que comecei a escrever aos 17 anos esses primeiros versos. Tive a sorte de ter pais carinhosos, que me educaram para não ter medo de enfrentar os desafios que a vida fatalmente nos impõe.”.

 

E continuou:

“Contemplo desta tribuna o menino que fui e me espanto. A curiosidade e algumas interrogações daquela época permanecem vivas em mim. Sempre procurando acompanhar o desenvolvimento das novas tecnologias no que elas possam contribuir para o bem de todos. Costumo me perguntar: o que será do Brasil em meio a esse mundo de pandemias e guerras? Que destino aguarda a Amazônia? O que os políticos estão fazendo para acabar com a fome e o analfabetismo? Quando conseguiremos alcançar a tão sonhada independência científica e tecnológica? Até quando o Brasil será o ‘país do futuro’ de Stefan Zweig? Não tenho respostas ou verdades consolidadas, nem sei se as terei um dia. Procurei, junto com alguns brilhantes companheiros de geração, colaborar para que o Brasil fosse respeitado e amado mundo afora. Participei de movimentos culturais como a Tropicália, que continua dando frutos por aí.”

 

Em seguida, cantou um trecho de um dos seus maiores sucessos, A Gente Precisa Ver o Luar, gravado em 1981, no seu disco Luar.

 

“Apesar dos tempos politicamente sombrios que vivemos, aposto na esperança. Contra a treva física e moral, que haja ao menos a chama de uma vela, até chegarmos a toda luz do luar. Permitam-me recordar: 

‘Se a noite inventa a escuridão

A luz inventa o luar

O olho da vida inventa a visão

Doce clarão sobre o mar’. 

Essa é nossa aposta, na vida e na alegria.”

 

O baiano é apenas o terceiro negro a ocupar uma cadeira na ABL: o primeiro foi o escritor Machado de Assis – que fundou a Academia, há 124 anos – e o segundo foi o escritor Domício Proença Filho, eleito em 2006, para a cadeira 28.

Gilberto Gil | Instagram de Gilberto Gil

O jornalista Merval Pereira, presidente da ABL, falou sobre a escolha de Gilberto Gil para ocupar a cadeira de número 20: 

“A academia está ampliando a sua visão sobre a diversidade cultural do Brasil e está trazendo para dentro dela quem melhor representa. O Gil é um poeta, um grande poeta, e trouxe a cultura afro para a música brasileira. A academia é uma instituição que não faz política, mas defende valores”.

Gilberto Gil não cansa de nos emocionar e de nos orgulhar. E nunca cansará. Ele é imortal!

 

Quer saber mais sobre a história de Gilberto Gil? Temos um episodio do nosso acervo MPB, Podcast e vídeo que conta a história de vida de diversos artistas da nossa Música Popular Brasileira. Confira: