Estreado no ano de 2019, o álbum Planeta Fome de Elza Soares voltou para o sucesso carioca, relembrando seus dois discos anteriores com a voz do samba e do morro, que foi além dos estilos musicais com a bossa negra, que foi um alcance universal. 

No momento em que o disco saiu, a cantora já havia demonstrado que não iria abater-se a questões ligadas à misoginia, ao racismo, à obsolescência decretada pelas indústrias nos últimos anos e às tragédias da vida. 

Ao longo da matéria, você irá saber quem foi a mulher que marcou o nome da música popular brasileira, acompanhará um pouco da carreira da cantora Elza Soares ao longo de sua vida e entenderá o que foi seu último álbum “Planeta Fome”. Continue a leitura!

Saiba tudo sobre o último álbum de Elza Soares Planeta fome
Saiba tudo sobre o último álbum de Elza Soares Planeta fome. | Foto: Instagram.

Quem foi Elza Soares?

Seu nome completo era Elza Soares da Conceição. A artista nasceu em Moça Bonita, comunidade do Rio de Janeiro, em 1930, atualmente conhecida como Vila Vintém. Elza, filha de um operário e uma lavanderia, foi obrigada a se casar com 12 anos de idade, sendo mãe aos 13 e se tornou viúva aos 21. 

Seu jeito rasgado de cantar surgiu em razão das latas d’água que carregava durante a infância no trabalho como lavadeira e depois em uma fábrica de sabão. 

Após sua participação no programa “Calouros em desfile”, a artista deu início à procura por lugares para mostrar o seu talento. Finalmente, no ano de 1959, Elza conseguiu lançar o seu primeiro álbum, nomeado de “Se Acaso Você Chegasse”.

Conheça mais sobre a carreira da cantora Elza Soares

Desde o início, a música foi uma questão de sobrevivência para a artista. Foi em 1953 que ela procurou o programa de calouros de Ary Barroso para conseguir ganhar dinheiro para cuidar e sustentar Carlinhos, seu terceiro filho, que estava doente. No entanto, ela já tinha perdido outros dois filhos para a fome. 

Logo na primeira interação com o público e com o apresentador, a menina negra, magra e pequena ficou constrangida. Ela se apresentava no palco com um vestido emprestado da mãe, inclusive muito maior do que ela. 

No momento em que Barroso perguntou: “de que planeta você veio, menina?”. Certeira e potente em sua resposta, Elza não abaixou a cabeça e logo completou: “do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome”. 

E então, nasceu uma estrela. Elza deixou o palco com os fortes aplausos do público que a aplaudiu em pé com sua alta expressividade e potência. Ali, era só o início de uma carreira seguida por altos e baixos, pautada pela ousadia, ativismo, revolução e por sua meta de cantar até o fim. 

Mesmo com seu sucesso na rádio, Elza foi condenada tanto pela imprensa quanto pela sociedade por se relacionar com Mané Garrincha, ainda quando era casada, no ano de 1962. Logo após a Copa do Mundo, o jogador largou a esposa e assumiu Elza. Infelizmente, o relacionamento foi marcado pelas violências domésticas e pelo alcoolismo do parceiro.

Garrincha faleceu de cirrose hepática, um ano após a cantora pedir divórcio, em 1983. Um caso um tanto curioso foi que Elza morreu no mesmo dia que ele, só que 39 anos depois.

Já na década de 70, a artista e seu companheiro foram perseguidos pela ditadura militar, onde tiveram que se exilar na Itália por alguns anos. O motivo é que Elza não era bem vista por ter gravado um jingle para João Goulart, dez anos antes. 

Todo esse caos fez com que a cantora perdesse seu espaço no mercado brasileiro. Além disso, os anos seguintes foram muito difíceis para Elza, tanto pelas mortes de Garrincha e Garrinchinha quanto pelas dificuldades na carreira. 

Ela até pensou em desistir, mas em uma conversa com Caetano Veloso, os conselhos foram mais que suficientes para que a cantora voltasse a brilhar novamente. 

A cantora diversificou ainda mais suas produções musicais quando voltou com tudo nos anos 2000, conectando-se com gêneros como a eletrônica e o rap, que ressaltaram ainda mais o balanço e sua marcante voz rasgada. Entretanto, o álbum de 2015, nomeado de “A Mulher do Fim Mundo” marcou uma nova fase em sua carreira e a colocou como estrela de uma geração não vivida nas décadas de 70 e 80. 

Este álbum, por sua vez, foi premiado como o “Melhor Álbum de MPB” no Grammy Latino, em 2016. Além disso, foi considerado um dos melhores do ano pelo jornal “The New York Times”. 

Em seguida, Elza lançou o álbum “Deus é Mulher”, politizando com a mesma turma paulistana, só que dessa vez, mais mulheres participaram do time de compositores. Por fim, o último álbum de Elza Soares Planeta Fome, em 2019, contou com participações da banda Baiana  System e de BNegão. 

Durante sua carreira, Elza produziu 35 álbuns no total, nos quais a cantora diversifica entre o samba, eletrônica, jazz, hip hop e funks com aquele vozeirão rasgado – sua característica mais marcante desde as primeiras gravações. 

Embora tenha tido muitos altos e baixos ao longo de sua jornada pela música, Elza Soares vivenciou seus últimos anos de glória como a grande artista que sempre foi.

O último álbum de Elza: entenda “Planeta Fome”

O álbum representa mais uma obra vital de uma mulher que nunca foi ultrapassada pela época em que viveu e que não será ultrapassada por ele mesmo, agora que a artista já não se encontra mais entre nós.

O nome do single faz referência ao momento épico do programa de calouros de Ary Barroso, em 1953, em que o mesmo pergunta: “de que planeta você veio, menina?”. Certeira e potente em sua resposta, Elza não abaixou a cabeça e logo completou: “do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome”. 

Planeta Fome abrange diversos gêneros e influências musicais, mas preservando sempre o seu ritmo mais popular: um disco de rock. O álbum possui uma sonoridade mais direta, de uma forma descomplicada à mão de guitarras e corais, o que cria um ambiente em que a fluidez da música é tão importante quanto suas mensagens. 

A voz das canções exibem (com orgulho) os sinais de fragilidade e a prova de que ela foi uma mulher usada à exaustão para expressar uma mensagem que segue sendo fundamental. 

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