Até parece que Chico Buarque estava prevendo o que iria acontecer no ano de 2022, quando – lá em 1980 – compôs a canção E Se… ao lado de Francis Hime.
Em certa frase da música – que questiona o que aconteceria caso coisas improváveis acontecessem, como “O oceano incendiar, cair neve no sertão” ou “À meia noite o sol raiar” – Chico canta: “E se o carnaval cair em abril?”.
E não é que o improvável aconteceu? Depois de ser cancelado em 2021 -, por conta da pandemia de Covid-19 – o Carnaval de 2022 não mudou para o mês de abril?
Seguindo essa linha premonitória ou profética, selecionamos outras 5 canções em que os compositores – sem saber – previram o futuro!
1 – O Dia em Que a Terra Parou
Ainda falando sobre a pandemia de Covid-19, Raul Seixas nem imaginava que – lá em 1977 – escrevia uma canção (em parceria com Cláudio Roberto) que descreveria o exato momento em que o mundo inteiro parou em 2020, por conta da quarentena exigida pelos riscos da exposição ao Coronavírus. Ninguém imaginava, na verdade!
“O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar”
Foi exatamente assim e, até hoje, nós não voltamos a ocupar os lugares como fazíamos antes.
2 – A Mulher do Fim do Mundo
“Me deixem cantar até o fim, eu vou cantar”.
Há poucos dias, a rainha Elza Soares nos deixou órfãos de sua presença potente, falecendo de causas naturais, aos 91 anos de idade. Quando os compositores Alice Coutinho e Rômulo Fróes escreveram A Mulher do Fim do Mundo para Elza gravar em seu disco que leva o mesmo nome, de 2015, eles até imaginavam que a incansável artista passaria os últimos anos de sua vida cantando. O que eles não podiam prever é que acertaram em cheio que ela iria cantar realmente até o último segundo: Elza estava gravando um DVD, que será lançado ainda este ano, um dia antes de sua partida.
3 – Fico Assim Sem Você
A canção eternizada pela dupla Claudinho e Buchecha em 2002 – e depois regravada por Adriana Calcanhotto, em seu disco voltado para o público infantil Adriana Partimpim, de 2004 – foi composta pelo cantor Abdullah, como uma declaração de amor para a sua esposa, dois anos antes de ser lançada por Claudinho e Buchecha.
Abdullah fazia várias comparações do que seria sua vida sem sua amada, dizendo que seria como “Avião sem asa, fogueira sem brasa”, “Futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola”, “Amor sem beijinho, Buchecha sem Claudinho”.
Só que o autor da canção não podia imaginar que – no mesmo ano em que a dupla lançou a música – Buchecha ficou realmente sem Claudinho, vítima de um trágico acidente de carro que tirou sua vida e acabou com a dupla para sempre. Premonição muito trágica, essa aqui.
4 – A Cura
Quando Lulu Santos escreveu A Cura, em 1988, o seu maior desejo era que fosse descoberta a cura para a AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, uma doença que assolava o país e o mundo naquela época, sendo a primeira grande epidemia da segunda metade do século XX.
Lulu viu muitos artistas importantes, pessoas que ele admirava e até amigos próximos serem levados pela AIDS e escreveu a canção como uma forma de esperança de que houvesse uma cura para a doença.
Nos anos 1990, com os avanços das pesquisas e da medicina, a Aids passou de uma sentença de morte para uma doença controlável. Assim que surgiram os primeiros medicamentos para o HIV, o Brasil foi pioneiro em adotar políticas de tratamento gratuito e acessível a toda a população, transformando de vez a vida de quem convive com o vírus e trazendo sentido às previsões cheias de esperança de Lulu.
No final de 2020, a música voltou a fazer muito sucesso e tornou-se mais uma vez premonitória (foi até regravada por Lulu, junto com Vitor Kley!), com a descoberta da vacina para a Covid-19.
“Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura”
5 – Tudo Novo de Novo
E pra fechar com chave de ouro – a mais esperançosa ainda – canção Tudo Novo de Novo, de Paulinho Moska, que foi – inclusive – tema da campanha de Retomada na Novabrasil FM, em 2021, após o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, com a participação de diversos artistas da nossa música.
A canção traz a esperança de dias melhores – que já vieram e ainda virão! – e nos enche de otimismo de que será Tudo Novo de Novo. Que Moska esteja sempre certo!
“Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou
E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou
Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos”