Setembro Amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio
Setembro Amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio
Estamos entrando hoje em setembro, mês em que – desde 2014, por uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) – acontece a campanha de conscientização Setembro Amarelo, para a prevenção do suicídio. Segundo o site oficial da campanha, são registrados cerca de 14 mil suicídios … Continued
Estamos entrando hoje em setembro, mês em que – desde 2014, por uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) – acontece a campanha de conscientização Setembro Amarelo, para a prevenção do suicídio.
Segundo o site oficial da campanha, são registrados cerca de 14 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de um milhão no mundo todo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens e, cerca de 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, que podem ser tratados.
Setembro Amarelo: O que dizem os dados
Para falar sobre o Setembro Amarelo, vamos aos dados sobre o tema. Segundo matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, em 17 de julho de 2022, o Brasil vive hoje a “2ª pandemia” na saúde mental, com uma multidão de deprimidos e ansiosos. O país adoece mentalmente, os suicídios sobem sem parar, segundo o Datasus, e matam mais que acidente de moto e que o vírus do HIV, na contramão do resto do mundo.
Também segundo o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, o total de óbitos no país por lesões autoprovocadas dobrou de cerca de sete mil para 14 mil nos últimos 20 anos, sem considerar a subnotificação. Isso equivale a mais de um óbito por hora.
Segundo a reportagem, a curva vai na contramão do resto do mundo, mas segue a tendência da América Latina, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), que atribui a piora à pobreza, à desigualdade, à exposição a situações de violência e ausência ou à ineficiência de planos de prevenção.
O psiquiatra Ricardo Nogueira, docente da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) e autor de dois livros e de um manual sobre prevenção ao suicídio, descreve o ato como o ponto final “dos seis Ds”: desesperança, depressão, desemprego, desamor, desamparo e desespero. Prevenir o suicídio é, então, prevenir o sofrimento mental em suas diversas formas. E não são poucas.
O leque de transtornos chega a mais de 300 tipos, segundo a classificação DSM 5, referência internacional criada pela Associação Americana de Psiquiatria. Mas os mais comuns são ansiedade e depressão, problemas que o Brasil conhece bem, como mostram diferentes pesquisas.
O Brasil é o país com maior índice de ansiosos no mundo, segundo a OMS
Um levantamento da OMS, em 2017, apontou o Brasil como o país com o maior índice de ansiosos do mundo (9,3% ou 18 milhões de pessoas) e o terceiro maior em depressivos (5,8% ou 11 milhões), muito próximo dos EUA e da Austrália (5,9%) —o órgão pondera que não se pode falar em ranking porque são estimativas.
Hoje, porém, esses números já estão longe da realidade. Os efeitos do luto, do medo e do isolamento pela Covid-19 foram explosivos nos últimos dois anos (apesar de o período não ter influenciado de forma significativa nos suicídios, especificamente). A última pesquisa mais abrangente, da Vital Strategies e da Universidade Federal de Pelotas, mostrou que os que dizem ter sido diagnosticados com depressão subiram de 9,6%, antes da pandemia, para 13,5%, em 2022.
A Associação Brasileira de Psiquiatria cita que um quarto da população tem, teve ou terá depressão ao longo da vida. “Estamos saindo da pandemia de coronavírus e entrando numa pandemia de saúde mental”, diz Nogueira.
Policiais e pessoas LGBTQIA+ estão entre os grupos em alerta
Entre os grupos em que acendem alertas sobre casos de suicídio estão os policiais e as pessoas LGBTQIA+. As chances de um jovem desse segundo grupo ter um transtorno mental é três vezes maior para ansiedade, duas vezes para depressão e cinco vezes para estresse pós-traumático, mostrou um estudo feito em escolas de São Paulo e Porto Alegre, em 2019.
Os adolescentes e jovens-adultos em geral são, agora, a maior preocupação no país e no mundo, com índices de mortes autoprovocadas disparando acima da média.
A OMS afirma que o suicídio é prevenível, recomendando quatro diretrizes principais aos países: dificultar o acesso aos principais métodos utilizados; qualificar o trabalho da mídia para que neutralize relatos e enfatize histórias de superação; expandir e fortalecer os serviços de saúde mental, capacitando profissionais para identificar casos precoces; e trabalhar habilidades socioemocionais nos espaços de ensino.
Setembro Amarelo: Onde procurar ajuda?
- Mapa Saúde Mental: Site que mapeia diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br
- CVV (Centro de Valorização da Vida): Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188 ou acesse www.cvv.org.br
O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano e a Novabrasil também quer dar voz a essa causa.
Entre na página oficial da campanha – www.setembroamarelo.com – e tenha acesso a todo o material disponível sobre o tema. Participando do Setembro Amarelo, você ajuda a salvar vidas: a informação correta direcionada à população é muito importante para orientar e prevenir o suicídio.
AmarElo, de Emicida
Em junho de 2019, o cantor e compositor Emicida lançou – junto com Pabllo Vittar e Majur – a canção e o clipe de AmarElo, que faz parte do último projeto do rapper, o álbum que leva o mesmo nome e que foi um dos trabalhos mais valiosos lançados nos últimos tempos no que diz respeito à música popular brasileira, aclamado pelo público e pela crítica.
A música e o clipe trazem uma forte e emocionante reflexão sobre o destino de quem luta contra a opressão – seja ela racista, classista ou de gênero – e sobre força, luta e resistência, reforçando a busca por igualdade, por meio da superação, cantando sobre acreditar em um amanhã melhor:
“A ideia é que as pessoas se enxerguem maiores do que os seus problemas”, conta Emicida.
Além disso, AmarElo traz também uma introdução marcante, que coloca em evidência a realidade de quem sofre com a depressão.
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Trata-se de um áudio real, que Emicida recebeu de um amigo que estava mal e que já tinha tentado se suicidar, e conta como está se sentindo e o que está sofrendo naquele momento: como não consegue se sentir realizado como ser humano e se encaixar neste mundo e como se sente cobrado diariamente, com medo de ter feito escolhas erradas.
No áudio, o amigo relata saber que a depressão é mesmo uma doença e que precisa ser enfrentada, com toda a ajuda necessária.
O artista conta que se identificou com vários momentos do áudio:
“Todos nós somos capazes de nos reconhecer em algum fragmento daquilo, se não em toda a fala. A dor tem a força de juntar todos nós”.
Em determinado momento da canção, Emicida conta que Hoje Cedo (uma de suas músicas de maior sucesso) “não era um hit, era um pedido de socorro”. O artista também revela em outro verso: “Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso”.
Ainda no meio da canção, que tem quase nove emocionantes minutos de duração, entra um trecho de Permita que Eu Fale, letra de Emicida que diz:
“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes. Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes, que nem devia tá aqui.”.
O sample que Emicida fez com Sujeito de Sorte, clássico do cantor cearense Belchior, vem para coroar a poesia da obra, que é uma lição de vida do início ao fim, em cada verso:
“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”.
Segundo Emicida, o nome “AmarElo” vem exatamente da ideia da conexão pelo amor, fazendo referência a Paulo Leminski: “Amar é um elo entre o azul e o amarelo”. Mas não é por acaso que AmarElo (mesmo nome da cor da campanha de conscientização do mês de setembro) traga também essa reflexão sobre as questões que envolvem a prevenção ao suicídio, o cuidado com a depressão e o olhar atento que precisamos ter para os transtornos de sáude mental.
Então, vamos nos unir neste elo de amor e ajudar a espalhar informações que podem ajudar – e muito – quem está precisando neste momento, trazendo um olhar de força e esperança. Como Emicida faz com a sua música. E que as linhas que Emicida põe no mundo, continuem a transformar vidas, realidades e destinos. Porque essa é a missão do artista.
Aliás, o álbum inteiro de Emicida é uma obra-prima! Em uma outra canção, Principia, o cantor fala sobre sua ancestralidade e sobre a escravidão, quando visitou o Museu da Escravidão, em Angola, e declara: “A minha missão, cada vez que eu pegar uma caneta e um microfone, é devolver a alma de um dos meus irmãos e das minhas irmãs que sentiram que um dia não teve uma.”