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Dia pela Eliminação da Discriminação Racial: 10 canções sobre o tema

Novabrasil
09:30 21.03.2023
Brasilidade

Dia pela Eliminação da Discriminação Racial: 10 canções sobre o tema

Hoje, 21 de março, é o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. Além de falar sobre a origem da data, separamos 10 canções da MPB que tratam sobre o tema para refletir. Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial No dia 21 de março de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul, 20 mil … Continued

Novabrasil - 21.03.2023 - 09:30
Dia pela Eliminação da Discriminação Racial: 10 canções sobre o tema
Elza Soares |Foto: Marcos Hermes Divulgação

Hoje, 21 de março, é o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. Além de falar sobre a origem da data, separamos 10 canções da MPB que tratam sobre o tema para refletir.

“A Carne” virou um clássico na voz de Elza Soares. A canção escancara a discriminação racial e o racismo estrutural no Brasil |Foto: Marcos Hermes Divulgação

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial

No dia 21 de março de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul, 20 mil pessoas realizavam um protesto, organizado pelo Congresso Pan-Africano (PAC), contra a Lei do Passe, que limitava os lugares por onde a população negra podia circular, obrigando-os a portar um cartão que continha os locais onde era permitida a sua circulação.

A manifestação era pacífica e completamente desarmada, mas a polícia sul-africana do regime de segregação racial presente no país desde 1948, o Apartheid, atirou contra os manifestantes, matando 69 pessoas e deixando outras 186 feridas.

O Massacre de Shaperville

Este episódio terrível ficou conhecido como o Massacre de Shaperville, nome do bairro onde tudo aconteceu.

Após esse dia, a opinião pública mundial focou sua atenção pela primeira vez na questão do Apartheid. Em memória à tragédia, a Organização das Nações Unidas  (ONU) instituiu, desde 1969, o 21 de março como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.

Todos os anos, o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial tem um tema específico e o tema atual é Youth standing up against racism, ou – em português – A juventude levantando-se contra o racismo. Na África do Sul, o Dia dos Direitos Humanos é celebrado nesta data, tornando-se um feriado público. 

Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial: 10 canções da MPB sobre o tema

Hoje, 62 anos depois, ainda nos deparamos com terríveis, absurdos e inaceitáveis episódios de racismo e discriminação diariamente em nossa sociedade. Para engrossar esse coro na luta contra a discrimiação racial, nós trouxemos uma lista de 10 canções da MPB que tratam deste tema tão importante e urgente.

1 – Tributo a Martin Luther King (1967) – Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli

Sim, sou um negro de cor

Meu irmão de minha cor

O que te peço é luta sim, luta mais

Que a luta está no fim

La la la la la la la… (uohh-oh-oh)

Cada negro que for

Mais um negro vira

Para lutar

Com sangue ou nao

Com uma canção

Também se luta irmão

Ouvir minha voz, Oh yes

Lutar por nós

Luta negra demais

E lutar pela paz

Luta negra demais

Para sermos iguais

Composta por Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, em 1967, para homenagear o grande ícone e  referência na luta pelos direitos civis americanos, Tributo a Martin Luther King é um hino da luta contra o preconceito racial. César Camargo Mariano fez os arranjos e a canção foi gravada por Simonal em compacto no mesmo ano, mas só pôde ser lançada meses depois, por conta da censura. 

Na entrega do Troféu Roquete Pinto de 1967, Simonal fez um discurso histórico sobre esta composição:

“Essa música, eu peço permissão a vocês, porque eu dediquei ao meu filho, esperando que no futuro ele não encontre nunca aqueles problemas que eu encontrei, e tenho às vezes encontrado, apesar de me chamar Wilson Simonal de Castro.

Simonal é pai dos cantores, compositores, multi-instrumentistas e produtores Wilson Simoninha e Max de Castro

2 – Zumbi (1974) – Jorge Ben Jor

Angola Congo Benguela

Monjolo Cabinda Mina

Quiloa Rebolo

Aqui onde estão os homens

Dum lado cana de açúcar

Do outro lado o cafezal

Ao centro senhores sentados

Vendo a colheita do algodão branco

Sendo colhidos por mãos negras

Eu quero ver

Quando Zumbi chegar

O que vai acontecer

Zumbi é senhor das guerras

É senhor das demandas

Quando Zumbi chega

É Zumbi é quem manda

Nesta canção de 1974 (também conhecida como África Brasil), Jorge Ben Jor homenageia outra figura importantíssima para a história do povo negro: Zumbi dos Palmares, o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial.

Zumbi é um dos maiores personagens e símbolos da história no que diz respeito à resistência do povo negro contra a escravidão e sua luta por liberdade.

Jorge Ben Jor faz referências à ancestralidade africana, tanto na letra quanto na musicalidade de Zumbi, de forma majestosa.

3 – Lágrima do Sul (1985) – Milton Nascimento e Marco Antônio Guimarães

Pele negra, quente e meiga

Teu corpo e o suor

Para a dança da alegria

E mil asas para voar

Que haverão de vir um dia

E que chegue já, não demore, não

Hora de humanidade, de acordar

Continente e mais

A canção segue a pedir por ti

(A canção segue a pedir por nós)

África, berço de meus pais

Ouço a voz de seu lamento

De multidão

Grade e escravidão

A vergonha dia a dia

Mais uma belíssima homenagem a uma personalidade importantíssima na luta por equidade racial no mundo. Desta vez é Milton Nascimento, junto com seu parceiro Marco Antônio Guimarães, que homenageia Nelson Mandela – o mais importante líder da África Negra, mais poderoso símbolo de resistência e da luta contra o regime segregacionista do Apartheid, ativista pelos direitos humanos e vencedor do Prêmio Nobel da Paz – e a sua então esposa Winnie.

A letra enaltece o continente africano como berço do povo negro brasileiro, lamenta todas as desigualdades existentes na região, e ressalta o “vento” que vem do “Sul” como uma história que se repete, referindo-se ao violento regime de segregação racial na África do Sul, país do qual Mandela foi presidente entre 1994 e 1999, depois de passar 27 anos na prisão e depois do fim do Apartheid.

4 – Canto de Três Raças (1976) – Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte 

Ninguém ouviu

Um soluçar de dor

No canto do Brasil

Um lamento triste

Sempre ecoou

Desde que o índio guerreiro

Foi pro cativeiro

E de lá cantou

Negro entoou

Um canto de revolta pelos ares

Do Quilombo dos Palmares

Onde se refugiou

Clássico composto por Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte para a musa Clara Nunes gravar no disco homônimo de 1976, Canto das Três Raças fala dos indígenas, nossos povos originários – que aqui já estavam quando os portugueses chegaram nesta terra que veio a ser o Brasil; dos africanos trazidos pela serem também escravizados em solo brasileiro; e, por fim, dos “colonizadores” brancos europeus. 

Traz o “canto de dor” dos escravizados, lamentando o que poderia ter sido “um canto de alegria”, não fosse toda a violência e injustiça do sistema e do regime de escravidão. Uma letra de resistência, que nos convida a não naturalizar o que deve ser sempre combatido.

E Clara Nunes, grande estudiosa que era da cultura afro-brasileira, cantava sobre isso como ninguém.

5 – Sorriso Negro (1981) – Adilson Barbado e Jorge Portela

Sorriso negro

Um abraço negro

Traz felicidade

Negro sem emprego

Fica sem sossego

E negro é a raiz da liberdade

A primeira mulher a fazer parte da Ala de Compositores de uma escola de Samba na história foi uma mulher negra, que demorou 20 anos para poder ter os seus sambas assinados e reconhecidos como dela. Essa mulher se chama Ivone Lara da Costa: a Dona Ivone Lara!

Vencendo todas as barreiras impostas, não só pelo racismo e discriminação, mas também pela sociedade machista e patriarcal, Dona Ivone Lara tornou-se uma das maiores sambistas do país e gravou no seu terceiro disco, a canção-título composta por Adilson Barbado e Jorge Portela, em 1981: Sorriso Negro.

Nela, Ivone Lara canta sobre o racismo estrutural, a desigualdade e também sobre o orgulho do povo negro. Traz na voz a esperança de que possam sentir cada vez mais alegria e abracem de vez aquilo que é seu por direito: o direito de ser livre e de sentir felicidade. De sorrir o seu Sorriso Negro de forma plena.

6 – Olhos Coloridos (1982) – Macau

Os meus olhos coloridos

Me fazem refletir

Eu estou sempre na minha

E não posso mais fugir

Meu cabelo enrolado

Todos querem imitar

Eles estão baratinados

Também querem enrolar

Você ri da minha roupa

Você ri do meu cabelo

Você ri da minha pele

Você ri do meu sorriso

A verdade é que você

Tem sangue crioulo

Tem cabelo duro

Sarará crioulo

Hino do orgulho e do empoderamento do povo preto, a rainha da soul music brasileira, Sandra Sá, gravou o sucesso de Macau Olhos Coloridos – em 1982, para o disco que leva o seu nome. 

Além de exaltar com amor o seu “cabelo enrolado”, um dos maiores focos do racismo e da discriminação (que utiliza o termo “sarará”, reforçado na letra), a canção também lembra ao ouvinte branco e racista que todo o povo brasileiro tem o “sangue crioulo”, remetendo à nossa ancestralidade africana.

7 – Negro É Lindo – (1971) – Jorge Ben Jor 

Negro é lindo

Negro é amigo

Negro também é

Filho de Deus

Eu só quero que

Deus me ajude

A ver meu filho

Nascer e crescer

E ser um campeão

Sem prejudicar

Ninguém porque

Negro é lindo

Negro é amor

Negro é amigo

Negro também é

Filho de Deus

Jorge Ben Jor compôs o samba-rock Negro é Lindo em 1971, para o disco Jorge Ben. Na canção, ele afirma o orgulho que sente por sua cor e exige respeito e igualdade, dando cada vez mais voz ao movimento de valorização do povo negro no Brasil e na música popular brasileira.

8 – Identidade (1992) – Jorge Aragão

Elevador é quase um templo

Exemplo pra minar teu sono

Sai desse compromisso

Não vai no de serviço

Se o social tem dono, não vai

Quem cede a vez não quer vitória

Somos herança da memória

Temos a cor da noite

Filhos de todo açoite

Fato real de nossa história

Se preto de alma branca pra você

É o exemplo da dignidade

Não nos ajuda, só nos faz sofrer

Nem resgata nossa identidade

Trazendo toda a influência da ancestralidade africana também para o samba, Jorge Aragão compõe Identidade, em 1992.

A letra genial, forte e necessária questiona absurdos racistas inaceitáveis na nossa sociedade, como o elevador de serviço e a frase “preto de alma branca”, utilizados até os dias atuais de forma velada ou escancarada do racismo estrutural em nosso país. 

Jorge não nos deixa esquecer o fato de que, como diz a historiadora, escritora e rapper Preta Rara:

“A senzala moderna é o quartinho da empregada”.

A escravidão, de fato, nunca acabou.

9 – Mão Da Limpeza – Gilberto Gil (1984)

O branco inventou que o negro

Quando não suja na entrada

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Vai sujar na saída, ê

Imagina só

Que mentira danada, ê

Iô, iô, iô

Iê, iê, iê

Na verdade, a mão escrava

Passava a vida limpando

O que o branco sujava, ê

Imagina só

Também escancarando o racismo estrutural, Gilberto Gil alerta para certas continuidades da herança escravagista nos dias atuais (atuais desde 1984 – quando a música foi composta – até hoje, infelizmente) na canção Mão da Limpeza, que entrou para o seu disco Raça Humana.

Na letra, Gil lembra que, mesmo depois de há tantos anos abolida a escravidão, a mão negra ainda é a responsável por limpar as sujeiras produzidas pelo homem branco. E por servir o homem branco. Até quando?

10 – A Carne – Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti (2002)

A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Só-só cego não vê)

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo do plástico

E vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Dizem por aí)

Que fez e faz história

Segurando esse país no braço, meu irmão

O cabra que não se sente revoltado

Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador eleito

Mas muito bem intencionado

E esse país vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

Mas mesmo assim ainda guarda o direito

De algum antepassado da cor

Brigar sutilmente por respeito

Brigar bravamente por respeito

Clássico na voz marcante e extraordinária de Elza Soares, A Carne foi composta por Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti, em 1998, para o álbum Moro no Brasil, da banda Farofa Carioca, e entrou para o disco Do Cóccix até o Pescoço, de Elza, em 2002.

Extremamente necessária, a canção escancara o racismo estrutural rasgante em nosso país, o abismo social e a falta de políticas públicas que tirem a total vulnerabilidade da população preta brasileira ao racismo, à discriminação, à violência e ao abandono.

Depois de muitos anos, Elza passou a cantar:

“A carne mais barata do mercado era a carne negra. Foi a carne negra. Agora não é mais”.

Em entrevista, ela declarou:

“Agora os negros têm força pra lutar. Somos a maioria. Vamos lutar e nos orgulhar.”.

Que Elza esteja certa, de onde estiver. Que, de uma vez por todas, a carne mais barata do mercado deixe de ser a carne negra.

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