Há exatos 14 anos, o Brasil se despedia de um dos maiores representantes da sua cultura popular: o baiano Dorival Caymmi, que nos deixava órfãos de seu talento aos 94 anos, vítima de insuficiência renal, devido a um câncer que o acompanhava desde o ano de 1999.

Artista múltiplo – cantor, compositor, instrumentista, poeta, pintor e ator – Caymmi compunha como ninguém sobre os hábitos, costumes e tradições da sua terra, a Bahia, e do povo baiano, tendo forte influência da música e da cultura negra, reforçando a ancestralidade africana.

Foi responsável por compor inúmeros sucessos que transformaram para sempre a história do nosso país. Além dos temas que retratava, suas canções eram poesia pura e dispunham de uma impressionante riqueza rítmica e melódica, tendo uma relevância imensa para a formação do que se chamou de música popular brasileira e influenciando uma geração de artistas que vieram depois.

Entre os seus principais sucessos estão grandes clássicos da MPB, como: O Que É Que a Baiana Tem? (que compôs aos 24 anos, em 1938 e que ganhou o mundo na voz de Carmen Miranda, em sua interpretação para o filme Banana da Terra, fazendo com que a Pequena Notável ganhar projeção internacional), Saudade da Bahia, Samba da Minha Terra, Vatapá, Você Já Foi à Bahia?, Só Louco, Suíte do Pescador, Doralice (parceria com Antônio Almeida), Marina, Maracangalha, Oração de Mãe Menininha, Modinha para Gabriela (feita especialmente para a novela Gabriela, inspirada no romance Gabriela Cravo e Canela, do também baiano e seu amigo Jorge Amado), A Lenda do Abaeté, É Doce Morrer no Mar (música sua para os versos de Jorge Amado), Saudade de Itapoã, O Mar e Rosa Morena, entre muitos outros.

Legado de Dorival Caymmi

Mas não foram só suas canções o legado deixado por Dorival Caymmi. Sua família tornou-se um verdadeiro caldeirão musical: seus três filhos – Dori, Danilo e Nana Caymmi – são nomes importantíssimos da nossa música brasileira – e suas netas Alice e Juliana seguiram o mesmo caminho.

Vamos conhecer um pouco mais cada um deles?

Nana Caymmi

Com 81 anos de idade, Nana Caymmi é a filha mais velha de Dorival. Seu berço musical fez aflorar muito cedo o seu talento esplendoroso para a música. Conhecida internacionalmente,

iniciou sua carreira artística nos anos 60 e tornou-se uma das maiores e mais expressivas vozes da nossa MPB.

Em 1960, iniciou sua carreira artística quando gravou a faixa Acalanto, de Dorival Caymmi, no LP do pai, que compôs a canção de ninar para ela quando era ainda criança. Ela e Dorival gravaram em dueto a canção.

Em 1966 venceu a fase nacional do I Festival Internacional da Canção, interpretando a canção Saveiros (de seu irmão Dori Caymmi e Nelson Motta). Desde então não parou mais: são mais de 30 discos gravados em mais de 60 anos de carreira.

Muito premiada, embalou a trilha sonora de diversas novelas, séries e minisséries e gravou canções de célebres compositores como – além de seu pai e seus irmãos – Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Se Todos Fossem Iguais a Você), Aldir Blanc (Resposta ao Tempo e Suave Veneno, parcerias com Cristóvão Barros), Ivan Lins (Mudança dos Ventos, parceria com Vitor Martins), Roberto e Erasmo Carlos (Não se Esqueça de Mim) e Milton Nascimento (Cais, parceria com Ronaldo Bastos).

Dori Caymmi

Filho do meio, Dori Caymmi tem 78 anos e é instrumentista, cantor, produtor musical, arranjador e compositor.

Iniciou seus estudos de piano aos oito anos de idade, e, em 1959, fez sua estreia profissional acompanhando ao violão a irmã Nana. Em 1960, tornou-se membro integrante do Grupo dos Sete (famoso grupo cênico liderado por Fernando Torres, em que compunha e executava música incidental para peças teatrais e teleteatros). Co-dirigiu e tocou violão nas antológicas peças Opinião (1964) e Arena Conta Zumbi (1966), trabalhos de transição estilística entre a Bossa Nova e a moderna MPB.

Sua canção Saveiros (parceria com Nelson Motta) venceu o I FIC (Festival Internacional da Canção), em 1966, defendida por Nana Caymmi. Seu primeiro disco solo é de 1972 e – desde então – já são mais de 20 discos lançados.

Dori foi produtor de discos de grandes nomes como Edu Lobo, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil. e Nara Leão, e é autor de sucessos como: Alegre Menina (parceria com Jorge Amado), Saudade de Amar e Desenredo (parcerias com Paulo César Pinheiro), De Onde Vens e O Cantador (parcerias com Nelson Motta).

Também foi diretor musical do seriado Sítio do Pica-Pau Amarelo, para o qual contribuiu com diversos arranjos e composições. Sempre foi ligado à literatura brasileira, pois seu pai foi amigo e parceiro de Jorge Amado.

Danilo Caymmi

Filho mais novo de Dorival Caymmi, Danilo Caymmi tem 74 anos e é instrumentista, cantor, compositor , arranjador e artista visual.

Começou a tocar flauta e violão na adolescência e Iniciou a carreira artística participando como flautista da gravação do disco Caymmi visita Tom, de seu pai, em 1964. cursou Arquitetura até o último período na FAU-RJ, tendo abandonado o curso quando sua canção, Andança (parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós) – interpretada por Beth Carvalho e Golden Boys – ficou em terceiro lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, tornando-se um grande sucesso.

Desde então, são quase 20 discos lançados, sendo autor de grandes sucessos como: Caminhos do Mar (parceria com o pai e com Dudu Falcão), Casaco Marrom (parceria com Guarabyra e Renato Corrêa) e Pé Sem Cabeça (parceria com Ana Terra).

Juliana Caymmi e Alice Caymmi

As cantoras e compositoras Juliana Caymmi (47 anos) e Alice Caymmi (32 anos) são filhas de Danilo Caymmi e – claro! – netas de Dorival.

Juliana também é filha da compositora Ana Terra e estreou como intérprete aos oito anos de idade, gravando algumas faixas do LP infantil Histórias do Céu e da Terra

Teve seu primeiro registro como compositora em 2001, no disco Desejo, da tia Nana Caymmi, que trouxe no repertório sua canção Seus Olhos, interpretada por sua irmã, Alice Caymmi.

Lançou, em 2010, o seu disco solo Para Dançar a Vida, contendo suas composições Porque sou Carioca (parceria com a mãe, Ana Terra) e O Tempo, além de Flecha de Prata (do pai, Danilo Caymmi), composta em homenagem à avó Stella Maris, esposa de Dorival Caymmi, que também era cantora.

Já Alice, começou a carreira aos 12 anos, gravando sua primeira música, Seus Olhos (composição de sua irmã), incluída no álbum da tia Nana Caymmi, Desejo, de 2001.

Mais tarde, lançou o seu primeiro álbum solo – Alice Caymmi – em 2012, e – desde então – já são cinco discos de sucesso lançados. Entre suas canções de destaque: Tudo o que For Leve, A Estação (Carlinhos Rufino), Eu Te Avisei (parceria com Bárbara Ohana e Pablo Bispo), Meu Recado (parceria com Michael Sullivan) Como Vês (Domenico Lancellotti e Bruno Di Lullo).